Creatus est homo ad hunc finem,
ut Dominum Deum suum laudet,
revereatur, eique serviens tandem salvus fiat.

(O homem foi criado para este fim:
louvar, reverenciar, servir ao Senhor seu Deus,
e assim salvar a sua alma. Exercícios, Sto. Inácio, vol.I)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

I - Memória de uma manhã passada com Bento XVI

Foi com grande alegria quando, no dia 13 de Maio, cheguei ao Porto na esperança de, pela primeira vez, ver um Vigário de Cristo.
Ao outro dia saí bem cedo da casa da minha irmã, em Vila Nova de Gaia. Entrei no metro em D. João II e cheguei, sem complicações, a São Bento. Fiquei por ali à espera do nosso muito e bem amado Pedro. Aproveitei e arranjei um lugar bem bom para tirar fotografias. Ao meu lado estava uma Senhora que estava extremamente feliz não só por estar ali para ver o Santo Padre mas porque Nosso Senhor, sob a invocação do Divino Menino Jesus de Praga, curou o seu filho enfermeiro num hospital em Coimbra. Entretanto começou a chegar muita gente. Todos queriam ver Sua Santidade... Ameaçava chover...

terça-feira, 16 de março de 2010

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE O PAPA BENTO XVI PARA A QUARESMA DE 2010

A justiça de Deus está manifestada
mediante a fé em Jesus Cristo
(cfr Rom 3, 21–22 )

Queridos irmãos e irmãs,

todos os anos, por ocasião da Quaresma, a Igreja convida-nos a uma revisão sincera da nossa vida á luz dos ensinamentos evangélicos . Este ano desejaria propor-vos algumas reflexões sobre o tema vasto da justiça, partindo da afirmação Paulina: A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo (cfr Rom 3,21 – 22 ).

Justiça: “dare cuique suum”

Detenho-me em primeiro lugar sobre o significado da palavra “justiça” que na linguagem comum implica “dar a cada um o que é seu – dare cuique suum”, segundo a conhecida expressão de Ulpiano, jurista romana do século III. Porém, na realidade, tal definição clássica não precisa em que é que consiste aquele “suo” que se deve assegurar a cada um. Aquilo de que o homem mais precisa não lhe pode ser garantido por lei. Para gozar de uma existência em plenitude, precisa de algo mais intimo que lhe pode ser concedido somente gratuitamente: poderíamos dizer que o homem vive daquele amor que só Deus lhe pode comunicar, tendo-o criado á sua imagem e semelhança. São certamente úteis e necessários os bens materiais – no fim de contas o próprio Jesus se preocupou com a cura dos doentes, em matar a fome das multidões que o seguiam e certamente condena a indiferença que também hoje condena centenas de milhões de seres humanos á morte por falta de alimentos, de água e de medicamentos - , mas a justiça distributiva não restitui ao ser humano todo o “suo” que lhe é devido. Como e mais do que o pão ele de facto precisa de Deus. Nora Santo Agostinho: se “ a justiça é a virtude que distribui a cada um o que é seu…não é justiça do homem aquela que subtrai o homem ao verdadeiro Deus” (De civitate Dei, XIX, 21).

De onde vem a injustiça?

O evangelista Marcos refere as seguintes palavras de Jesus, que se inserem no debate de então acerca do que é puro e impuro: “Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro. Mas o que sai do homem, isso é que o torna impuro. Porque é do interior do coração dos homens, que saem os maus pensamentos” (Mc 7,14-15.20-21). Para além da questão imediata relativo ao alimento, podemos entrever nas reacções dos fariseus uma tentação permanente do homem: individuar a origem do mal numa causa exterior. Muitas das ideologias modernas, a bem ver, têm este pressuposto: visto que a injustiça vem “de fora”, para que reine a justiça é suficiente remover as causas externas que impedem a sua actuação: Esta maneira de pensar - admoesta Jesus – é ingénua e míope. A injustiça, fruto do mal , não tem raízes exclusivamente externas; tem origem no coração do homem, onde se encontram os germes de uma misteriosa conivência com o mal. Reconhece-o com amargura o Salmista:”Eis que eu nasci na culpa, e a minha mãe concebeu-se no pecado” (Sl. 51,7). Sim, o homem torna-se frágil por um impulso profundo, que o mortifica na capacidade de entrar em comunhão com o outro. Aberto por natureza ao fluxo livre da partilha, adverte dentro de si uma força de gravidade estranha que o leva a dobrar-se sobre si mesmo, a afirmar-se acima e contra os outros: é o egoísmo, consequência do pecado original. Adão e Eva, seduzidos pela mentira de Satanás, pegando no fruto misterioso contra a vontade divina, substituíram á lógica de confiar no Amor aquela da suspeita e da competição ; á lógica do receber, da espera confiante do Outro, aquela ansiosa do agarrar, do fazer sozinho (cfr Gn 3,1-6) experimentando como resultado uma sensação de inquietação e de incerteza. Como pode o homem libertar-se deste impulso egoísta e abrir-se ao amor?

Justiça e Sedaqah

No coração da sabedoria de Israel encontramos um laço profundo entre fé em Deus que “levanta do pó o indigente (Sl 113,7) e justiça em relação ao próximo. A própria palavra com a qual em hebraico se indica a virtude da justiça, sedaqah, exprime-o bem. De facto sedaqah significa, dum lado a aceitação plena da vontade do Deus de Israel; do outro, equidade em relação ao próximo (cfr Ex 29,12-17), de maneira especial ao pobre, ao estrangeiro, ao órfão e á viúva ( cfr Dt 10,18-19). Mas os dois significados estão ligados, porque o dar ao pobre, para o israelita nada mais é senão a retribuição que se deve a Deus, que teve piedade da miséria do seu povo. Não é por acaso que o dom das tábuas da Lei a Moisés, no monte Sinai, se verifica depois da passagem do Mar Vermelho. Isto é, a escuta da Lei , pressupõe a fé no Deus que foi o primeiro a ouvir o lamento do seu povo e desceu para o libertar do poder do Egipto (cfr Ex s,8). Deus está atento ao grito do pobre e em resposta pede para ser ouvido: pede justiça para o pobre ( cfr.Ecli 4,4-5.8-9), o estrangeiro ( cfr Ex 22,20), o escravo ( cfr Dt 15,12-18). Para entrar na justiça é portanto necessário sair daquela ilusão de auto – suficiência , daquele estado profundo de fecho, que á a própria origem da injustiça. Por outras palavras, é necessário um “êxodo” mais profundo do que aquele que Deus efectuou com Moisés, uma libertação do coração, que a palavra da Lei, sozinha, é impotente a realizar. Existe portanto para o homem esperança de justiça?

Cristo, justiça de Deus

O anuncio cristão responde positivamente á sede de justiça do homem, como afirma o apóstolo Paulo na Carta aos Romanos: “ Mas agora, é sem a lei que está manifestada a justiça de Deus… mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os crentes. De facto não há distinção, porque todos pecaram e estão privados da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, por meio da redenção que se realiza em Jesus Cristo, que Deus apresentou como vitima de propiciação pelo Seu próprio sangue, mediante a fé” (3,21-25)

Qual é portanto a justiça de Cristo? É antes de mais a justiça que vem da graça, onde não é o homem que repara, que cura si mesmo e os outros. O facto de que a “expiação” se verifique no “sangue” de Jesus significa que não são os sacrifícios do homem a libertá-lo do peso das suas culpas, mas o gesto do amor de Deus que se abre até ao extremo, até fazer passar em si “ a maldição” que toca ao homem, para lhe transmitir em troca a “bênção” que toca a Deus (cfr Gal 3,13-14). Mas isto levanta imediatamente uma objecção: que justiça existe lá onde o justo morre pelo culpado e o culpado recebe em troca a bênção que toca ao justo? Desta maneira cada um não recebe o contrário do que é “seu”? Na realidade, aqui manifesta-se a justiça divina, profundamente diferente da justiça humana. Deus pagou por nós no seu Filho o preço do resgate, um preço verdadeiramente exorbitante. Perante a justiça da Cruz o homem pode revoltar-se, porque ele põe em evidencia que o homem não é um ser autárquico , mas precisa de um Outro para ser plenamente si mesmo. Converter-se a Cristo, acreditar no Evangelho, no fundo significa precisamente isto: sair da ilusão da auto suficiência para descobrir e aceitar a própria indigência – indigência dos outros e de Deus, exigência do seu perdão e da sua amizade.

Compreende-se então como a fé não é um facto natural, cómodo, obvio: é necessário humildade para aceitar que se precisa que um Outro me liberte do “meu”, para me dar gratuitamente o “seu”. Isto acontece particularmente nos sacramentos da Penitencia e da Eucaristia. Graças á acção de Cristo, nós podemos entrar na justiça “ maior”, que é aquela do amor ( cfr Rom 13,8-10), a justiça de quem se sente em todo o caso sempre mais devedor do que credor, porque recebeu mais do que aquilo que poderia esperar.

Precisamente fortalecido por esta experiencia, o cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebem o necessário para viver segundo a própria dignidade de homem e onde a justiça é vivificada pelo amor.

Queridos irmãos e irmãs, a Quaresma culmina no Tríduo Pascal, no qual também este ano celebraremos a justiça divina, que é plenitude de caridade, de dom, de salvação. Que este tempo penitencial seja para cada cristão tempo de autentica conversão e de conhecimento intenso do mistério de Cristo, que veio para realizar a justiça. Com estes sentimentos, a todos concedo de coração, a Bênção Apostólica.

Vaticano, 30 de Outubro de 2009

BENEDICTUS PP. XVI

© Copyright 2009 - Libreria Editrice Vaticana

O meu testemunho é verdadeiro...



Era o ano de 1997. Era Inverno. Não me recordo o dia mas sei que era Sábado, porque era aos sábados que fazíamos a limpeza e outros trabalhos. Ameaçava chover. Nesse dia deram-me uma ordem. O padre director, um homem desprezível em todos os sentidos, dera-me a seguinte ordem: «queima todos os livros». Eu pensava que eram livros de ponto ou livros escolares que já não serviam mas, quando cheguei a um descampado junto ao campo de futebol deparei-me com este cenário: colegas meus descarregavam carrinhos de mão cheios de breviários antigos.

