quarta-feira, 26 de maio de 2010
I - Memória de uma manhã passada com Bento XVI
Ao outro dia saí bem cedo da casa da minha irmã, em Vila Nova de Gaia. Entrei no metro em D. João II e cheguei, sem complicações, a São Bento. Fiquei por ali à espera do nosso muito e bem amado Pedro. Aproveitei e arranjei um lugar bem bom para tirar fotografias. Ao meu lado estava uma Senhora que estava extremamente feliz não só por estar ali para ver o Santo Padre mas porque Nosso Senhor, sob a invocação do Divino Menino Jesus de Praga, curou o seu filho enfermeiro num hospital em Coimbra. Entretanto começou a chegar muita gente. Todos queriam ver Sua Santidade... Ameaçava chover...
terça-feira, 16 de março de 2010
MENSAGEM DE SUA SANTIDADE O PAPA BENTO XVI PARA A QUARESMA DE 2010
A justiça de Deus está manifestada
mediante a fé em Jesus Cristo (cfr Rom 3, 21–22 )
Queridos irmãos e irmãs,
todos os anos, por ocasião da Quaresma, a Igreja convida-nos a uma revisão sincera da nossa vida á luz dos ensinamentos evangélicos . Este ano desejaria propor-vos algumas reflexões sobre o tema vasto da justiça, partindo da afirmação Paulina: A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo (cfr Rom 3,21 – 22 ).
Justiça: “dare cuique suum”
Detenho-me em primeiro lugar sobre o significado da palavra “justiça” que na linguagem comum implica “dar a cada um o que é seu – dare cuique suum”, segundo a conhecida expressão de Ulpiano, jurista romana do século III. Porém, na realidade, tal definição clássica não precisa em que é que consiste aquele “suo” que se deve assegurar a cada um. Aquilo de que o homem mais precisa não lhe pode ser garantido por lei. Para gozar de uma existência em plenitude, precisa de algo mais intimo que lhe pode ser concedido somente gratuitamente: poderíamos dizer que o homem vive daquele amor que só Deus lhe pode comunicar, tendo-o criado á sua imagem e semelhança. São certamente úteis e necessários os bens materiais – no fim de contas o próprio Jesus se preocupou com a cura dos doentes, em matar a fome das multidões que o seguiam e certamente condena a indiferença que também hoje condena centenas de milhões de seres humanos á morte por falta de alimentos, de água e de medicamentos - , mas a justiça distributiva não restitui ao ser humano todo o “suo” que lhe é devido. Como e mais do que o pão ele de facto precisa de Deus. Nora Santo Agostinho: se “ a justiça é a virtude que distribui a cada um o que é seu…não é justiça do homem aquela que subtrai o homem ao verdadeiro Deus” (De civitate Dei, XIX, 21).
De onde vem a injustiça?
O evangelista Marcos refere as seguintes palavras de Jesus, que se inserem no debate de então acerca do que é puro e impuro: “Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro. Mas o que sai do homem, isso é que o torna impuro. Porque é do interior do coração dos homens, que saem os maus pensamentos” (Mc 7,14-15.20-21). Para além da questão imediata relativo ao alimento, podemos entrever nas reacções dos fariseus uma tentação permanente do homem: individuar a origem do mal numa causa exterior. Muitas das ideologias modernas, a bem ver, têm este pressuposto: visto que a injustiça vem “de fora”, para que reine a justiça é suficiente remover as causas externas que impedem a sua actuação: Esta maneira de pensar - admoesta Jesus – é ingénua e míope. A injustiça, fruto do mal , não tem raízes exclusivamente externas; tem origem no coração do homem, onde se encontram os germes de uma misteriosa conivência com o mal. Reconhece-o com amargura o Salmista:”Eis que eu nasci na culpa, e a minha mãe concebeu-se no pecado” (Sl. 51,7). Sim, o homem torna-se frágil por um impulso profundo, que o mortifica na capacidade de entrar em comunhão com o outro. Aberto por natureza ao fluxo livre da partilha, adverte dentro de si uma força de gravidade estranha que o leva a dobrar-se sobre si mesmo, a afirmar-se acima e contra os outros: é o egoísmo, consequência do pecado original. Adão e Eva, seduzidos pela mentira de Satanás, pegando no fruto misterioso contra a vontade divina, substituíram á lógica de confiar no Amor aquela da suspeita e da competição ; á lógica do receber, da espera confiante do Outro, aquela ansiosa do agarrar, do fazer sozinho (cfr Gn 3,1-6) experimentando como resultado uma sensação de inquietação e de incerteza. Como pode o homem libertar-se deste impulso egoísta e abrir-se ao amor?
