Creatus est homo ad hunc finem,
ut Dominum Deum suum laudet,
revereatur, eique serviens tandem salvus fiat.

(O homem foi criado para este fim:
louvar, reverenciar, servir ao Senhor seu Deus,
e assim salvar a sua alma. Exercícios, Sto. Inácio, vol.I)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Milagre em Fátima - Parte II

II – EM FÁTIMA – LIBERTAÇÃO – 12 e 13 de Junho de 1953

De entre os que, de boa ou má fé, saem da Santa Igreja Católica Apostólica Romana para se passsarem às heresias protestantes, só Deus e Nossa Senhora sabem porque fui chamado à graça sem par da conversão.
Tudo quanto eu posso afirmar é que a minha boa e saudosa mãe chorava e rezava por mim! Era uma mulher muito piedosa e foi fiel como uma verdadeira cristã. Eu tentei levá-la enganada ao «culto» da minha seita. Ela, porém, tendo percebido logo do que se tratava, repeliu sem remissão a heresia. Mas não abandonou a minha alma! Com fé, voltou-se então paea a oração persistente e confiante. No seu trabalho caseiro e pelos caminhos, rezava o «terço» continuamente. De certo, as suas lágrimas e orações subiram ao Céu, comovendo o Coração da Mãe das mães!
«O Espírito sopra aonde quer» e a graça de Deus é invencível. Assim foi dominado este encarniçado hereje pela bondade e poderosa intercessão de Nossa Senhora, alcançando-me de Seu Divino Filho a salvação e a paz.
E foi numa daquelas peregrinações que eu tanto amaldiçoava, organizada por almas generosas e cheias de fé, e que assim foram, de certo modo, recompensadas!
Continuando a minha história, chego ao ponto em que me encontrei empregado na Sociedade de Vinhos do Porto Constantino. Os meus patrões, Srs. Fernando Moreira de Almeida e Fernando Maria Guedes de Almeida, seu filho, são pessoas sinceramente religiosas.
Em Junho de 1953, resolveram levar todo o Pessoal, por conta da Casa, em peregrinação a Fátima, no dia 13. quanto a mim, aceitei a ideia radiante, tanto mais que «o passeio» (como eu lhe chamava a rir...) era de graça. E formei logo um plano: espalharia a minha propaganda herética no seio da própria peregrinação! Tencionava exercer nos meus companheiros toda a influência contrá´ria à Fé Católica que eu pudesse. Ao mesmo tempo, de tudo o que visse na Cova da Iria, esperava encontrar motivo para depois «pregar» contra Fátima. Estava seguro do êxito dos meus maus propósitos e, portanto, incorporar-me-ia muito satisfeito na peregrinação.
Ora, Deus escreve direito por linhas tortas!...
Como preparação, houve uns dias de pregações por um Religioso Franciscano.
Ouvi dizer, nessa ocasião, que «ninguém vai a Fátima com as mãos vazias». Mal imaginava eu, que zombava escarninho de tudo aquilo, que as havia trazer, de facto, cheiinhas a transbordar!...
Como é costume, partimos no dia 12. fomos percorrendo os lugares já consagrados, como Santa Maria de Alcobaça e Santa Maira da Vitória, «a Batalha». Estes dois templos grandiosos foram erguidos pela fé dos nossos Antepassados e são o assombro de todos quantos visitam. Aquelas pedras gloriosas exaltam os feitos patrióticos e a perseverante Fé Católica da Nação Portuguesa, sempre unida às maiores e mais pouras glórias. Porém, eu sentia-me desligado daFé e, portanto, da História da minha Pátria... e foi ali mesmo que, pelo contrário, eu senti mais ao vivo o meu fanatismo demoníaco e protestante, e assim o demonstrei. Olhava para o que me rodeava com desdém e raiva. E, na ânsia de amesquinhar todos aqueles belos e eloquentes testemunhos da nossa Fé secular, criticava tudo com acinte desprezo, escarnecendo de quanto ali representa a Santa Religião em que nasceu Portugal.
Ria-me e fazia rir os meus companheiros deprevenidos, ou sem convicções firmes. Outros, porém, aborrecidos com a minha atitude, afastavam-se ou ameaçavam queixar-se aos nossos chefes, o que, aliás por bondade, não fizeram.