A ordem era eu queimá-los a todos. Senti-me triste… eram dezenas, cerca de uma centena e meia. Comecei a rasgá-los e ao mesmo tempo a conhecê-los… As capas eram em couro trabalhado e as folhas com tons ora encarnados ora dourados. Alguns, já meio destruídos pelo desprezo a que foram voltados desde a reforma litúrgica dos anos 70 e 80. Meios podres devido à humidade, meios comidos, porém, alguns ainda em bom estado. “Queima tudo”, assim ecoava a voz do padre. Conforme ia rasgando e queimando deparei-me com as imagens desses livros: Cristo crucificado, Nossa Senhora…

Passados uns minutos veio um colega ajudar-me. Então começamos a poupar as páginas com as imagens. Mas o que fazer a tantas? Lá tivemos que queimá-las também. Felizmente ainda guardei uma, uma imagem de Cristo crucificado que infelizmente perdi. (As imagens que eu mais gosto são a do Sagrado Coração de Jesus e Jesus Crucificado.) Começou a chuviscar e fomo-nos embora. Ali estiveram meios a arder e a apanhar a chuva. Ao outro dia ouvi um dos maiores raspanetes da minha vida: «Não te disse que era prós queimar a todos»? O padre parecia endemoninhado porque muitos livros, como é óbvio, não arderam. Felizmente não lhe deu para me bater, como já o tinha feito várias vezes. E assim fui feito executor do inquisidor da Igreja. Queimei os livros do Índex Católico… Hoje arrependo-me de o ter feito e de não ter ficado com alguns…

Passados uns tempos fui destacado para ajudar um sacerdote a organizar os arquivos do seminário. À hora marcada tinha de estar junto da biblioteca “proibida”. Eu chamava-lhe proibida porque não podíamos entrar lá. Mas um dia levaram-nos lá. Havia livros muito antigos mas não nos deixaram tocar ou aproximar deles.

À hora marcada tinha de entrar por um corredor, subir as escadas até ao último andar e esperar lá pelo sacerdote. Acontece que um dia fui mais cedo. Sentei-me no último degrau à espera dele e vi um armário meio aberto. Fui lá, abri a porta e puxei uma gaveta do interior do móvel. Estava lá um dos paramentos mais bonitos que já vira. Era vermelho!... Só o vi a ser usado uma vez. Nunca mais me foi permitido aceder a esse espaço até porque a minha função já tinha terminado. O meu trabalho nos arquivos consistia em ajudar o sacerdote idoso a carregar os livros de ponto e a organizá-los numa estante. Deparei-me com inúmeras fotografias em que se via o clero com batina e cabeção assim como era o dia-a-dia do seminário naquele tempo.

Desde então comecei a perceber que tinha existido uma outra Igreja. Uma Igreja completamente diferente daquela que existe hoje. Dei-me conta porque fui descobrindo-a por estas pequeninas coisas e comecei a juntar 1+2. Naquele tempo não imaginava o que era o Rito Tridantino, só sabia que antigamente se rezava a Missa em Latim e pensava que a Missa de “hoje” (ou novus ritus), era igual à Missa de ontem excepto na língua. Que os padres usavam a batina. Não sabia o que era a sobrepeliz ou o tricórnio e muito menos o que era a alva antiga ou o amito. Não percebia porque razão havia altares colados às paredes e outro no meio da capela-mor, não sabia para que servia aquelas duas casinhas no fundo da capela, mais tarde fiquei a saber que eram confessionários e para que serviam. Não sabia porque razão, na porta sacristia que dava para a capela havia uma pia de água benta e tantas outras coisas.

Com o passar dos tempos comecei a descobrir muita coisa, sobretudo quando comecei a dar catequese e a fazer a minha própria investigação. Mas é com certo orgulho que digo que o que eu sei hoje, sobretudo na área da liturgia, fui adquirido fora do seminário e na minha relação de amizade com o meu antigo pároco que me falava do seu tempo de seminarista e de jovem padre e das velhas recordações que guarda desse tempo como os breviários em latim, dos livros, a Suma Teológica em latim, os cadernos, as fotografias e tantas outras coisas algumas que me deu como os Sermões de Sto. António em latim.

Nunca fui a uma Missa Tridentina... Espero um dia ter essa graça de Deus... Quem sabe, presidi-la pois nunca deixei de sentir o chamado de Deus. Gostava de ser Sacerdote, mas não do mesmo modo que muitos são nesta Igreja nascida do C. V. II

Saí do seminário em 1997.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Missa Sacrílega - I


XXXV - Meditação

A Missa sacrílega: Só a enunciação deste etentado faz estremecer a um homem de fé.


I. Por causa da multidão e enormidade dos pecados que encerra.
II. Por causa das horríveis criscunstâncias, que o acompanham.

I. Quantos pecados em uma Missa sacrílega, e que pecados! - Um padre, que ousa celebrar em estado de pecado mortal, sciens et volens, não comete somente um sacrilégio, comete quatro, diz Sto. Afonso Maria Ligório, de espécies inteiramente distintas: consagra, sendo inimigo de Deus, o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo: primeirosacrilégio; recebe, estando morto e manchado, um sacramento de vivos e o mais santo dos sacramento: segundo sacrilégio; administra-o a um indigno, quando o seu cargo de guarda das coisas santas o obriga a recusá-lo: quarto sacrilégio: Indigne conflicit, indigne sumit, indigne ministrat, ministrat indigno (Theol.mor.1.Vol,n.35) Por conseguinte infringe quatro obrigações diferentes, que lhe impõe sub gravi a virtude da religião.
Neste assunto os Santos Padres e os intérpretes exprimem-se com terrível energia. Cada um destes sacrilégios, dizem eles, é uma espécie de violência, que o profanador faz a Jesus Cristo, abusando indignamente da sua paciência e do poder que lhe deu sobre a sua pessoa (S. Cypr. Lib. de Lapsis) et Math.XXXVI,50). Como Judas, ele finge que ama o divino Mestre, a que atraiçoa: Amice, ad quid venisti? (MathXXXVI,50) (Amigo, ao que vieste?) - Dicit Amice, improperans simulationem (Orig. Tract.33 in Math.). Que horrenda hipocrisia! Parecendo adorar o Salvador, dá-lhe a morte, quando é da sua parte: Qui indigne abuntur communione mysterii, quandum in ipsis est, interimunt quem adorant (S. Chrys. Homil. 7 in Math.) O seu crime excede o dos judeus. Eles crucificaram Jesus Cristo, enquanto estava na terra e sujeito à morte; o padre sacílego atenta contra a sua imortalidade, e vai atacá-lo até no céu, no seu trono: Gravius peccant offerentes indigne Christum regnantem in coelis, quam qui eum crucifixerunt ambulantem in terris (S. Aug.). Que pérfida crueldade! que ímpia audácia!
O homem mais irreligioso tremeria só com o pensamento de tocar no Santíssimo Sacramento com as mãos enloadas: Quis adeo impius ut lufosis manibus Sacratissimum Sacramentum fractare praesumat? (Ibid) Ah! Quanto mais sensível é ainda o Filho de Deus à ofensa que lhe faz um padre profanador! Que lodo pode desagradar-lhe tanto como o pecado? Depois de uma queda vergonhosa, aproxima-se do altar para ali pronunciar as fórmulas sagradas, e exercer um ministério que exigiria à pureza dos anjos, é cuspir no rosto do Salvador (Quia sacra illius verba sacramenti ore immundo profert, in faciem Salvatoris spuit. -Petr. Bles. Serm.38), é poluir o Seu Corpo (Polluimus Corpus Christi, quando indigne accedimus ad altare. - S. Hier. in cap. Malach.), é cála-Lo aos pés (S. Ambr, in Epist. ad. Herb.c.X), é lançar o Seu Sangue num charco imundo. Ó execrável malvadez! Quantum flagitium in spurcissimam pectoris tui cloacam Sacratum Christi Saguinem profundere! ((S. Thom. a Villanov. de Sacr.c. III).
São Cirilo da Alexandria, explicando estas palavras de São João: Post buccellam introivit in eum Satanas, exclama: Que homem aquele, que acaba de receber em seu coração satanás e a Jesus Cristo! A satanás, para nele o fazer reinar, e a Jesus Cristo para nele o fazer sofrer! A satanás a quem dá um império absoluto, e a Jesus a quem o crucifixa! A satanás que ele antepõe a Jesus, ea Jesus que apresenta a satanás, como vítima que lhe sacrifica!
Concluamos que, dizer missa em estado de pecado mortal, é cometer o maior de todos pecados: Nemo deterius peccat, quam sacerdos qui indigne sacrificat (Ibid). Nullus gravius convincitur pecarre, quam presbyter, qui, dum indigne ministrat, quantum ad se, salutaris victimae sacramenta contaminat (S. Petr. Dam. Opusc.XXVI).

R.P. Chaignon em O Padre Santificado pela Oração ou Meditações Sacerdotais (Cap. XXXV)


O Lirvo da Confiança

Alguns anos atrás chegou às minhas mãos um livrinho intitulado "O Livro da Confiança" de Thomas de Saint-Laurent. Thomas é oriundo de uma antiga família francesa (sul), nascido no dia 7 de Maio de 1879. Morreu em 1949 em Uzès. Durante toda a sua vida escreveu uma grande actividade apostólica distinguindo-se como pregador. Em 1909 foi escolhido para pároco de Santa Perpétua em Nimes. Foi capelão da Juventude Católica, em 1920 foi nomeado cónego da Sé-Catedral de Nimes e cinco anos depois capelão do Carmelo de Uzès, tendo exercido muitos outros cargos. Doutourou-se em Teologia e licenciou-se em letras tendo sido ainda autor de uma vasta obra espiritual e pedagógica. Publicou vários livros sobre psicologia que o fizeram famoso, "Autocontrolo, a chave para o sucesso", Como livrar-se da Timidez", "Método Progressivo e completo da cultura psíquica", sendo este último um autêntico best-seller, traduzido para várias línguas como o inglês, alemão, espanhol e outras. Em relação à espiritualidade destaco entre outros "A Virgem Maria" (Livraria Civilização Editora), "Almas de Santos" e o Livro da Confiança, editados em Portugal e em muitos outros países. Este livro, "O Lirvo da Confiança" estimula todo o cristã a confiar em Deus e nos seu desígnios, a prática da virtude. Escrito de forma simples e clara, para que todos o percebam, O Presbítero expõe os fundamentos e os efeitos da virtude, falando directamente às almas, fazendo-as sentir-se confiantes, sacudindo a alma até dos cristãos mais incrédulos.

«Leitor piedoso - diz o sacerdote - se alguma vez este modesto livrinho te cair nas mãos, não o ponhas de parte com desdém. Não pretende ele nem encanto literário nem originalidade. Contém, apenas, verdades consoladoras que colhi nos livros inspirados e nos escritos dos Santos.
"Tenta lê-lo devagar, com atenção, em espírito de oração. Quase diria: media-o! Deixa-te penetrar docemente pela sua doutrina. A seiva do Evangelho palpita nestas páginas; haverá para as almas melhor alimento do que as palavras do Salvador?
"Que, ao acabar esta leitura, te possas confiar totalmente ao Mestre adorável que tudo nos deu: os seus tesouros, o seu amor, a sua vida, até à ultima gota de sangue!..."»

Espero que o Leiam que que vos seja muito útil. Podereis comprar este livro na "Livraria Civilização Editora, Rua Alberto Aires de Gouveia, 27 - 4050 Porto.

sábado, 12 de setembro de 2009

EM FÁTIMA – LIBERTAÇÃO E CONVERSÃO

De entre os que, de boa ou má fé, saem da Santa Igreja Católica Apostólica Romana para se passarem às heresias protestantes, só Deus e Nossa Senhora sabem porque fui chamado à graça sem par da conversão.
Tudo quanto eu posso afirmar é que a minha boa e saudosa mãe chorava e rezava por mim! Era uma mulher muito piedosa e foi fiel como uma verdadeira cristã. Eu tentei levá-la enganada ao «culto» da minha seita. Ela, porém, tendo percebido logo do que se tratava, repeliu sem remissão a heresia. Mas não abandonou a minha alma! Com fé, voltou-se então para a oração persistente e confiante. No seu trabalho caseiro e pelos caminhos, rezava o «terço» continuamente. De certo, as suas lágrimas e orações subiram ao Céu, comovendo o Coração da Mãe das mães!
«O Espírito sopra aonde quer» e a graça de Deus é invencível. Assim foi dominado este encarniçado hereje pela bondade e poderosa intercessão de Nossa Senhora, alcançando-me de Seu Divino Filho a salvação e a paz.
E foi numa daquelas peregrinações que eu tanto amaldiçoava, organizada por almas generosas e cheias de fé, e que assim foram, de certo modo, recompensadas!
Continuando a minha história, chego ao ponto em que me encontrei empregado na Sociedade de Vinhos do Porto Constantino. Os meus patrões, Srs. Fernando Moreira de Almeida e Fernando Maria Guedes de Almeida, seu filho, são pessoas sinceramente religiosas.
Em Junho de 1953, resolveram levar todo o Pessoal, por conta da Casa, em peregrinação a Fátima, no dia 13. quanto a mim, aceitei a ideia radiante, tanto mais que «o passeio» (como eu lhe chamava a rir...) era de graça. E formei logo um plano: espalharia a minha propaganda herética no seio da própria peregrinação! Tencionava exercer nos meus companheiros toda a influência contrária à Fé Católica que eu pudesse. Ao mesmo tempo, de tudo o que visse na Cova da Iria, esperava encontrar motivo para depois «pregar» contra Fátima. Estava seguro do êxito dos meus maus propósitos e, portanto, incorporar-me-ia muito satisfeito na peregrinação.
Ora, Deus escreve direito por linhas tortas!...
Como preparação, houve uns dias de pregações por um Religioso Franciscano.
Ouvi dizer, nessa ocasião, que «ninguém vai a Fátima com as mãos vazias». Mal imaginava eu, que zombava escarninho de tudo aquilo, que as havia trazer, de facto, cheiinhas a transbordar!...
Como é costume, partimos no dia 12. Fomos percorrendo os lugares já consagrados, como Santa Maria de Alcobaça e Santa Maria da Vitória, «a Batalha». Estes dois templos grandiosos foram erguidos pela fé dos nossos Antepassados e são o assombro de todos quantos visitam. Aquelas pedras gloriosas exaltam os feitos patrióticos e a perseverante Fé Católica da Nação Portuguesa, sempre unida às maiores e mais puras glórias. Porém, eu sentia-me desligado da Fé e, portanto, da História da minha Pátria... e foi ali mesmo que, pelo contrário, eu senti mais ao vivo o meu fanatismo demoníaco e protestante, e assim o demonstrei. Olhava para o que me rodeava com desdém e raiva. E, na ânsia de amesquinhar todos aqueles belos e eloquentes testemunhos da nossa Fé secular, criticava tudo com acinte desprezo, escarnecendo de quanto ali representa a Santa Religião em que nasceu Portugal.
Ria-me e fazia rir os meus companheiros deprevenidos, ou sem convicções firmes. Outros, porém, aborrecidos com a minha atitude, afastavam-se ou ameaçavam queixar-se aos nossos chefes, o que, aliás por bondade, não fizeram.
Mas eu é que não podia calar!
Conforme, depois, íamos subindo a montanha bendita de Fátima e eu avistava os cruzeiros da Via-Sacra, enchia-me de tremenda fúria contra o sinal da cruz.
Na camioneta, sem me calar um momento, continuava sempre com a propaganda escarninha e demolidora. Tentava por todos os meios tirar aos meus companheiros a pouca ou muita fé com que eles se aproximavam do lugar abençoado da Visitação de Nossa Senhora a Portugal e ao Mundo!
Chegámos ao Santuário pelas vinte horas. As nossas camionetas pararam junto da Praceta de São José. Logo ali apareceu um rapzazinho a apregoar «velinhas». Então, no meio de muita galhofa, comprei uma, que havia de ficar memorável!...
Em seguida ao jantar, todos nos reunimos ao Sr. Fernando Moreira de Almeida e sua Ex.ma Esposa, a Sr.a D. Maria Leonor, ambos Servitas de Nossa Senhora. M éramos mais de duzentas pessoas, com as nossas famílias. Eles aguardavam junto da Capelinha das Aparições para distribuirem gratuitamente as velas aos que as quisessem.
Entretanto, principiou a reza do «terço».
Eu continuava, agora em voz baixa, a zombar de tudo. O locutor do Santuário anunciou que se ia formar a procissão. Os carrilhões da Basílica guiavam o povo nos lindo cânticos de Fátima. Apareceram as primeiras luzinhas trémulas e, daí a pouco, era um mar de luz que alastrava!...
Eu estava convencido de que Fátima era uma mentira. Não podia sequer imaginar o que ali via gora com os meus olhos espantados! Fiquei furioso contra a multidão dos Fiéis. Tinha ânsias de desatar a descompor e a correr à pancada dali para fora toda aquela gente! A minha raiva crescia e subia como maré viva. Quando ouvi anunciar a saída do andor com a Imagem de Nossa Senhora de Fátima, comecei a tremer de violenta e mal contida ira.
De repente, avistei-a! Julguei enlouquecer de ódio! É indiscritível o furor que então me assaltou. Parei louco de raiva! Terríveis blasfemeas saíram da minha boca por entre os dentes cerrados. Fechei os punhos convulsos e encarei-a com verdadeiro e satânico ódio pessoal. De certo, já fui contido pelo poder divino e, só assim, não me atirei a ela para a desfazer com as mãos e os dentes, como diabólicamente me apeteceu!
O Inferno odeia Nossa Senhora! Para ele é a Inimiga desde o Princípio (Gen.3,15). Naquele lugar Ela é a vencedora, aclamada em todo o Mundo, desta grande Batalha de Deus, que é Fátima no nosso tempo apocalíptico! A Mulher bendita - «terrível como exército em ordem de batalha» - ali veio trazer a Mensagem que, mais uma vez, congrega os Filhos de Deus para o Bom Combate, vivificando a Fé, renovando a Esperança e tudo abrasando na Caridade.
Outrora o Povo Escolhido devia ver nas imagens de ouro dos Querubins (mandadas colocar por Deus na Arca da Aliança) o símbolo da reverência devida à Glória do Altíssimo, manifestada do meio das asas estendidas (Ex.25, 18-22).
Certamente que, na branca imagem da Virgem Mãe do Messias – Arca da Nova Aliança – o Inimigo há-de ver o sinal da Presença, na Glória de Seu Filho, d’Aquela que, por Ele, lhe esmaga a cabeça.
E naquele terrível instante terá sido, então, pressentida a grande e próxima derrota que lhe ia ser infligida pelo poder misericordioso da Senhora, porque aqueles momentos foram realamente demoníacos e medonhos. Eu atingira a curva máxima do meu ódio!
Quando deles me lembro, ainda sofro!
Bendita seja Nossa Senhora que nos perdoou tão generosamente! Bendita seja!
Entretanto, obedecendo à voz do locutor, a procissão ia-se formando e nós começámos a caminhar todos juntos. Os meus companheiros trataram de acender as suas velas.
Com os nossos bons patrões à frente, seguíamos perto do andor. Era um espectáculo comovente! Mas eu, raivoso de despeito, não cessava de escarnecer e rir. Para evitar de dar nas vistas do meu chefe, resolvi divertir-me e acender também a minha luz, dizendo sempre mil graçolas blasfemas. Voltei-me, pois, para um dos meus colegas e acendi na dele a minha vela.
E começou aqui o prodígio:
No mesmo instante em que, depois de acesa, a endireitei, ela apagou-se de repente! Pedi a outro e tornei a acendê-la, risonho e irónico. Num ápice, voltou a apagar-se.
Comecei então a teimar muito divertido, terceira, quarta e quinta vez, mas já um tanto enervado... contudo, continuava a rir e a galhofar, dizendo que «se calhar eu fora burlado e a minha vela não era igual à dos outros!» Pois se, de cada vez que eu a acendia, via brilhar a chama muito viva, e em seguida extinguir-se, de súbito, misteriosamente! Era mesmo como se apagassem! Que significava aquilo?!
O tempo estava sereno e eu, olhando à minha volta e junto de mim, avistava ao longe e ao perto as velas acesas de toda aquela multidão, que brilhavam na noite como estrelinhas em prece. Ah! Mas eu não desisteria!
Querendo mostrar-me forte e seguro, apesar de as mãos me tremerem um pouco, ria-me e teimava sempre! Comecei assim a pedir lume a uma e outra das pessoas que passavam ao meu lado a cantar, comas as suas velinhas a brilhar.
Enquanto eu parava um instante para acender a minha luz – e ela se apagava de maneira tão insólita! – os meus companheiros já iam longe...
E eu sempre a acender a minha vela! E ela a apagar-se inexplicávelmente! Parecia que lhe sopravam!
Perdi a conta do número de vezes que a acendi e vi extinguir-se de forma tão extranha a chama viva! Despeitado e escarninho, teimei enquanto pude. Por fim, já não me ria... pois principiei a reparar, desconfiado e espantado, que afinal, aquilo só a mim acontecia!
Do fundo da minha consciência parecia querer subir um aviso silencioso...
Precisamente quando eu começava a sentir-me abalado, aconteceu o pior: todo o meu corpo foi como que «aprisionado», sacudido por um estremeção e trespassado por frio de morte. Ao mesmo tempo, começou a correr-me da cabeça aos pés um copioso e gelado suor!
Assombrado e aterrado, deitei as mãos à cabeça: tinha os cabelos duros, inteiriçados e em pé! Perguntava a mim mesmo, transido de pasmo, o que seria aquilo?! Só então, no meio de grande perturbação, é que desisti de acender a minha vela.
Na maior ansiedade, procurei com um olhar aflito os meus companheiros, para me ajuntar a eles e buscar amparo. Avistei, lá longe, o andor branco da Senhora... Lembrei-me logo de que eles deviam ir ali pertinho d’Ela! Quis ir também!...
Mas foi então que experimentei o maior terror da minha vida: assim que este pensamento salvador despertou na minha mente, caiu sobre mim, bem em cima dos meus ombros, um «peso» insuportável! Eu queria ir... mas, conforme levantava um pé (ou tentava levantá-lo) para caminhar ao encontro de Nossa Senhora, o terrível «peso» era cada vez maior e, com incrível força, prendeu-me ao chão! Todo a tremer, banhado em suores frios, com a língua enrolada dentro da boca endurecida, sentia-me sucumbir debaixo daquele medonho «peso» e aprisionado num laço implacável. Ao mesmo tempo, todo o meu ser, físico e intelectual, era trespassado por uma indiscritível e pavorosa agonia!
Cheio de terror, quis gritar. Julguei mesmo que gritava a pedir socorro, mas ninguém me ouvia, nem via o que me estava a acontecer! Eu ficara ali, no meio de tanta gente, «aprisionado» e «mudo»!...
A procissão era um sereno rio de luz, na noite escura e branda. Os peregrinos, com velas acesas diante dos rostos felizes, passavam rezando e cantando, com os olhos postos na suave Imagem da Senhora das pombas brancas... Desviam-se pacientemente de mim e continuavam sempre em frente!
E eu a debater-me, ali, angustiado, a lutar desesperadamente na minha pobre alma prisioneira, para me libertar daquela «prisão»! o meu sofrimento era atroz! Nunca me esquecerei. Ainda hoje estremeço quando nele penso! Posso afirmar que sentia e ouvia ranger os meus ossos. Tais eram os esforços sobre-humanos que fazia para me mexer e livrar daquela terrível prisão. Mas uma «força» incrível chumbava-me ao chão! E tudo foi inútil!
Não pude alcançar Nossa Senhora no seu andor branco e florido!
Jamais encontrarei as palavras próprias para dar uma pálida ideia do que sofri e do meu terror naqueles momentos!
Contudo, e apesar disso, eu ainda blasfemava, agora só em pensamento, porque não podia falar.
Debatendo-me naquela medonha alição e esmagado sob o insólito «carrego», comecei por fim a lembrar-me vagamente de que aquilo tudo podia ser castigo...
Mas, então, é porque eu estava enganado e ali é que se encontra a VERDADE?!
Teimosamente resisti a este salutar pensamento! Apeguei-me com desespero aos erros antigos e ao desprezo que aprendera a sentir no protestantismo pela Mãe do Senhor!
E, no meio desta espantosa luta, esforçava-me em vão por fugir! Essa era a minha ânsia. Fugir dali!
Mas como, se eu estava «preso» e esmagado debaixo daquele «carrego» insuportável? Raciocinava, mas não era senhor dos meus movimentos. Oh! Que pavorosos momentos.
Lá longe, voltada agora de frente para mim, Nossa Senhora regressava em triunfo e rodeada de veneração e amor, à sua humilde Capelinha...
E foi então que senti, de súbito, que uma força poderosa e incrível me fazia virar para a Basílica, impelindo-me para a frente! Conheci que podia, enfim, fugir «àquilo» que pesava como chumbo sobre os meus ombros! fugir,gora só em pensamento, porque não podia falar.
Debatendo-me naquela medonha aflição e esmagado sob o insólito «carrego», comecei por fim a lembrar-me vagamente de que aquilo tudo podia ser castigo...
Mas, então, é porque eu estava enganado e ali é que se encontrava a VERDADE!?
Teimosamente resisi a este salutar pensamento! Apeguei-me com desespero aos erros antigos e ao despreezo que aprendera a sentir no Protestantismo pela Mãe do Senhor!
E, no meio desta espantosa luta, esforçava-me em vão por fugir! Essa era a minha ânsia. Fugir dali!
Mas como, se eu esva «preso» e esmagado ddebaixo daquele «carrego» insuportável? Raciocinava, mas não era senhor dos meus movimentos. Oh! Que pavorosos momentos!
Lá longe, voltada agora de frente para mim, Nossa Senhora regressava em triunfo e rodeada de veneração e amor, à sua humilde Capelinha...
E foi então que senti, de súbito, que uma força poderosa e invencível me fazia virar para a Basílica, impelindo-me para a frente! Conheci que podia, enfim, fugir «àquilo» que pesava como chumbo sobre os meus ombros! Fugir, alcançar um refúgio, libertar-me! Comecei a andar...
Tomando de grande aflição, vi-me a atravessar o Santuário... mas, conforme me aproximava da Basílica – ia para lá como que conduzido, sem pensar nem querer! – o meu andar tornava-se mais fácil...
Ao chegar à escadaria já a pude subir quase a correr. Meti como uma seta pela Basílica dentro, sempre a direito, como levado por vigoroso e irresistível impulso, e szó parei diante do Altar-mor, do lado do túmulo do Francisco, onde caí, enfim, de joelhos! Ali fiquei longos minutos, todo trémulo, com olhar vago, sem saber onde estava.
Poré, aquele horrível «peso» e aquela estranha «prisão» mostravam agora uma espécie de fraqueza... soltava-se-me a língua e eu balbuciei algumas palavras enquanto começava a ter consciência de tudo o que me rodeava e do que via...
E foi então que os meus pobres olhos dilatados de angústia... depararam com a bendita imagem da Senhora, ao lado do Altar. Súbitamente lúcido, fitei-A assombrado... e, (não me atrevo a afirmá-lo!) pareceu-me que a via sorrir-se para mim! E esse instante fiquei livre e completamente mudado.
Sim, foi nesse minuto de graça que eu senti a alma liberta do véu espesso do erro e o corpo daquela «prisão» maligna. Num relance dera-se o prodígio... apesar do meu ódio protestante contra as santas imaggens! A lição é digna de ser meditada...
A tremer, comovido, eu não tirava o olhar deslumbrado dAquele «Sinal» da misericórdia divina, sentindo que nascia de novo. Agora, o meu coração era manso e humilde, e eis que a orgulhosa cerviz do hereje se abatera diante d’Aquela que tanto desprezara e que todas as gerações aclamarão Bem-aventurada, pois o Omnipotente obrou n’Ela grandes maravilhas (c.f. Luc.1,48-49)
Ali, diante do Santíssimo Sacramento, e pelo poder e bondade de Nossa Senhora, terminou aquela temerosa batalha em que eu me sentiria como que disputado por duas forças e, por fim, ganho pela mais poderosa.
é certo que eu tinha ainda muito que sofrer! Porém, tudo o que depois me aconteceu e eu conto adiante, já não conseguiu vencer-me. Não passou duma nova tentativa, que afinal se transformou num «aguilhão» salvador.
Aquele foi, sem dúvida, o momento culminante da monha conversão.
Depois de libertado, eu só tinha um desejo: alcançar o perdão da Senhora!
Com a alma trespassada pela graça divina e iluminada por uma luz sem par, vi, dolorosamente contrito, quanto havia odiado, blasfemado e ofendido a Mãe do Senhor e nossa Mãe! Ai de mim! Não encontro palavras para contar a minha dor! Com os olhos rasos de lágrimas e as mãos erguidas para a Sua doce imagem, cheio de temor e arrependimento, comecei a dizer à Soberana Rainha do Rosário de Fátima:
«Oh! Nossa Senhora!! Oh! Senhora de Fátima! Eu odiei-Te durante muitos anos. Agora sei que tenho andado enganado. Aqui estou a pedir-Te perdão de tudo, e de quanto disse na viagem e na procissão das velas. Mas como hei-de pedir-Te perdão? Como posso merecer que me perdoes?!»
Era eu próprio que, medindo pelo passado a minha culpa, me julgava indigno do Seu perdão!
Lágrimas irreprimíveis corriam-me pelas faces esmaecidas. Eu até falava alto na minha dor e no meio daquela boa gente, toda ocupada na sua devoção... e já habituada aos prodígios de Fátima! Em dado momento, atemtei nos dizeres da placa de mármore sobre o t´´umulo de Francisco e assim fiquei a conhecer. Vi que muitas pessoas ali rezavam, acendendo as suas velinhas e logo me lembrei da que ainda conservava na mão. Receoso e comovido, acendia-a também... Vendo-a brilhar, fui colocá-la a um canto, no túmulo do Pastorinho...