Justiça e Sedaqah
No coração da sabedoria de Israel encontramos um laço profundo entre fé em Deus que “levanta do pó o indigente (Sl 113,7) e justiça em relação ao próximo. A própria palavra com a qual em hebraico se indica a virtude da justiça, sedaqah, exprime-o bem. De facto sedaqah significa, dum lado a aceitação plena da vontade do Deus de Israel; do outro, equidade em relação ao próximo (cfr Ex 29,12-17), de maneira especial ao pobre, ao estrangeiro, ao órfão e á viúva ( cfr Dt 10,18-19). Mas os dois significados estão ligados, porque o dar ao pobre, para o israelita nada mais é senão a retribuição que se deve a Deus, que teve piedade da miséria do seu povo. Não é por acaso que o dom das tábuas da Lei a Moisés, no monte Sinai, se verifica depois da passagem do Mar Vermelho. Isto é, a escuta da Lei , pressupõe a fé no Deus que foi o primeiro a ouvir o lamento do seu povo e desceu para o libertar do poder do Egipto (cfr Ex s,8). Deus está atento ao grito do pobre e em resposta pede para ser ouvido: pede justiça para o pobre ( cfr.Ecli 4,4-5.8-9), o estrangeiro ( cfr Ex 22,20), o escravo ( cfr Dt 15,12-18). Para entrar na justiça é portanto necessário sair daquela ilusão de auto – suficiência , daquele estado profundo de fecho, que á a própria origem da injustiça. Por outras palavras, é necessário um “êxodo” mais profundo do que aquele que Deus efectuou com Moisés, uma libertação do coração, que a palavra da Lei, sozinha, é impotente a realizar. Existe portanto para o homem esperança de justiça?
Cristo, justiça de Deus
O anuncio cristão responde positivamente á sede de justiça do homem, como afirma o apóstolo Paulo na Carta aos Romanos: “ Mas agora, é sem a lei que está manifestada a justiça de Deus… mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os crentes. De facto não há distinção, porque todos pecaram e estão privados da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, por meio da redenção que se realiza em Jesus Cristo, que Deus apresentou como vitima de propiciação pelo Seu próprio sangue, mediante a fé” (3,21-25)
Qual é portanto a justiça de Cristo? É antes de mais a justiça que vem da graça, onde não é o homem que repara, que cura si mesmo e os outros. O facto de que a “expiação” se verifique no “sangue” de Jesus significa que não são os sacrifícios do homem a libertá-lo do peso das suas culpas, mas o gesto do amor de Deus que se abre até ao extremo, até fazer passar em si “ a maldição” que toca ao homem, para lhe transmitir em troca a “bênção” que toca a Deus (cfr Gal 3,13-14). Mas isto levanta imediatamente uma objecção: que justiça existe lá onde o justo morre pelo culpado e o culpado recebe em troca a bênção que toca ao justo? Desta maneira cada um não recebe o contrário do que é “seu”? Na realidade, aqui manifesta-se a justiça divina, profundamente diferente da justiça humana. Deus pagou por nós no seu Filho o preço do resgate, um preço verdadeiramente exorbitante. Perante a justiça da Cruz o homem pode revoltar-se, porque ele põe em evidencia que o homem não é um ser autárquico , mas precisa de um Outro para ser plenamente si mesmo. Converter-se a Cristo, acreditar no Evangelho, no fundo significa precisamente isto: sair da ilusão da auto suficiência para descobrir e aceitar a própria indigência – indigência dos outros e de Deus, exigência do seu perdão e da sua amizade.
Compreende-se então como a fé não é um facto natural, cómodo, obvio: é necessário humildade para aceitar que se precisa que um Outro me liberte do “meu”, para me dar gratuitamente o “seu”. Isto acontece particularmente nos sacramentos da Penitencia e da Eucaristia. Graças á acção de Cristo, nós podemos entrar na justiça “ maior”, que é aquela do amor ( cfr Rom 13,8-10), a justiça de quem se sente em todo o caso sempre mais devedor do que credor, porque recebeu mais do que aquilo que poderia esperar.
Precisamente fortalecido por esta experiencia, o cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebem o necessário para viver segundo a própria dignidade de homem e onde a justiça é vivificada pelo amor.
Queridos irmãos e irmãs, a Quaresma culmina no Tríduo Pascal, no qual também este ano celebraremos a justiça divina, que é plenitude de caridade, de dom, de salvação. Que este tempo penitencial seja para cada cristão tempo de autentica conversão e de conhecimento intenso do mistério de Cristo, que veio para realizar a justiça. Com estes sentimentos, a todos concedo de coração, a Bênção Apostólica.
Vaticano, 30 de Outubro de 2009
BENEDICTUS PP. XVI
© Copyright 2009 - Libreria Editrice Vaticana
O meu testemunho é verdadeiro...

Era o ano de 1997. Era Inverno. Não me recordo o dia mas sei que era Sábado, porque era aos sábados que fazíamos a limpeza e outros trabalhos. Ameaçava chover. Nesse dia deram-me uma ordem. O padre director, um homem desprezível em todos os sentidos, dera-me a seguinte ordem: «queima todos os livros». Eu pensava que eram livros de ponto ou livros escolares que já não serviam mas, quando cheguei a um descampado junto ao campo de futebol deparei-me com este cenário: colegas meus descarregavam carrinhos de mão cheios de breviários antigos.
A ordem era eu queimá-los a todos. Senti-me triste… eram dezenas, cerca de uma centena e meia. Comecei a rasgá-los e ao mesmo tempo a conhecê-los… As capas eram em couro trabalhado e as folhas com tons ora encarnados ora dourados. Alguns, já meio destruídos pelo desprezo a que foram voltados desde a reforma litúrgica dos anos 70 e 80. Meios podres devido à humidade, meios comidos, porém, alguns ainda em bom estado. “Queima tudo”, assim ecoava a voz do padre. Conforme ia rasgando e queimando deparei-me com as imagens desses livros: Cristo crucificado, Nossa Senhora…
Passados uns minutos veio um colega ajudar-me. Então começamos a poupar as páginas com as imagens. Mas o que fazer a tantas? Lá tivemos que queimá-las também. Felizmente ainda guardei uma, uma imagem de Cristo crucificado que infelizmente perdi. (As imagens que eu mais gosto são a do Sagrado Coração de Jesus e Jesus Crucificado.) Começou a chuviscar e fomo-nos embora. Ali estiveram meios a arder e a apanhar a chuva. Ao outro dia ouvi um dos maiores raspanetes da minha vida: «Não te disse que era prós queimar a todos»? O padre parecia endemoninhado porque muitos livros, como é óbvio, não arderam. Felizmente não lhe deu para me bater, como já o tinha feito várias vezes. E assim fui feito executor do inquisidor da Igreja. Queimei os livros do Índex Católico… Hoje arrependo-me de o ter feito e de não ter ficado com alguns…
Passados uns tempos fui destacado para ajudar um sacerdote a organizar os arquivos do seminário. À hora marcada tinha de estar junto da biblioteca “proibida”. Eu chamava-lhe proibida porque não podíamos entrar lá. Mas um dia levaram-nos lá. Havia livros muito antigos mas não nos deixaram tocar ou aproximar deles.
À hora marcada tinha de entrar por um corredor, subir as escadas até ao último andar e esperar lá pelo sacerdote. Acontece que um dia fui mais cedo. Sentei-me no último degrau à espera dele e vi um armário meio aberto. Fui lá, abri a porta e puxei uma gaveta do interior do móvel. Estava lá um dos paramentos mais bonitos que já vira. Era vermelho!... Só o vi a ser usado uma vez. Nunca mais me foi permitido aceder a esse espaço até porque a minha função já tinha terminado. O meu trabalho nos arquivos consistia em ajudar o sacerdote idoso a carregar os livros de ponto e a organizá-los numa estante. Deparei-me com inúmeras fotografias em que se via o clero com batina e cabeção assim como era o dia-a-dia do seminário naquele tempo.
Desde então comecei a perceber que tinha existido uma outra Igreja. Uma Igreja completamente diferente daquela que existe hoje. Dei-me conta porque fui descobrindo-a por estas pequeninas coisas e comecei a juntar 1+2. Naquele tempo não imaginava o que era o Rito Tridantino, só sabia que antigamente se rezava a Missa em Latim e pensava que a Missa de “hoje” (ou novus ritus), era igual à Missa de ontem excepto na língua. Que os padres usavam a batina. Não sabia o que era a sobrepeliz ou o tricórnio e muito menos o que era a alva antiga ou o amito. Não percebia porque razão havia altares colados às paredes e outro no meio da capela-mor, não sabia para que servia aquelas duas casinhas no fundo da capela, mais tarde fiquei a saber que eram confessionários e para que serviam. Não sabia porque razão, na porta sacristia que dava para a capela havia uma pia de água benta e tantas outras coisas.
Com o passar dos tempos comecei a descobrir muita coisa, sobretudo quando comecei a dar catequese e a fazer a minha própria investigação. Mas é com certo orgulho que digo que o que eu sei hoje, sobretudo na área da liturgia, fui adquirido fora do seminário e na minha relação de amizade com o meu antigo pároco que me falava do seu tempo de seminarista e de jovem padre e das velhas recordações que guarda desse tempo como os breviários em latim, dos livros, a Suma Teológica em latim, os cadernos, as fotografias e tantas outras coisas algumas que me deu como os Sermões de Sto. António em latim.
Nunca fui a uma Missa Tridentina... Espero um dia ter essa graça de Deus... Quem sabe, presidi-la pois nunca deixei de sentir o chamado de Deus. Gostava de ser Sacerdote, mas não do mesmo modo que muitos são nesta Igreja nascida do C. V. II
Saí do seminário em 1997.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Missa Sacrílega - I

O Lirvo da Confiança
sábado, 12 de setembro de 2009
EM FÁTIMA – LIBERTAÇÃO E CONVERSÃO
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Milagre em Fátima - Parte II
De entre os que, de boa ou má fé, saem da Santa Igreja Católica Apostólica Romana para se passsarem às heresias protestantes, só Deus e Nossa Senhora sabem porque fui chamado à graça sem par da conversão.
Tudo quanto eu posso afirmar é que a minha boa e saudosa mãe chorava e rezava por mim! Era uma mulher muito piedosa e foi fiel como uma verdadeira cristã. Eu tentei levá-la enganada ao «culto» da minha seita. Ela, porém, tendo percebido logo do que se tratava, repeliu sem remissão a heresia. Mas não abandonou a minha alma! Com fé, voltou-se então paea a oração persistente e confiante. No seu trabalho caseiro e pelos caminhos, rezava o «terço» continuamente. De certo, as suas lágrimas e orações subiram ao Céu, comovendo o Coração da Mãe das mães!
«O Espírito sopra aonde quer» e a graça de Deus é invencível. Assim foi dominado este encarniçado hereje pela bondade e poderosa intercessão de Nossa Senhora, alcançando-me de Seu Divino Filho a salvação e a paz.
E foi numa daquelas peregrinações que eu tanto amaldiçoava, organizada por almas generosas e cheias de fé, e que assim foram, de certo modo, recompensadas!
Continuando a minha história, chego ao ponto em que me encontrei empregado na Sociedade de Vinhos do Porto Constantino. Os meus patrões, Srs. Fernando Moreira de Almeida e Fernando Maria Guedes de Almeida, seu filho, são pessoas sinceramente religiosas.
Em Junho de 1953, resolveram levar todo o Pessoal, por conta da Casa, em peregrinação a Fátima, no dia 13. quanto a mim, aceitei a ideia radiante, tanto mais que «o passeio» (como eu lhe chamava a rir...) era de graça. E formei logo um plano: espalharia a minha propaganda herética no seio da própria peregrinação! Tencionava exercer nos meus companheiros toda a influência contrá´ria à Fé Católica que eu pudesse. Ao mesmo tempo, de tudo o que visse na Cova da Iria, esperava encontrar motivo para depois «pregar» contra Fátima. Estava seguro do êxito dos meus maus propósitos e, portanto, incorporar-me-ia muito satisfeito na peregrinação.
Ora, Deus escreve direito por linhas tortas!...
Como preparação, houve uns dias de pregações por um Religioso Franciscano.
Ouvi dizer, nessa ocasião, que «ninguém vai a Fátima com as mãos vazias». Mal imaginava eu, que zombava escarninho de tudo aquilo, que as havia trazer, de facto, cheiinhas a transbordar!...
Como é costume, partimos no dia 12. fomos percorrendo os lugares já consagrados, como Santa Maria de Alcobaça e Santa Maira da Vitória, «a Batalha». Estes dois templos grandiosos foram erguidos pela fé dos nossos Antepassados e são o assombro de todos quantos visitam. Aquelas pedras gloriosas exaltam os feitos patrióticos e a perseverante Fé Católica da Nação Portuguesa, sempre unida às maiores e mais pouras glórias. Porém, eu sentia-me desligado daFé e, portanto, da História da minha Pátria... e foi ali mesmo que, pelo contrário, eu senti mais ao vivo o meu fanatismo demoníaco e protestante, e assim o demonstrei. Olhava para o que me rodeava com desdém e raiva. E, na ânsia de amesquinhar todos aqueles belos e eloquentes testemunhos da nossa Fé secular, criticava tudo com acinte desprezo, escarnecendo de quanto ali representa a Santa Religião em que nasceu Portugal.
Ria-me e fazia rir os meus companheiros deprevenidos, ou sem convicções firmes. Outros, porém, aborrecidos com a minha atitude, afastavam-se ou ameaçavam queixar-se aos nossos chefes, o que, aliás por bondade, não fizeram.
Mas eu é que não podia calar!
Conformee, depois, íamos subindo a montanha bendita de Fátima e eu avistava os cruzeiros da Via-Sacra, enchia-me de tremenda fúria contra o sinal da cruz.
Na camioneta, sem me calar um momento, continuava asempre com a propaganda escarninha e demolidora. Tentava por todos os meios tirar aos meus companheiros a pouca ou muita fé com que eles se aproximavam do lugar abençoado da Visitação de Nossa Senhora a Portugal e ao Mundo!
Chegámos ao Santuário pelas vinte horas. As nossas camionetas pararam junto da Praceta de São José. Logo ali apareceu um rapzazinho a apregoar «velinhas». Então, no meio de muita galhofa, comprei uma, que havia de ficar memorável!...
Em seguida ao jantar, todos nos reunimos ao Sr. Fernando Moreira de Almeida e sua Ex.ma Esposa, a Sr.a D. Maria Leonor, amos Servitas de Nossa Senhora. M éramos mais de duzentas pessoas, com as nossas famílias. Eles aguardavam junto da Capelinha das Aparições para distribuirem gratuitamente as velas aos que as quisessem.
Entretanto, principiou a reza do «terço».
Eu continuava, agora em voz baixa, a zombar de tudo. O locutor do Santuário anunciou que se ia formar a procissão. Os carrilhões da Basílica guiavam o povo nos lindo cânticos de Fátima. Apareceram as primeiras luzinhas trémulas e, daí a pouco, era um mar de luz que alastrava!...
Eu estava convencido de que Fátima era uma mentira. Não podia sequer imaginar o que ali via gora com os meus olhos espantados! Fiquei furioso contra a multidão dos Fiéis. Tinha ânsias de desatar a descompor e a correr à pancada dali para fora toda aquela gente! A minha raiva crescia e subia como maré viva. Quando ouvi anunciar a saída do andor com a Imagem de Nossa Senhora de Fátima, comecei a tremer de violenta e mal contida ira.
De repnte, avistei-a! Julguei enlouquecer de ódio! É indiscritível o furor que então me assaltou. Pareia louco de raiva! Terríveis blasfemeas saíram da minha boca por entre os dentes cerrados. Fechei os punhos convulsos e encarei-a com verdadeiro e satênico ódio pessoal. De certo, já fui contido pelo poder divino e, só assim, não me atirei a ela para a desfazer com as mãos e os dentes, como diabólicamente me apeteceu!
O Inferno odeia Nossa Senhora! Para ele é a Inimiga desde o Princípio (Gen.3,15). Naquele lugar Ela é a vencedora, aclamada em todo o Mundo, desta grande Batalha de Deus, que é Fátima no nosso tempo apocalíptico! A Mulher bendita - «terrível como exército em ordem de batalha» - ali veiotrazer a Mensagem que, mais uma vez, congrega os Filhos de Deus para o Bom Combate, vivificando a Fé, renovando a Esperança e tudo abrasando na Caridade.
Outrora o Povo Escolhido devia ver nas imagens de ouro dos Querubins (mandadas colocar por Deus na Arca da Aliança) o símbolo da reverência devida à Glória do Altíssimo, manifestada do meio das asas estendidas (Ex.25, 18-22).
Certamente que, na branca imagem da Virgem Mãe do Messias – Arca da Nova Aliança – o Inimigo há-de ver o sinal da Presença, na Glória de Seu Filho, d’Aquela que, por Ele, lhe esmaga a cabeça.
E naquele terrível instante terá sido, então, pressentida a grande e próxima derrota que lhe ia ser infligida pelo poder misericordioso da Senhora, porque aqueles momentos foram realamente demoníacos e medonhos. Eu atingira a curva máxima do meu ódio!
Quando deles me lembro, ainda sofro!
Bendita seja Nossa Senhora que mos perdoou tão generosamente! Bendita seja!
Entretanto, obedecendo à voz do locutor, a procissão ia-se formando e nós começámos a caminhar todos juntos. Os meus companheiros trataram de acender as suas velas.
Com os nossos bons patrões à frente, seguíamos perto do andor. Era um espectáculo comovente! Mas eu, raivoso de despeito, não cessava de escarnecer e rir. Para evitar de dar nas vistas do meu chefe, resolvi divertir-me e acender também a minha luz, dizendo sempre mil graçolas blasfemas. Voltei-me, pois, para um dos meus coleas e acendi na dele a minha vela.
E começou aqui o prodígio:
No mesmo instante em que, depois de acesa, a endireitei, ela apagou-se de repente! Pedi a outro e tornei a acendê-la, risonho e irónico. Num ápice, voltou a apagar-se.
Comecei então a teimar muito divertido, terceira, quarta e quinta vez, mas já um tanto enervado... contudo, continuava a rir e a galhofar, dizendo que «se calhar eu fora burlado e a minha vela não era igual à dos outros1» Pois se, de cada vez que eu a acendia, via brilhar a chama muito viva, e em seguida extinguir-se, de súbito, misteriosamente! Era mesmo como se apagassem! Que significava aquilo?!
O tempo estava sereno e eu, olhando à minha volta e junto de mim, avistava ao longe e ao perto as velas acesas de toda aquela multidão, que brilhavam na noite como estrelinhas em prece. Ah! Mas eu não desisteria!
Querendo mostrar-me forte e seguro, apesar de as mãos me tremerem um pouco, ria-me e teimava sempre! Comecei assim a pedir lume a uma e outra das pessoas que passavam ao meu lado a cantar, comas as suas velinhas a brilhar.
Enquanto eu parava um instante para acender a minha luz – e ela se apagava de maneira tão insólita! – os meus companheiros já iam longe...
E eu sempre a acender a minha vela! E ela a apagar-se inexplicávelmente! Parecia que lhe sopravam!
Perdi a conta do número de vezes que a acendi e vi extinguir-se de forma tão extranha a chama viva! Despeitado e escarninho, teimei enquanto pude. Por fim, já não me ria... pois principiei a reparar, desconfiado e espantado, que afinal, aquilo só a mim acontecia!
Do fundo da minha consciência parecia querer subir um aviso silencioso...
Precisamente quando eu começava a sentir-me abalado, aconteceu o pior: todo o meu corpo foi como que «aprisionado», saudido por um estremeção e trespassado por frio de morte. Ao mesmo tempo, começou a correr-me da cabeça aos pés um copioso e gelado suor!
Assombrado e aterrado, deitei as mãos à cabeça: tinha os cabelos duros, inteiriçados e em pé! Perguntava a mim mesmo, transido de pasmo, o que seria aquilo?! Só então, no meio de grande perturbação, é que desisti de acender a minha vela.
Na maior ansiedade, procurei com um olhar aflito os meus companheiros, para me ajuntar a eles e buscar amparo. Avistei, lá longe, o andor branco da Senhora... Lembrei-me logo de que eles deviam ir ali pertinho d’Ela! Quis ir também!...
Mas foi então que experimentei o maior terror da minha vida: assim que este pensamento salvador despertou na minha mente, caiu sobre mim, bem em cima dos meus ombros, um «peso» insuportável! Eu queria ir... mas, conforme levantava um pé (ou tentava levantá-lo) para caminhar ao encontro de Nossa Senhora, o terrível «peso» era cada vez maior e, com incrível força, prendeu-me ao chão! Todo a tremer, banhado em suores frios, com a língua enrolada dentro da boca endurecida, sentia-me sucumbir debaixo daquele medonho «peso» e aprisionado num laço implacável. Ao mesmo tempo, todo o meu ser, físico e intelectual, era trespassado por uma indiscritível e pavorosa agonia!
Cheio de terror, quis gritar. Julguei mesmo que gritava a pedir socorro, mas ninguém me ouvia, nem via o que me estava a acontecer! Eu ficara ali, no meio de tanta gente, «aprisionado» e «mudo»!...alma prisioneira, para me libertar daquela «prisão»! o meu sofrimento era atroz! Nunca o esquecerei. Ainda ho
A procissão era um sereno rio de luz, na noite escura e branda. Os peregrinos, com velas acesas diante dos rostos felizes, passavam rezando e cantando, com os olhos postos na suave Imagem da Senhora das pombas brancas... Desviam-se pacientemente de mim e continuavam sempre em frente!
E eu a debater-me, ali, angustiado, a lutar desesperadamente na minha pobre alma prisioneira, para me libertar daquela «prisão»! o meu sofrimento era atroz! Nunca me esquecerei. Ainda hoje estremeço quando nele penso! Posso afirmar que sentia e ouvia ranger os meus ossos. Tais eram os esforços sobre-humanos que fazia para me mexer e livrar daquela terrível prisão. Mas uma «força» incrível chumbava-me ao chão! E tudo foi inútil!
Não pude alcançar Nossa Senhora no seu andor branco e florido!
Jamais encontrarei as palavras próprias para dar uma pálida ideia do que sofri e do meu terror naqueles momentos!
Contudo, e apesar disso, eu ainda blasfemava, , a! Essa era a minha ânsia. Fugir dali!
Mas como, se eu estava «preso» e esmagado debaixo daquele «carrego» insuportável? Raciocinava, mas não era senhor dos meus movimentos. Oh! Que pavorosos momentos.
Lá longe, voltada agora de frente para mim, Nossa Senhora regressava em triunfo e rodeada de veneração e amor, à sua humilde Capelinha...
E foi então que senti, de súbito, que uma força poderosa e incrível me fazia virar para a Basílica, impelindo-me para a frente! Conheci que podia, enfim, fugir «àquilo» que pesava como chumbo sobre os meus ombros! fugir,gora só em pensamento, porque não podia falar.
Debatendo-me naquela medonha aflição e esmagado sob o insólito «carrego», comecei por fim a lembrar-me vagamente de que aquilo tudo podia ser castigo...
Mas, então, é porque eu estava enganado e ali é que se encontrava a VERDADE!?
Teimosamente resisi a este salutar pensamento! Apeguei-me com desespero aos erros antigos e ao despreezo que aprendera a sentir no Protestantismo pela Mãe do Senhor!
E, no meio desta espantosa luta, esforçava-me em vão por fugir! Essa era a minha ânsia. Fugir dali!
Mas como, se eu esva «preso» e esmagado ddebaixo daquele «carrego» insuportável? Raciocinava, mas não era senhor dos meus movimentos. Oh! Que pavorosos momentos!
Lá longe, voltada agora de frente para mim, Nossa Senhora regressava em triunfo e rodeada de veneração e amor, à sua humilde Capelinha...
E foi então que senti, de súbito, que uma força poderosa e invencível me fazia virar para a Basílica, impelindo-me para a frente! Conheci que podia, enfim, fugir «àquilo» que pesava como chumbo sobre os meus ombros! Fugir, alcançar um refúgio, libertar-me! Comecei a andar...
Tomando de grande aflição, vi-me a atravessar o Santuário... mas, conforme me aproximava da Basílica – ia para lá como que conduzido, sem pensar nem querer! – o meu andar tornava-se mais fácil...
Ao chegar à escadaria já a pude subir quase a correr. Meti como uma seta pela Basílica dentro, sempre a direito, como levado por vigoroso e irresistível impulso, e szó parei diante do Altar-mor, do lado do túmulo do Francisco, onde caí, enfim, de joelhos! Ali fiquei longos minutos, todo trémulo, com olhar vago, sem saber onde estava.
Poré, aquele horrível «peso» e aquela estranha «prisão» mostravam agora uma espécie de fraqueza... soltava-se-me a língua e eu balbuciei algumas palavras enquanto começava a ter consciência de tudo o que me rodeava e do que via...
E foi então que os meus pobres olhos dilatados de angústia... depararam com a bendita imagem da Senhora, ao lado do Altar. Súbitamente lúcido, fitei-A assombrado... e, (não me atrevo a afirmá-lo!) pareceu-me que a via sorrir-se para mim! E esse instante fiquei livre e completamente mudado.
Sim, foi nesse minuto de graça que eu senti a alma liberta do véu espesso do erro e o corpo daquela «prisão» maligna. Num relance dera-se o prodígio... apesar do meu ódio protestante contra as santas imaggens! A lição é digna de ser meditada...
A tremer, comovido, eu não tirava o olhar deslumbrado dAquele «Sinal» da misericórdia divina, sentindo que nascia de novo. Agora, o meu coração era manso e humilde, e eis que a orgulhosa cerviz do hereje se abatera diante d’Aquela que tanto desprezara e que todas as gerações aclamarão Bem-aventurada, pois o Omnipotente obrou n’Ela grandes maravilhas (c.1,48,49)