Mas eu é que não podia calar!
Conformee, depois, íamos subindo a montanha bendita de Fátima e eu avistava os cruzeiros da Via-Sacra, enchia-me de tremenda fúria contra o sinal da cruz.
Na camioneta, sem me calar um momento, continuava asempre com a propaganda escarninha e demolidora. Tentava por todos os meios tirar aos meus companheiros a pouca ou muita fé com que eles se aproximavam do lugar abençoado da Visitação de Nossa Senhora a Portugal e ao Mundo!
Chegámos ao Santuário pelas vinte horas. As nossas camionetas pararam junto da Praceta de São José. Logo ali apareceu um rapzazinho a apregoar «velinhas». Então, no meio de muita galhofa, comprei uma, que havia de ficar memorável!...
Em seguida ao jantar, todos nos reunimos ao Sr. Fernando Moreira de Almeida e sua Ex.ma Esposa, a Sr.a D. Maria Leonor, amos Servitas de Nossa Senhora. M éramos mais de duzentas pessoas, com as nossas famílias. Eles aguardavam junto da Capelinha das Aparições para distribuirem gratuitamente as velas aos que as quisessem.
Entretanto, principiou a reza do «terço».
Eu continuava, agora em voz baixa, a zombar de tudo. O locutor do Santuário anunciou que se ia formar a procissão. Os carrilhões da Basílica guiavam o povo nos lindo cânticos de Fátima. Apareceram as primeiras luzinhas trémulas e, daí a pouco, era um mar de luz que alastrava!...
Eu estava convencido de que Fátima era uma mentira. Não podia sequer imaginar o que ali via gora com os meus olhos espantados! Fiquei furioso contra a multidão dos Fiéis. Tinha ânsias de desatar a descompor e a correr à pancada dali para fora toda aquela gente! A minha raiva crescia e subia como maré viva. Quando ouvi anunciar a saída do andor com a Imagem de Nossa Senhora de Fátima, comecei a tremer de violenta e mal contida ira.
De repnte, avistei-a! Julguei enlouquecer de ódio! É indiscritível o furor que então me assaltou. Pareia louco de raiva! Terríveis blasfemeas saíram da minha boca por entre os dentes cerrados. Fechei os punhos convulsos e encarei-a com verdadeiro e satênico ódio pessoal. De certo, já fui contido pelo poder divino e, só assim, não me atirei a ela para a desfazer com as mãos e os dentes, como diabólicamente me apeteceu!
O Inferno odeia Nossa Senhora! Para ele é a Inimiga desde o Princípio (Gen.3,15). Naquele lugar Ela é a vencedora, aclamada em todo o Mundo, desta grande Batalha de Deus, que é Fátima no nosso tempo apocalíptico! A Mulher bendita - «terrível como exército em ordem de batalha» - ali veiotrazer a Mensagem que, mais uma vez, congrega os Filhos de Deus para o Bom Combate, vivificando a Fé, renovando a Esperança e tudo abrasando na Caridade.
Outrora o Povo Escolhido devia ver nas imagens de ouro dos Querubins (mandadas colocar por Deus na Arca da Aliança) o símbolo da reverência devida à Glória do Altíssimo, manifestada do meio das asas estendidas (Ex.25, 18-22).
Certamente que, na branca imagem da Virgem Mãe do Messias – Arca da Nova Aliança – o Inimigo há-de ver o sinal da Presença, na Glória de Seu Filho, d’Aquela que, por Ele, lhe esmaga a cabeça.
E naquele terrível instante terá sido, então, pressentida a grande e próxima derrota que lhe ia ser infligida pelo poder misericordioso da Senhora, porque aqueles momentos foram realamente demoníacos e medonhos. Eu atingira a curva máxima do meu ódio!
Quando deles me lembro, ainda sofro!
Bendita seja Nossa Senhora que mos perdoou tão generosamente! Bendita seja!
Entretanto, obedecendo à voz do locutor, a procissão ia-se formando e nós começámos a caminhar todos juntos. Os meus companheiros trataram de acender as suas velas.
Com os nossos bons patrões à frente, seguíamos perto do andor. Era um espectáculo comovente! Mas eu, raivoso de despeito, não cessava de escarnecer e rir. Para evitar de dar nas vistas do meu chefe, resolvi divertir-me e acender também a minha luz, dizendo sempre mil graçolas blasfemas. Voltei-me, pois, para um dos meus coleas e acendi na dele a minha vela.