E ali fiquei a vê-la arder, agora tão sereninha e viva como as outras!
Voltei-me freverosamente para FRancisco e pus-me a rezar com muita fé:«Roga a Nossa Senhora que me perdoe, porque para sofrimento já chega!(Eu ligava, por intuição os factos e referia-me ao tormento pavoroso que passara com aquela terrível «prisão» e mortal agonia). Eu não sei se terei perdão, mas tu bem sabes que tenho três filhos por baptizar! (O mais velhinho ainda fora baptizado na Santa Igreja, mas os três últimos «baptizara-os» na seita. Naquele momento eu sentia que esse baptismo nada valia...). Tenho também de resolver a minha situação casando-me!» («casara-me na seita...). Aflito e ansioso suplicava-lhe que me ajudasse e, na minha perturbação, cheguei a pedir-lhe:«Olha, se ando bem (no protestantismo) deixa-me andar! Mas se não ando, como agora sei, então faz com que eu não possa descansar enquanto não voltar aqui o mais depressa que poder, já para o mês que vem.»
Naquele momento, confusamente, eu pressentia um perigo e tinha receio da minha fraqueza e medo do meu passado...
Por isso eu rezava com tanto ardor e mal podia reprimir o pranto. Abalado até ao fundo da minha alma, era agora outro homem. Com devoção dei a minha esmolinha e guardei um cravo das flores com que os fiéis cobriam o túmulo do Pastorinho.
Ignorando o túmulo da Jacinta e sem saber como, também lá fui ter e ali vi a placa com o seu nome. Pedi-lhe da mesma forma o que rogara ao irmão, deixando-lhe também uma esmolinha...
voltei depois para junto do FRancisco e para ali fiquei a ver a minha vela arder até ao fim... aquela mesma vela!!
Sentia-me pouco consolado depois destes pequenos gestos de devoção... Ah! quem poderá avaliar o milagre duma conversão à Fé Católica, vindo-se do protestantismo - das suas negações, dos seus erros e de todos os seus preconceitos?! Só os que experimentaram!
Finalmente acabei por deixar a Basílica. Fui direito à humilde Capelinha de Nossa Senhora. E ali estive muito tempo, abrindo e deixando falar o coração contrito como podia...
É inútil tentar descrever em línguagem humana os meus sentimentos naquele humilde e maravilhoso lugar: a Capelinha das Aparições.
Nossa Senhora, Mãe benigna e Soberana Rainha, de certo, tudo compreendeu e compassiva recebeu de mim!
Nosso Senhor, que é Pai de misericórdia, é também Justo Juiz e «dará a cada um segundo as suas obras». Eu tal me atrevia a levantar os olhos para o Céu, conhecendo agora quanto fora infiel a Deus, renegando a Sua Igreja e odiando a Sua Santíssima Mãe - pelo que daria estreitas contas! Ai! o que eu não teria feito, como simples homem, àquele ou àqueles que fizessem à minha mãe e dela dissessem metade! - do que eu fizera e dissera da excelsa Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo! E Ele é um Filho infinitamente melhor do que eu, Ele é Deus - cujo 4.º Mandamento nos manda honrar Pai e Mãe!
Mas agora eu punha a minha esperança nessa Mãe bendita e poderosa que tanto desprezara! O Senhor me julgará! Mas a Senhora é Sua Mãe e minha Mãe - sómente e sempre Mãe! Oh! consoladora certeza!
Seu Divino Filho me acolheria então pela sua poderosa intercessão, visto que eu fora por Ela libertado. Humuilde e arrependido penitente, ali permaneci suplicando e recebendo o Seu auxílio, sob o doce e entristecido olhar de Nossa Senhora de Fátima. Quando já não podia mais, deixei a custo a Capelinha. Lentamente, passando pelo Monumento ao Sagrado Coração de Jesus, comecei a subir a imensa esplanada, por onde há pouco descera a caminho da libertação.
Chegado ao cimo, sentei-me, esvaído, na balaustrada de pedra. Dali, pus-me a olhar a Basílica coroada pela cruz luminosa, e as luzes das velas que rasgavam a noite - símbolos da Fé que dissipa astrevas do erro...
Decorria, fervorosa e recolhida, a Hora de penitência e adoração a Jesus na Divina Eucaristia. «É esta vigília propiciatória que prepara os prodígios do dia 13. (Disse um orador sagrado durante a meditação dos Mistérios do Terço, naquele mesmo lugar). Ah como eram felizes aqueles fiéis católicos (portugueses e estrangeiros de todo o Mundo!) unidos à volta do Pão Vivo da Unidade, na Casa do Pai!
Sob o olhar atento e intercessor da Mãe - Família de Deus! - humildes e grandes, oravam por eles e pelo «mundo» que os desdenha, ali, no Altar do Mundo!
Encostei a minha pobre cabeça a um dos altos candeeiros. Sentia-me completamente exausto, como um homem que acabava de atravessar duma grande tempestade. Sozinho naquele lugar solitário, assombrado com tudo o que me acontecera, comecei doloridamente a meditar e a recordar...
Ai! Como onda alterosa que se abate sobre a praia deserta, assim o passado e a minha blasfema atitude na viagem e na procissão das velas, se abateram sobre «o meu coração contrito e humilhado».
e, então, não me envergonho de o confessar aqui, chorei e solucei de dor e arrependimento. Chorei com temor e remorsos, desabafando e aliviando a minha pobre alma, agora esvaziada de tqanto mal!
Doces e abençoadas lágrimas! Deus seja louvado por mas ter concedido!
E bendita seja Nossa Senhora por mas ter alcançado!

Sem poder desfitar a Basílica e a mística cerimónia que lá adiante se desenrola, e da qual eu não me julguei digno - murmurava cheio de espanto e dor:«Ai! Nossa Senhora, o que eu fui! Ai! o que eu tenho feito!»
Agora que tudo conhecia, egrande o meu temor... Mas, afoguei naquelas lágrimas contritas o desespero que tentava apoderar-se de mim!
Por volta das três horas da madrugada, sentindo-me muito fraco e tendo terminado uma Hora de adoração, levantei-me e dirigi-me para a camioneta. Descansei o corpo junto dos meus companheiros adormecidos. O corpo, digo bem, porque o espíirito só mais tarde conheceria o repouso e a paz...
Às seis da manhã começou o movimento do Dia 13. Fui direito à Basílica, sentindo-me atraído para junto dos Pastorinhos. Mas lembrei-me de que a nossa peregrinação assistira a uma Missa por alma do Sr. António Moreira de Almeida, que fora meu patrão também. Vim por isso procurar os meus camaradas. E fiquei timidamente à porta da Capela do Hospital, onde a Missa era celebrada... Tive, porém, de sair logo, sufocado pela comoção, e dar um volta até me dominar: Ouvira dizer que levantassem a mão os que queriam confessar para comungarem...
Eu não me atrevi, eu não podia!
Retive ainda o meu segredo... nem sei bem porquê! Por isso tanto sofri depois!
Terminado o Santo Sacrifício, todos foram almoçar alegremente. Só eu não conseguia! Isolava-me e fugia..., Parecia-me que, se abrisse a boca, mesmo só para comer, as lágrimas que me enchiam o coração, transbordariam.
Depois, enquanto decorreram as tão famosas cerimónias da Peregrinação oficial, eu ia ora da Capelinha para a azinheira, ora ia à Basílica e voltava. Inquieto, dorido e perturbado, quase não dei verdadeiramente conta do que via, até começar a comovente «Procissão do Adeus». Percebi, então, que era o fim daquela peregrinação inesquecível do dia 13 de Junho de 1953!
Fitava com os olhos rasos de água o mar branco dos lenços e acenar, enquanto seguia com um olhar comovido e já saudoso a doce Mãe de Deus e dos Homens...
Dor, amor, remorso, alegria, saudade que não mais passou!... tudo isto se misturava e me pungia o coração.
Tirei também o meu lenço, mas ão ousei acenar `Senhora... só enxuguei as lágrimas com ele.
Ah! Aquelas extraordinárias horas da véspera à noite, e aquela radiosa e bendita manhã, ficaram para sempre gravadas na minha alma! Para sempre!

OH Santa e poderosa
Mãe de Deus e dos Homens,
Nossa Senhora de Fátima!
Sede bendita pela vossa
Bondade e Clemência!
Vós que sois o Auxílio dos Cristãos,
Rogai por nós
E pelos nosso inimigos!
Convertei, ó Mãe! os nossos
«Irmãos separados»
E os que buscam a Deus
Por caminhos errados!

E louvado seja o Omnipotente pelas Grandes Maravilhas que em Vós obrou!

iIII SINGULAR CAPÍTULO

Pode parecer que a história da minha milagorsa conversão esteja terminada. Contudo, ela ficaria incompleta sem este capítulo singular...
Por amor da verdade tenho coragem e fé para nada omitir. só assim será completo o testemunho aqui dado.
Seja tudo para glória de Deus e louvor da Mulher-Bendita entre todas as mulheres - que esmaga a cabeça do Inimigo.
***
Na camioneta, os meus companheiros, quando me viram, puseram-se a soltar mil exclamações, dizendo que eu «parecia um desenterrado»! Tal era, na verdade, a palidez cadavérica do meu rosto desfigurado...
Pelo caminho, estranharam pasmados o meu silêncio e recolhimento, a contrastar tanto com o barulho e a dissipação maligna que eu fazia e provocara à ida.
É que eu já não era o mesmo! Mas escondia de todos o meu segredo. Dizia-lhes, então, que nem dormira, nem comera mais nada desde o jantar da chegada... E era verdade, porque eu não pudera! Mas só Deus sabia o que me ia na alma!
Eu vinha abismado e como que esvaziado...
Cheguei a casa à uma da madrugada. Logo que a minha companheira me abriu a porta, abracei-me a ela sufocado pela comução. Às suas perguntas aflitas respondi: «Ai! o que nós fizemos! Olha que temos andado enganados, não sabes o que me aconteceu em Fátima! Lá é que eu vi como nos enganaram e nós enganámos tanta gentinha com uma falsa religião!» E então contei-lhe tudo. Ela, assombrada e também mortificada, começou a chorar comigo. Mas, apesar da sua aflição, sentiu-se aliviviada e disse-me estas palavras: «Eu bem te dizia no princípio! Eu só fui depois (para o protestantiismo) fiada em ti e para te acompanhar. Mas bem me custou! Ai ! os filhos que ainda temos por baptizar! (lembrou-se ela logo)! Ai! os pecados que temos feito!»
Perguntámos agora o que havíamos de fazer. Pensávamos no nosso passado; tínhamos de desdizer tudo quanto ali havíamos propagado com todas as nossas forças, com escândalo do próximo e tanto desgosto das nossas famílias.
E os nossos pobres companheiros de heresia, que diriam quando soubessem? Éramos conhecidos como ferrenhos protestantes! E por quantos simples e ignorantes eu fora escutado e seguido para a heresia!
Por fim, fatigado, acabei por adormecer...

Principia aqui a segunda parte extraordinária da minha gloriosa conversão.

Sim, o primeiro curto sono dormi-o bem...
Mas, alta madrugada, acordei e levantei-me. Logo em seguida voltei a deitar-me e estava, portanto, completamente lúcido, quando senti com grande nitidez e intensidade o que vou tentar descrever: começava a aconchegar-me para, de novo, chamar o sono; de súbito, tive a esquisita impressão de que alguém, de mansinho, punha um pé no colchão, e a nítida sensação deste ceder, afundando-se de leve... como se subissem para a cama..
No mesmo instante, um arrepio gelado percorreu-me o corpo e os cabelos inteiriçados puseram-se-me em pé.
Ai de mim! Aterrado, logo o percebi!... Estava «aprisionado» outra vez, tal como em Fátima, sentindo-me completamente dominado e preso na mesma lançada asfixiante! Tentava aflito bater com os pés (que julgava livres) no fundo da cama. Não podia soltae o menor som através da garganta apertada por aquela «força» implacável. Fazia esforços desesperados para me livrar da «prisão» invisível que me sufocava. Mas tudo era em vão, porque eu não conseguia mover um só músculo, nem chamar!
De repente, fiquei livre! saiu-me então da gargantaa um brado medonho, que despertou a minha companheira. Assustadíssima, ela olhava para mim varada de espanto e interrogava-me aflita. Eu respondi-lhe assim:«Foi como em Fátima! O mesmo carrego, eu mal podia respirar»!
Estava lívido, trémulo e banhado num suor de agonia. Mal pude repousar uns minutos porque, quando a fadiga começavaa a prostrar-mee, voltei a suportar a «ofensiva» ainda uma outra vez!
Oh! que noite angustiosa! E na seguinte, também não escapei! Inexplicávelmente passei a terceira noite descansado. Porém, na quarta, estando ainda acordado e a conversar muito animado, dei, nitidamente e de súbito, pela «chegada»... Antes de ter tempo de formular um pensamento ou balbucilhar uma prece, eis que senti a leve pressão, o colchão ceder e logo o gélido arrepio. Os cabelos punham-se-me em pé e eu ouvia ranger a cama, que abanada toda com o tremos que me trespassava! «Preso» e »mudo» debatia-me aflitivamente e em grande sofrimento. Eram uns instantes de atroz agonia! Eu pensava que morria, e certamente assim teria acontecido, se aquilo durasse mais uns minutos!
No momento próprio, sempre à noite e estando já deitado, todo o meu ser, físico e espiritual, pressentia a «chegada» que, embora invisível, era perfeitamente sensível. Às vezes, mxia-me, agitava-me instintivamente e parecia afugentar... Mas logo sentia que voltava, surrateiramente, e então era «apanhado» num instante!
Quando ficava livre, saía-me da garganta aquele rouco e pavoroso brado, que nem parecia humano...
E todas as noites, até 11 de Julho seguinte,, travei aflitivamente o mesmo «combate»!
Eu e a minha companheira andávamos passados de temor e aflição. Não acabámovamos de sair do nosso espanto! Escondíamos de toda a gente o que acontecia, sem coragem para o contar a quem quer que fosse. Vivíamos enleados e confusos. Entretannto, os dias iam correndo... de forma que eu não me decidia a completar a obra da graça recebida em Fátima.
Submerso naquela confusão e perturbado, retraía-me e não caminhava para diante, covertendo-me de vez.
Noite após noite aconteceu o mesmo!
E eu ia ficando em ponto morto...
Por último, até já nem sentia medo ao aproximarem-se aqueles momentos aflitivos, como no princípio. Conformado e cansado, quando pressentia a «chegada», dizia apenas: «Aí vem...» E vinha, na verdade!
No entanto, não tínhamos paz. Eu sofria! Emagrecera muito, andava pálido e de rosto cadavérico . Quando a noite caía, para mim, era de verdadeiras trevas.
Quando padeci, Santo Deus!
Parecia que se escondera, sob nuvens sombrias e carregadas, aquele sol de liberdade e novas claridade que sobre mim brilhara em Fátima...

IV A «PEDRSA»....


certa manhã, porém, após uma noite tormentosa, quando eu sentia que já não aguentaria por muito tempo com vida, todas as noites, tal horror - veio-me uma grande vontade de agir!
Entour na minha alma, contorbada e tão doente, uma inesperada coragem e uma força invencível.
Levantando-me logo, resolvi, de súbito, ir contar tudo ao meu patrão.
Abençoada hora! Fixei bem aquela data - 29 de Junho!
Nas coisas Deus não há «acasos»...
Aquela manha não era uma qualquer...
Além de ser Domingo - o Dia do Senhor Ressuscitado - era a Festa de São Pedro!
A PEDRA sobre a qual Cristo fundou a Sua Igreja - Una Santa, Católica, Apostólica, Romana também chamada, porque em Roma se fixou a Sede de Pedro e seus sucessores, cabeça visível da Cristindade.
A Liturgia exalta nesse dia, especialmente, o Apóstolo -Chefe: Pois foi a Pedro que o Senhor Jesus entrgou as «Chaves do Seu Reino» e o Poder de «ligar e desligar» perpetuado nos seus Sucessores e na Igreja. Foi também a São Pedro - e só ele! - que Nosso Senhor confiou solenemente e por três razões todo o Seu Rebanho.
Assim o constituiu Pastor dos Pastores e dos Cordeiros, e nos seus Sucessores, até à consumação dos séculos.
Por S. Pedro - e só por ele! - rezou Cristo em pessoa, para o confirmar na Fé, e só a S. Pedro mandou que confirmasse os outros Apóstolos.
E quando?! Segundo as próprias palavras do Senhor, quando Satanás os quis «joieirar» como trigo (Luc.22, 31-32)
Era o dia da festa do primeiro Papa!...
Para um ex-protestante, tudo isto parece ter profundo e singulaer significado!...

Nesse dia, pos, «levantei-me» e comecei verdadeiramente a regressar a Casa de Nosso Pai, que há muito esperava o Filho pródigo.
Não há «acasos» para Deus, repito.
Nesse mesmo dia também me veio à memória, com vívia lembrança, o ferveroso pedido - estranho naquele momento! - que, com uma espécie de ansioso pressentimento do que depois aconteceu, eu fizera aos Pastorinhos: que me não deixassem descansar, enquanto eu não mudasse de vida e não voltasse ali por todo o próximo mês!
É que pesava sobre mimm muita coisa ruim e tão antiga! quem sabe se eu, passados os primeiros dias sobre os prodígios de Fátima, teria coragem de romper as fortes amarras que me prendiam ao passado? Teria eu correspondido à graça de libertação recebida de Nossa Senhora, se não fosse submetido ao aguilhão do sofrimento? Duvido de mim mesmo! Só Deus o sabe! Ora, aquela «prisão» foi transformada em «estímulo» e a derrota aparente tornou-se afinal uma vitória bendita!

Naquele Dia de São Pedro, levantando-me, pois, resolutamente, quebrei as peias que me enleavam. Fim um embrulho com a biblia protestante, os livros e folhetos de propaganda herética, e dirigi-me ansioso a casa do meu Patrão...
Mas, a prova não terminara ainda...
Soube, consternado, que ele estava para fora. Voltei tristemente sobre os meus passos. Retomei mais uma semana de trabalho... e de sombria luta. Quanto sofri!

Contudo, Deus seja louvado! - certamente pela graça recebida na festa de S. Pedro, preserverei na determinação que me veio nessa ocasião.

Por isso, voltei logo no Domingo seguinte. Recebido com muito carinho por ele e por sua Esposa, contei-lhes como pude e soube, resumidamente, a minha singular história. Expu-lhes a ânsia que tinha agora de mudar de vida o mais depressa possível e de coompltar a minha conversão!
Os meus patrões escutaram-me comovidos. Logo ali se resolveram a tratar de tudo e ajudaram-me, telefonando ao então Vice-Reitor do Seminário, Sr. Dr. Moreira Rocha, para que na Secretaria do Paço Episcopal fosse concedida, com toda a urgência, a dispensa de Banhos e a documentação necessária, a fim de partirmos para Fátima.
Regressei a casa mais aliviado...
À noite, porém, agora com menos intensidade, continuei a suportar a «ofensiva» teimosa.
Todas as noites!
Mas a hora do Poder das Trevas havia passado...
Eu iria firmar-me na Pedra (Pedro) e na «coluna e firmamento da verdade», que é a Igreja, como ensina São PAulo (1TIm,3,15).
chegou finalmente o dia da nossa total conversão - 13 de Julho de 1953.
Na véspera partimos com os nossos filhinhos para Fátima, onde j´+a nos esperavam os nossos bons patrões.
nessa mesma tarde tivemos uma longa e bondosa conversação com o sr. Padre João Cabeçadas, acerca do nosso passado e dos factos aqui relatados.
A ele fizemos a nossa confissão, no meio de grande confiança, sentindo a seguir consolador alívio. então, desceu sobre nós o Pedrão de Deus, pelos méritos do Sangue do Redentor. E ficámos finalmente em paz! Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo!
à noite, já nos incorpoorámos, com as nossas velinhas acesas, na impressionante procissão das veças e participámos na fervorosa Vigília eucarística, reconciliados com Deus e a Sua Igreja.
E passei tranquilamente o resto da noite, a primeira sem luta há tantas semanas!
vencera a Rainha da Paz!

no dia 13 celebrou-se o nosso casamento com alegria e comungamos com alegria o verdadeiro Corpo e Sangue do Senhor. depois foram baptizados os nossos três filhos mais novos.
as nossas testemunhas no sacramento do matrimónio , e padrinhos das crianças no baptimos foram os srs. Fernando Moereira de Almeida e sua Esposa, e a Sra. D. Maria Teresa Nunes da Ponte.
Bem hajam de Desu por tudo!
A felicidade que então sentimos só poderão avaliar bem os nossos que já andaram perdidos e foram encontrados. a minha mulher e eu regressámos à verdade, à fé una da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, em que nascemos e na qual já nasceram nossos pais e os pais dos nossos pais. que nossa Senhora nos guadre de nos alcance de nosso Senhor Jesus Cristo, Seu Filho, a Graça da Perseverança, pois lembro-me daquela Palavra em que o Salvador nos fala dos que depois de libertados do mal, voltam a cair nele e, então, «o último estado daquele homem torna-se pior que o primeiro» (S. Mat.12,43-45).
Há um só Deus, por isso também há um só Baptismo e uma só Fé verdadeira, afirma a Bíblia Sagrada e ensina firmeente a Igreja à vinte séculos. Só o orgulho, a ignorância e a cegueira espiritual podem impedir-nos de chegarmos a esta verdade tão simples.
Por isso, rogo aos que esta narrativa lerem que rezem por mim, para que eu persevere até ao fim.
Vou todos os anos a Fátima chorar de alegria e gratidão junto de nossa Mãe do Céu. Se me fosse possível, iria lá todos os meses! Talvez até lá ficasse para sempre... (Assim aconteceucom um convertido inglês, antigo teólogo e «pastor» protestante. Escreveu já vários livros sobre Fátima, entre os quais «Soou a hora»! foi traduzido para português.).
A minha alma ali renasceu de novo!
Quando posso, acompanho pela Rádio-Renascença, da qual, como católico, sou associado, todos os seus programas religiosos. As retransmissões de Fátima, nos dias 13 de MAio/Outubro, comovem-me profundamente.
Basta-me ouvir o Ave do início das transmissões da nossa Emissora Carólica, para que os meus olhos se humedeçam de saudade e ternura.

Em 1956 A Voz do Pastor (órgão da Diocese do Porto), a Voz da Fátima e a Rádio-Renascença referiram-se resumidamente à minha conversão.
Logo de vários lados surgiram dúvidas e negativas e foram pedidos nomes e pormenores. Então, maior se tornou a ânsia, que há muito trazia no peito, de dar testemunho - pormenorizado e testemunhado - de quanto se passou comigo.
Só agora, neste 40.º ano das Aparições de Nossa Senhora em Fátima, e por providencial desígnio, este intento se tornou realidade.
Ouso esperar que a Misericórdia divina se digne servir-se desta confissão sincera para ajudar a libertar outras almas.
Os dons de Deus devem ser manifestados para que todos O conheçam e assim Portugal seja fiel à Verdadeira Fé. Se nela preservarmos, praticando-a na nossa vida nacional e particular, seremos abençoados pelo Altíssimo. E a nossa Rainha e Padroeira continuará a proteger o extraordinário e total Renascimento de Portugal (Basta reflectir nestes três últimos decénios, pelas crises atravessadas pelos benefícios recebidos equivalentes a séculos.» Sua Santidade Pio XII, 13 de Maio 1946, na Coroação de Nossa Senhora de Fátima.) e guardará a nossa Paz: testemunhos do «Milagre de Fátima», que é a Esperança do Mundo moderno.
Ora os milagres são a divina assinatura da Verdade. O Sacerdote que em nome de Deus nos absolveu exultou de alegria, dizendo que esta conversão era deveras extraordinária, entre as muitas e tão grandes realizadas em Fátima.

LOUVOR, POIS, A NOSSA SENHORA DE FÁTIMA
RAINHA DAS GRANDES MARAVILHAS DE DEUS
AO QUAL SEJAM DADAS TODA A HONRA
E TODA A GLÓRIA PELOS SÉCULOS SEM FIM. AMEN.


Porto, Cidade da Virgem, dia das Santas Chagas, 13 de Fevereiro de 1957.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Milagre em Fátima - Parte II

II – EM FÁTIMA – LIBERTAÇÃO – 12 e 13 de Junho de 1953

De entre os que, de boa ou má fé, saem da Santa Igreja Católica Apostólica Romana para se passsarem às heresias protestantes, só Deus e Nossa Senhora sabem porque fui chamado à graça sem par da conversão.
Tudo quanto eu posso afirmar é que a minha boa e saudosa mãe chorava e rezava por mim! Era uma mulher muito piedosa e foi fiel como uma verdadeira cristã. Eu tentei levá-la enganada ao «culto» da minha seita. Ela, porém, tendo percebido logo do que se tratava, repeliu sem remissão a heresia. Mas não abandonou a minha alma! Com fé, voltou-se então paea a oração persistente e confiante. No seu trabalho caseiro e pelos caminhos, rezava o «terço» continuamente. De certo, as suas lágrimas e orações subiram ao Céu, comovendo o Coração da Mãe das mães!
«O Espírito sopra aonde quer» e a graça de Deus é invencível. Assim foi dominado este encarniçado hereje pela bondade e poderosa intercessão de Nossa Senhora, alcançando-me de Seu Divino Filho a salvação e a paz.
E foi numa daquelas peregrinações que eu tanto amaldiçoava, organizada por almas generosas e cheias de fé, e que assim foram, de certo modo, recompensadas!
Continuando a minha história, chego ao ponto em que me encontrei empregado na Sociedade de Vinhos do Porto Constantino. Os meus patrões, Srs. Fernando Moreira de Almeida e Fernando Maria Guedes de Almeida, seu filho, são pessoas sinceramente religiosas.
Em Junho de 1953, resolveram levar todo o Pessoal, por conta da Casa, em peregrinação a Fátima, no dia 13. quanto a mim, aceitei a ideia radiante, tanto mais que «o passeio» (como eu lhe chamava a rir...) era de graça. E formei logo um plano: espalharia a minha propaganda herética no seio da própria peregrinação! Tencionava exercer nos meus companheiros toda a influência contrá´ria à Fé Católica que eu pudesse. Ao mesmo tempo, de tudo o que visse na Cova da Iria, esperava encontrar motivo para depois «pregar» contra Fátima. Estava seguro do êxito dos meus maus propósitos e, portanto, incorporar-me-ia muito satisfeito na peregrinação.
Ora, Deus escreve direito por linhas tortas!...
Como preparação, houve uns dias de pregações por um Religioso Franciscano.
Ouvi dizer, nessa ocasião, que «ninguém vai a Fátima com as mãos vazias». Mal imaginava eu, que zombava escarninho de tudo aquilo, que as havia trazer, de facto, cheiinhas a transbordar!...
Como é costume, partimos no dia 12. fomos percorrendo os lugares já consagrados, como Santa Maria de Alcobaça e Santa Maira da Vitória, «a Batalha». Estes dois templos grandiosos foram erguidos pela fé dos nossos Antepassados e são o assombro de todos quantos visitam. Aquelas pedras gloriosas exaltam os feitos patrióticos e a perseverante Fé Católica da Nação Portuguesa, sempre unida às maiores e mais pouras glórias. Porém, eu sentia-me desligado daFé e, portanto, da História da minha Pátria... e foi ali mesmo que, pelo contrário, eu senti mais ao vivo o meu fanatismo demoníaco e protestante, e assim o demonstrei. Olhava para o que me rodeava com desdém e raiva. E, na ânsia de amesquinhar todos aqueles belos e eloquentes testemunhos da nossa Fé secular, criticava tudo com acinte desprezo, escarnecendo de quanto ali representa a Santa Religião em que nasceu Portugal.
Ria-me e fazia rir os meus companheiros deprevenidos, ou sem convicções firmes. Outros, porém, aborrecidos com a minha atitude, afastavam-se ou ameaçavam queixar-se aos nossos chefes, o que, aliás por bondade, não fizeram.
Mas eu é que não podia calar!
Conformee, depois, íamos subindo a montanha bendita de Fátima e eu avistava os cruzeiros da Via-Sacra, enchia-me de tremenda fúria contra o sinal da cruz.
Na camioneta, sem me calar um momento, continuava asempre com a propaganda escarninha e demolidora. Tentava por todos os meios tirar aos meus companheiros a pouca ou muita fé com que eles se aproximavam do lugar abençoado da Visitação de Nossa Senhora a Portugal e ao Mundo!
Chegámos ao Santuário pelas vinte horas. As nossas camionetas pararam junto da Praceta de São José. Logo ali apareceu um rapzazinho a apregoar «velinhas». Então, no meio de muita galhofa, comprei uma, que havia de ficar memorável!...
Em seguida ao jantar, todos nos reunimos ao Sr. Fernando Moreira de Almeida e sua Ex.ma Esposa, a Sr.a D. Maria Leonor, amos Servitas de Nossa Senhora. M éramos mais de duzentas pessoas, com as nossas famílias. Eles aguardavam junto da Capelinha das Aparições para distribuirem gratuitamente as velas aos que as quisessem.
Entretanto, principiou a reza do «terço».
Eu continuava, agora em voz baixa, a zombar de tudo. O locutor do Santuário anunciou que se ia formar a procissão. Os carrilhões da Basílica guiavam o povo nos lindo cânticos de Fátima. Apareceram as primeiras luzinhas trémulas e, daí a pouco, era um mar de luz que alastrava!...
Eu estava convencido de que Fátima era uma mentira. Não podia sequer imaginar o que ali via gora com os meus olhos espantados! Fiquei furioso contra a multidão dos Fiéis. Tinha ânsias de desatar a descompor e a correr à pancada dali para fora toda aquela gente! A minha raiva crescia e subia como maré viva. Quando ouvi anunciar a saída do andor com a Imagem de Nossa Senhora de Fátima, comecei a tremer de violenta e mal contida ira.
De repnte, avistei-a! Julguei enlouquecer de ódio! É indiscritível o furor que então me assaltou. Pareia louco de raiva! Terríveis blasfemeas saíram da minha boca por entre os dentes cerrados. Fechei os punhos convulsos e encarei-a com verdadeiro e satênico ódio pessoal. De certo, já fui contido pelo poder divino e, só assim, não me atirei a ela para a desfazer com as mãos e os dentes, como diabólicamente me apeteceu!
O Inferno odeia Nossa Senhora! Para ele é a Inimiga desde o Princípio (Gen.3,15). Naquele lugar Ela é a vencedora, aclamada em todo o Mundo, desta grande Batalha de Deus, que é Fátima no nosso tempo apocalíptico! A Mulher bendita - «terrível como exército em ordem de batalha» - ali veiotrazer a Mensagem que, mais uma vez, congrega os Filhos de Deus para o Bom Combate, vivificando a Fé, renovando a Esperança e tudo abrasando na Caridade.
Outrora o Povo Escolhido devia ver nas imagens de ouro dos Querubins (mandadas colocar por Deus na Arca da Aliança) o símbolo da reverência devida à Glória do Altíssimo, manifestada do meio das asas estendidas (Ex.25, 18-22).
Certamente que, na branca imagem da Virgem Mãe do Messias – Arca da Nova Aliança – o Inimigo há-de ver o sinal da Presença, na Glória de Seu Filho, d’Aquela que, por Ele, lhe esmaga a cabeça.
E naquele terrível instante terá sido, então, pressentida a grande e próxima derrota que lhe ia ser infligida pelo poder misericordioso da Senhora, porque aqueles momentos foram realamente demoníacos e medonhos. Eu atingira a curva máxima do meu ódio!
Quando deles me lembro, ainda sofro!
Bendita seja Nossa Senhora que mos perdoou tão generosamente! Bendita seja!
Entretanto, obedecendo à voz do locutor, a procissão ia-se formando e nós começámos a caminhar todos juntos. Os meus companheiros trataram de acender as suas velas.
Com os nossos bons patrões à frente, seguíamos perto do andor. Era um espectáculo comovente! Mas eu, raivoso de despeito, não cessava de escarnecer e rir. Para evitar de dar nas vistas do meu chefe, resolvi divertir-me e acender também a minha luz, dizendo sempre mil graçolas blasfemas. Voltei-me, pois, para um dos meus coleas e acendi na dele a minha vela.
E começou aqui o prodígio:
No mesmo instante em que, depois de acesa, a endireitei, ela apagou-se de repente! Pedi a outro e tornei a acendê-la, risonho e irónico. Num ápice, voltou a apagar-se.
Comecei então a teimar muito divertido, terceira, quarta e quinta vez, mas já um tanto enervado... contudo, continuava a rir e a galhofar, dizendo que «se calhar eu fora burlado e a minha vela não era igual à dos outros1» Pois se, de cada vez que eu a acendia, via brilhar a chama muito viva, e em seguida extinguir-se, de súbito, misteriosamente! Era mesmo como se apagassem! Que significava aquilo?!
O tempo estava sereno e eu, olhando à minha volta e junto de mim, avistava ao longe e ao perto as velas acesas de toda aquela multidão, que brilhavam na noite como estrelinhas em prece. Ah! Mas eu não desisteria!
Querendo mostrar-me forte e seguro, apesar de as mãos me tremerem um pouco, ria-me e teimava sempre! Comecei assim a pedir lume a uma e outra das pessoas que passavam ao meu lado a cantar, comas as suas velinhas a brilhar.
Enquanto eu parava um instante para acender a minha luz – e ela se apagava de maneira tão insólita! – os meus companheiros já iam longe...
E eu sempre a acender a minha vela! E ela a apagar-se inexplicávelmente! Parecia que lhe sopravam!
Perdi a conta do número de vezes que a acendi e vi extinguir-se de forma tão extranha a chama viva! Despeitado e escarninho, teimei enquanto pude. Por fim, já não me ria... pois principiei a reparar, desconfiado e espantado, que afinal, aquilo só a mim acontecia!
Do fundo da minha consciência parecia querer subir um aviso silencioso...
Precisamente quando eu começava a sentir-me abalado, aconteceu o pior: todo o meu corpo foi como que «aprisionado», saudido por um estremeção e trespassado por frio de morte. Ao mesmo tempo, começou a correr-me da cabeça aos pés um copioso e gelado suor!
Assombrado e aterrado, deitei as mãos à cabeça: tinha os cabelos duros, inteiriçados e em pé! Perguntava a mim mesmo, transido de pasmo, o que seria aquilo?! Só então, no meio de grande perturbação, é que desisti de acender a minha vela.
Na maior ansiedade, procurei com um olhar aflito os meus companheiros, para me ajuntar a eles e buscar amparo. Avistei, lá longe, o andor branco da Senhora... Lembrei-me logo de que eles deviam ir ali pertinho d’Ela! Quis ir também!...
Mas foi então que experimentei o maior terror da minha vida: assim que este pensamento salvador despertou na minha mente, caiu sobre mim, bem em cima dos meus ombros, um «peso» insuportável! Eu queria ir... mas, conforme levantava um pé (ou tentava levantá-lo) para caminhar ao encontro de Nossa Senhora, o terrível «peso» era cada vez maior e, com incrível força, prendeu-me ao chão! Todo a tremer, banhado em suores frios, com a língua enrolada dentro da boca endurecida, sentia-me sucumbir debaixo daquele medonho «peso» e aprisionado num laço implacável. Ao mesmo tempo, todo o meu ser, físico e intelectual, era trespassado por uma indiscritível e pavorosa agonia!
Cheio de terror, quis gritar. Julguei mesmo que gritava a pedir socorro, mas ninguém me ouvia, nem via o que me estava a acontecer! Eu ficara ali, no meio de tanta gente, «aprisionado» e «mudo»!...alma prisioneira, para me libertar daquela «prisão»! o meu sofrimento era atroz! Nunca o esquecerei. Ainda ho
A procissão era um sereno rio de luz, na noite escura e branda. Os peregrinos, com velas acesas diante dos rostos felizes, passavam rezando e cantando, com os olhos postos na suave Imagem da Senhora das pombas brancas... Desviam-se pacientemente de mim e continuavam sempre em frente!
E eu a debater-me, ali, angustiado, a lutar desesperadamente na minha pobre alma prisioneira, para me libertar daquela «prisão»! o meu sofrimento era atroz! Nunca me esquecerei. Ainda hoje estremeço quando nele penso! Posso afirmar que sentia e ouvia ranger os meus ossos. Tais eram os esforços sobre-humanos que fazia para me mexer e livrar daquela terrível prisão. Mas uma «força» incrível chumbava-me ao chão! E tudo foi inútil!
Não pude alcançar Nossa Senhora no seu andor branco e florido!
Jamais encontrarei as palavras próprias para dar uma pálida ideia do que sofri e do meu terror naqueles momentos!
Contudo, e apesar disso, eu ainda blasfemava, , a! Essa era a minha ânsia. Fugir dali!
Mas como, se eu estava «preso» e esmagado debaixo daquele «carrego» insuportável? Raciocinava, mas não era senhor dos meus movimentos. Oh! Que pavorosos momentos.
Lá longe, voltada agora de frente para mim, Nossa Senhora regressava em triunfo e rodeada de veneração e amor, à sua humilde Capelinha...
E foi então que senti, de súbito, que uma força poderosa e incrível me fazia virar para a Basílica, impelindo-me para a frente! Conheci que podia, enfim, fugir «àquilo» que pesava como chumbo sobre os meus ombros! fugir,gora só em pensamento, porque não podia falar.
Debatendo-me naquela medonha aflição e esmagado sob o insólito «carrego», comecei por fim a lembrar-me vagamente de que aquilo tudo podia ser castigo...
Mas, então, é porque eu estava enganado e ali é que se encontrava a VERDADE!?
Teimosamente resisi a este salutar pensamento! Apeguei-me com desespero aos erros antigos e ao despreezo que aprendera a sentir no Protestantismo pela Mãe do Senhor!
E, no meio desta espantosa luta, esforçava-me em vão por fugir! Essa era a minha ânsia. Fugir dali!
Mas como, se eu esva «preso» e esmagado ddebaixo daquele «carrego» insuportável? Raciocinava, mas não era senhor dos meus movimentos. Oh! Que pavorosos momentos!
Lá longe, voltada agora de frente para mim, Nossa Senhora regressava em triunfo e rodeada de veneração e amor, à sua humilde Capelinha...
E foi então que senti, de súbito, que uma força poderosa e invencível me fazia virar para a Basílica, impelindo-me para a frente! Conheci que podia, enfim, fugir «àquilo» que pesava como chumbo sobre os meus ombros! Fugir, alcançar um refúgio, libertar-me! Comecei a andar...
Tomando de grande aflição, vi-me a atravessar o Santuário... mas, conforme me aproximava da Basílica – ia para lá como que conduzido, sem pensar nem querer! – o meu andar tornava-se mais fácil...
Ao chegar à escadaria já a pude subir quase a correr. Meti como uma seta pela Basílica dentro, sempre a direito, como levado por vigoroso e irresistível impulso, e szó parei diante do Altar-mor, do lado do túmulo do Francisco, onde caí, enfim, de joelhos! Ali fiquei longos minutos, todo trémulo, com olhar vago, sem saber onde estava.
Poré, aquele horrível «peso» e aquela estranha «prisão» mostravam agora uma espécie de fraqueza... soltava-se-me a língua e eu balbuciei algumas palavras enquanto começava a ter consciência de tudo o que me rodeava e do que via...
E foi então que os meus pobres olhos dilatados de angústia... depararam com a bendita imagem da Senhora, ao lado do Altar. Súbitamente lúcido, fitei-A assombrado... e, (não me atrevo a afirmá-lo!) pareceu-me que a via sorrir-se para mim! E esse instante fiquei livre e completamente mudado.
Sim, foi nesse minuto de graça que eu senti a alma liberta do véu espesso do erro e o corpo daquela «prisão» maligna. Num relance dera-se o prodígio... apesar do meu ódio protestante contra as santas imaggens! A lição é digna de ser meditada...
A tremer, comovido, eu não tirava o olhar deslumbrado dAquele «Sinal» da misericórdia divina, sentindo que nascia de novo. Agora, o meu coração era manso e humilde, e eis que a orgulhosa cerviz do hereje se abatera diante d’Aquela que tanto desprezara e que todas as gerações aclamarão Bem-aventurada, pois o Omnipotente obrou n’Ela grandes maravilhas (c.1,48,49)