E começou aqui o prodígio:
No mesmo instante em que, depois de acesa, a endireitei, ela apagou-se de repente! Pedi a outro e tornei a acendê-la, risonho e irónico. Num ápice, voltou a apagar-se.
Comecei então a teimar muito divertido, terceira, quarta e quinta vez, mas já um tanto enervado... contudo, continuava a rir e a galhofar, dizendo que «se calhar eu fora burlado e a minha vela não era igual à dos outros1» Pois se, de cada vez que eu a acendia, via brilhar a chama muito viva, e em seguida extinguir-se, de súbito, misteriosamente! Era mesmo como se apagassem! Que significava aquilo?!
O tempo estava sereno e eu, olhando à minha volta e junto de mim, avistava ao longe e ao perto as velas acesas de toda aquela multidão, que brilhavam na noite como estrelinhas em prece. Ah! Mas eu não desisteria!
Querendo mostrar-me forte e seguro, apesar de as mãos me tremerem um pouco, ria-me e teimava sempre! Comecei assim a pedir lume a uma e outra das pessoas que passavam ao meu lado a cantar, comas as suas velinhas a brilhar.
Enquanto eu parava um instante para acender a minha luz – e ela se apagava de maneira tão insólita! – os meus companheiros já iam longe...
E eu sempre a acender a minha vela! E ela a apagar-se inexplicávelmente! Parecia que lhe sopravam!
Perdi a conta do número de vezes que a acendi e vi extinguir-se de forma tão extranha a chama viva! Despeitado e escarninho, teimei enquanto pude. Por fim, já não me ria... pois principiei a reparar, desconfiado e espantado, que afinal, aquilo só a mim acontecia!
Do fundo da minha consciência parecia querer subir um aviso silencioso...
Precisamente quando eu começava a sentir-me abalado, aconteceu o pior: todo o meu corpo foi como que «aprisionado», saudido por um estremeção e trespassado por frio de morte. Ao mesmo tempo, começou a correr-me da cabeça aos pés um copioso e gelado suor!
Assombrado e aterrado, deitei as mãos à cabeça: tinha os cabelos duros, inteiriçados e em pé! Perguntava a mim mesmo, transido de pasmo, o que seria aquilo?! Só então, no meio de grande perturbação, é que desisti de acender a minha vela.
Na maior ansiedade, procurei com um olhar aflito os meus companheiros, para me ajuntar a eles e buscar amparo. Avistei, lá longe, o andor branco da Senhora... Lembrei-me logo de que eles deviam ir ali pertinho d’Ela! Quis ir também!...
Mas foi então que experimentei o maior terror da minha vida: assim que este pensamento salvador despertou na minha mente, caiu sobre mim, bem em cima dos meus ombros, um «peso» insuportável! Eu queria ir... mas, conforme levantava um pé (ou tentava levantá-lo) para caminhar ao encontro de Nossa Senhora, o terrível «peso» era cada vez maior e, com incrível força, prendeu-me ao chão! Todo a tremer, banhado em suores frios, com a língua enrolada dentro da boca endurecida, sentia-me sucumbir debaixo daquele medonho «peso» e aprisionado num laço implacável. Ao mesmo tempo, todo o meu ser, físico e intelectual, era trespassado por uma indiscritível e pavorosa agonia!
Cheio de terror, quis gritar. Julguei mesmo que gritava a pedir socorro, mas ninguém me ouvia, nem via o que me estava a acontecer! Eu ficara ali, no meio de tanta gente, «aprisionado» e «mudo»!...alma prisioneira, para me libertar daquela «prisão»! o meu sofrimento era atroz! Nunca o esquecerei. Ainda ho
A procissão era um sereno rio de luz, na noite escura e branda. Os peregrinos, com velas acesas diante dos rostos felizes, passavam rezando e cantando, com os olhos postos na suave Imagem da Senhora das pombas brancas... Desviam-se pacientemente de mim e continuavam sempre em frente!
E eu a debater-me, ali, angustiado, a lutar desesperadamente na minha pobre alma prisioneira, para me libertar daquela «prisão»! o meu sofrimento era atroz! Nunca me esquecerei. Ainda hoje estremeço quando nele penso! Posso afirmar que sentia e ouvia ranger os meus ossos. Tais eram os esforços sobre-humanos que fazia para me mexer e livrar daquela terrível prisão. Mas uma «força» incrível chumbava-me ao chão! E tudo foi inútil!
Não pude alcançar Nossa Senhora no seu andor branco e florido!
Jamais encontrarei as palavras próprias para dar uma pálida ideia do que sofri e do meu terror naqueles momentos!
Contudo, e apesar disso, eu ainda blasfemava, , a! Essa era a minha ânsia. Fugir dali!
Mas como, se eu estava «preso» e esmagado debaixo daquele «carrego» insuportável? Raciocinava, mas não era senhor dos meus movimentos. Oh! Que pavorosos momentos.
Lá longe, voltada agora de frente para mim, Nossa Senhora regressava em triunfo e rodeada de veneração e amor, à sua humilde Capelinha...
E foi então que senti, de súbito, que uma força poderosa e incrível me fazia virar para a Basílica, impelindo-me para a frente! Conheci que podia, enfim, fugir «àquilo» que pesava como chumbo sobre os meus ombros! fugir,gora só em pensamento, porque não podia falar.
Debatendo-me naquela medonha aflição e esmagado sob o insólito «carrego», comecei por fim a lembrar-me vagamente de que aquilo tudo podia ser castigo...
Mas, então, é porque eu estava enganado e ali é que se encontrava a VERDADE!?
Teimosamente resisi a este salutar pensamento! Apeguei-me com desespero aos erros antigos e ao despreezo que aprendera a sentir no Protestantismo pela Mãe do Senhor!
E, no meio desta espantosa luta, esforçava-me em vão por fugir! Essa era a minha ânsia. Fugir dali!
Mas como, se eu esva «preso» e esmagado ddebaixo daquele «carrego» insuportável? Raciocinava, mas não era senhor dos meus movimentos. Oh! Que pavorosos momentos!
Lá longe, voltada agora de frente para mim, Nossa Senhora regressava em triunfo e rodeada de veneração e amor, à sua humilde Capelinha...
E foi então que senti, de súbito, que uma força poderosa e invencível me fazia virar para a Basílica, impelindo-me para a frente! Conheci que podia, enfim, fugir «àquilo» que pesava como chumbo sobre os meus ombros! Fugir, alcançar um refúgio, libertar-me! Comecei a andar...
Tomando de grande aflição, vi-me a atravessar o Santuário... mas, conforme me aproximava da Basílica – ia para lá como que conduzido, sem pensar nem querer! – o meu andar tornava-se mais fácil...
Ao chegar à escadaria já a pude subir quase a correr. Meti como uma seta pela Basílica dentro, sempre a direito, como levado por vigoroso e irresistível impulso, e szó parei diante do Altar-mor, do lado do túmulo do Francisco, onde caí, enfim, de joelhos! Ali fiquei longos minutos, todo trémulo, com olhar vago, sem saber onde estava.
Poré, aquele horrível «peso» e aquela estranha «prisão» mostravam agora uma espécie de fraqueza... soltava-se-me a língua e eu balbuciei algumas palavras enquanto começava a ter consciência de tudo o que me rodeava e do que via...
E foi então que os meus pobres olhos dilatados de angústia... depararam com a bendita imagem da Senhora, ao lado do Altar. Súbitamente lúcido, fitei-A assombrado... e, (não me atrevo a afirmá-lo!) pareceu-me que a via sorrir-se para mim! E esse instante fiquei livre e completamente mudado.
Sim, foi nesse minuto de graça que eu senti a alma liberta do véu espesso do erro e o corpo daquela «prisão» maligna. Num relance dera-se o prodígio... apesar do meu ódio protestante contra as santas imaggens! A lição é digna de ser meditada...
A tremer, comovido, eu não tirava o olhar deslumbrado dAquele «Sinal» da misericórdia divina, sentindo que nascia de novo. Agora, o meu coração era manso e humilde, e eis que a orgulhosa cerviz do hereje se abatera diante d’Aquela que tanto desprezara e que todas as gerações aclamarão Bem-aventurada, pois o Omnipotente obrou n’Ela grandes maravilhas (c.1,48,49)

Sem comentários: