Creatus est homo ad hunc finem,
ut Dominum Deum suum laudet,
revereatur, eique serviens tandem salvus fiat.

(O homem foi criado para este fim:
louvar, reverenciar, servir ao Senhor seu Deus,
e assim salvar a sua alma. Exercícios, Sto. Inácio, vol.I)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Milagre em Fátima - Parte II

II – EM FÁTIMA – LIBERTAÇÃO – 12 e 13 de Junho de 1953

De entre os que, de boa ou má fé, saem da Santa Igreja Católica Apostólica Romana para se passsarem às heresias protestantes, só Deus e Nossa Senhora sabem porque fui chamado à graça sem par da conversão.
Tudo quanto eu posso afirmar é que a minha boa e saudosa mãe chorava e rezava por mim! Era uma mulher muito piedosa e foi fiel como uma verdadeira cristã. Eu tentei levá-la enganada ao «culto» da minha seita. Ela, porém, tendo percebido logo do que se tratava, repeliu sem remissão a heresia. Mas não abandonou a minha alma! Com fé, voltou-se então paea a oração persistente e confiante. No seu trabalho caseiro e pelos caminhos, rezava o «terço» continuamente. De certo, as suas lágrimas e orações subiram ao Céu, comovendo o Coração da Mãe das mães!
«O Espírito sopra aonde quer» e a graça de Deus é invencível. Assim foi dominado este encarniçado hereje pela bondade e poderosa intercessão de Nossa Senhora, alcançando-me de Seu Divino Filho a salvação e a paz.
E foi numa daquelas peregrinações que eu tanto amaldiçoava, organizada por almas generosas e cheias de fé, e que assim foram, de certo modo, recompensadas!
Continuando a minha história, chego ao ponto em que me encontrei empregado na Sociedade de Vinhos do Porto Constantino. Os meus patrões, Srs. Fernando Moreira de Almeida e Fernando Maria Guedes de Almeida, seu filho, são pessoas sinceramente religiosas.
Em Junho de 1953, resolveram levar todo o Pessoal, por conta da Casa, em peregrinação a Fátima, no dia 13. quanto a mim, aceitei a ideia radiante, tanto mais que «o passeio» (como eu lhe chamava a rir...) era de graça. E formei logo um plano: espalharia a minha propaganda herética no seio da própria peregrinação! Tencionava exercer nos meus companheiros toda a influência contrá´ria à Fé Católica que eu pudesse. Ao mesmo tempo, de tudo o que visse na Cova da Iria, esperava encontrar motivo para depois «pregar» contra Fátima. Estava seguro do êxito dos meus maus propósitos e, portanto, incorporar-me-ia muito satisfeito na peregrinação.
Ora, Deus escreve direito por linhas tortas!...
Como preparação, houve uns dias de pregações por um Religioso Franciscano.
Ouvi dizer, nessa ocasião, que «ninguém vai a Fátima com as mãos vazias». Mal imaginava eu, que zombava escarninho de tudo aquilo, que as havia trazer, de facto, cheiinhas a transbordar!...
Como é costume, partimos no dia 12. fomos percorrendo os lugares já consagrados, como Santa Maria de Alcobaça e Santa Maira da Vitória, «a Batalha». Estes dois templos grandiosos foram erguidos pela fé dos nossos Antepassados e são o assombro de todos quantos visitam. Aquelas pedras gloriosas exaltam os feitos patrióticos e a perseverante Fé Católica da Nação Portuguesa, sempre unida às maiores e mais pouras glórias. Porém, eu sentia-me desligado daFé e, portanto, da História da minha Pátria... e foi ali mesmo que, pelo contrário, eu senti mais ao vivo o meu fanatismo demoníaco e protestante, e assim o demonstrei. Olhava para o que me rodeava com desdém e raiva. E, na ânsia de amesquinhar todos aqueles belos e eloquentes testemunhos da nossa Fé secular, criticava tudo com acinte desprezo, escarnecendo de quanto ali representa a Santa Religião em que nasceu Portugal.
Ria-me e fazia rir os meus companheiros deprevenidos, ou sem convicções firmes. Outros, porém, aborrecidos com a minha atitude, afastavam-se ou ameaçavam queixar-se aos nossos chefes, o que, aliás por bondade, não fizeram.
Mas eu é que não podia calar!
Conformee, depois, íamos subindo a montanha bendita de Fátima e eu avistava os cruzeiros da Via-Sacra, enchia-me de tremenda fúria contra o sinal da cruz.
Na camioneta, sem me calar um momento, continuava asempre com a propaganda escarninha e demolidora. Tentava por todos os meios tirar aos meus companheiros a pouca ou muita fé com que eles se aproximavam do lugar abençoado da Visitação de Nossa Senhora a Portugal e ao Mundo!
Chegámos ao Santuário pelas vinte horas. As nossas camionetas pararam junto da Praceta de São José. Logo ali apareceu um rapzazinho a apregoar «velinhas». Então, no meio de muita galhofa, comprei uma, que havia de ficar memorável!...
Em seguida ao jantar, todos nos reunimos ao Sr. Fernando Moreira de Almeida e sua Ex.ma Esposa, a Sr.a D. Maria Leonor, amos Servitas de Nossa Senhora. M éramos mais de duzentas pessoas, com as nossas famílias. Eles aguardavam junto da Capelinha das Aparições para distribuirem gratuitamente as velas aos que as quisessem.
Entretanto, principiou a reza do «terço».
Eu continuava, agora em voz baixa, a zombar de tudo. O locutor do Santuário anunciou que se ia formar a procissão. Os carrilhões da Basílica guiavam o povo nos lindo cânticos de Fátima. Apareceram as primeiras luzinhas trémulas e, daí a pouco, era um mar de luz que alastrava!...
Eu estava convencido de que Fátima era uma mentira. Não podia sequer imaginar o que ali via gora com os meus olhos espantados! Fiquei furioso contra a multidão dos Fiéis. Tinha ânsias de desatar a descompor e a correr à pancada dali para fora toda aquela gente! A minha raiva crescia e subia como maré viva. Quando ouvi anunciar a saída do andor com a Imagem de Nossa Senhora de Fátima, comecei a tremer de violenta e mal contida ira.
De repnte, avistei-a! Julguei enlouquecer de ódio! É indiscritível o furor que então me assaltou. Pareia louco de raiva! Terríveis blasfemeas saíram da minha boca por entre os dentes cerrados. Fechei os punhos convulsos e encarei-a com verdadeiro e satênico ódio pessoal. De certo, já fui contido pelo poder divino e, só assim, não me atirei a ela para a desfazer com as mãos e os dentes, como diabólicamente me apeteceu!
O Inferno odeia Nossa Senhora! Para ele é a Inimiga desde o Princípio (Gen.3,15). Naquele lugar Ela é a vencedora, aclamada em todo o Mundo, desta grande Batalha de Deus, que é Fátima no nosso tempo apocalíptico! A Mulher bendita - «terrível como exército em ordem de batalha» - ali veiotrazer a Mensagem que, mais uma vez, congrega os Filhos de Deus para o Bom Combate, vivificando a Fé, renovando a Esperança e tudo abrasando na Caridade.
Outrora o Povo Escolhido devia ver nas imagens de ouro dos Querubins (mandadas colocar por Deus na Arca da Aliança) o símbolo da reverência devida à Glória do Altíssimo, manifestada do meio das asas estendidas (Ex.25, 18-22).
Certamente que, na branca imagem da Virgem Mãe do Messias – Arca da Nova Aliança – o Inimigo há-de ver o sinal da Presença, na Glória de Seu Filho, d’Aquela que, por Ele, lhe esmaga a cabeça.
E naquele terrível instante terá sido, então, pressentida a grande e próxima derrota que lhe ia ser infligida pelo poder misericordioso da Senhora, porque aqueles momentos foram realamente demoníacos e medonhos. Eu atingira a curva máxima do meu ódio!
Quando deles me lembro, ainda sofro!
Bendita seja Nossa Senhora que mos perdoou tão generosamente! Bendita seja!
Entretanto, obedecendo à voz do locutor, a procissão ia-se formando e nós começámos a caminhar todos juntos. Os meus companheiros trataram de acender as suas velas.
Com os nossos bons patrões à frente, seguíamos perto do andor. Era um espectáculo comovente! Mas eu, raivoso de despeito, não cessava de escarnecer e rir. Para evitar de dar nas vistas do meu chefe, resolvi divertir-me e acender também a minha luz, dizendo sempre mil graçolas blasfemas. Voltei-me, pois, para um dos meus coleas e acendi na dele a minha vela.
E começou aqui o prodígio:
No mesmo instante em que, depois de acesa, a endireitei, ela apagou-se de repente! Pedi a outro e tornei a acendê-la, risonho e irónico. Num ápice, voltou a apagar-se.
Comecei então a teimar muito divertido, terceira, quarta e quinta vez, mas já um tanto enervado... contudo, continuava a rir e a galhofar, dizendo que «se calhar eu fora burlado e a minha vela não era igual à dos outros1» Pois se, de cada vez que eu a acendia, via brilhar a chama muito viva, e em seguida extinguir-se, de súbito, misteriosamente! Era mesmo como se apagassem! Que significava aquilo?!
O tempo estava sereno e eu, olhando à minha volta e junto de mim, avistava ao longe e ao perto as velas acesas de toda aquela multidão, que brilhavam na noite como estrelinhas em prece. Ah! Mas eu não desisteria!
Querendo mostrar-me forte e seguro, apesar de as mãos me tremerem um pouco, ria-me e teimava sempre! Comecei assim a pedir lume a uma e outra das pessoas que passavam ao meu lado a cantar, comas as suas velinhas a brilhar.
Enquanto eu parava um instante para acender a minha luz – e ela se apagava de maneira tão insólita! – os meus companheiros já iam longe...
E eu sempre a acender a minha vela! E ela a apagar-se inexplicávelmente! Parecia que lhe sopravam!
Perdi a conta do número de vezes que a acendi e vi extinguir-se de forma tão extranha a chama viva! Despeitado e escarninho, teimei enquanto pude. Por fim, já não me ria... pois principiei a reparar, desconfiado e espantado, que afinal, aquilo só a mim acontecia!
Do fundo da minha consciência parecia querer subir um aviso silencioso...
Precisamente quando eu começava a sentir-me abalado, aconteceu o pior: todo o meu corpo foi como que «aprisionado», saudido por um estremeção e trespassado por frio de morte. Ao mesmo tempo, começou a correr-me da cabeça aos pés um copioso e gelado suor!
Assombrado e aterrado, deitei as mãos à cabeça: tinha os cabelos duros, inteiriçados e em pé! Perguntava a mim mesmo, transido de pasmo, o que seria aquilo?! Só então, no meio de grande perturbação, é que desisti de acender a minha vela.
Na maior ansiedade, procurei com um olhar aflito os meus companheiros, para me ajuntar a eles e buscar amparo. Avistei, lá longe, o andor branco da Senhora... Lembrei-me logo de que eles deviam ir ali pertinho d’Ela! Quis ir também!...
Mas foi então que experimentei o maior terror da minha vida: assim que este pensamento salvador despertou na minha mente, caiu sobre mim, bem em cima dos meus ombros, um «peso» insuportável! Eu queria ir... mas, conforme levantava um pé (ou tentava levantá-lo) para caminhar ao encontro de Nossa Senhora, o terrível «peso» era cada vez maior e, com incrível força, prendeu-me ao chão! Todo a tremer, banhado em suores frios, com a língua enrolada dentro da boca endurecida, sentia-me sucumbir debaixo daquele medonho «peso» e aprisionado num laço implacável. Ao mesmo tempo, todo o meu ser, físico e intelectual, era trespassado por uma indiscritível e pavorosa agonia!
Cheio de terror, quis gritar. Julguei mesmo que gritava a pedir socorro, mas ninguém me ouvia, nem via o que me estava a acontecer! Eu ficara ali, no meio de tanta gente, «aprisionado» e «mudo»!...alma prisioneira, para me libertar daquela «prisão»! o meu sofrimento era atroz! Nunca o esquecerei. Ainda ho
A procissão era um sereno rio de luz, na noite escura e branda. Os peregrinos, com velas acesas diante dos rostos felizes, passavam rezando e cantando, com os olhos postos na suave Imagem da Senhora das pombas brancas... Desviam-se pacientemente de mim e continuavam sempre em frente!
E eu a debater-me, ali, angustiado, a lutar desesperadamente na minha pobre alma prisioneira, para me libertar daquela «prisão»! o meu sofrimento era atroz! Nunca me esquecerei. Ainda hoje estremeço quando nele penso! Posso afirmar que sentia e ouvia ranger os meus ossos. Tais eram os esforços sobre-humanos que fazia para me mexer e livrar daquela terrível prisão. Mas uma «força» incrível chumbava-me ao chão! E tudo foi inútil!
Não pude alcançar Nossa Senhora no seu andor branco e florido!
Jamais encontrarei as palavras próprias para dar uma pálida ideia do que sofri e do meu terror naqueles momentos!
Contudo, e apesar disso, eu ainda blasfemava, , a! Essa era a minha ânsia. Fugir dali!
Mas como, se eu estava «preso» e esmagado debaixo daquele «carrego» insuportável? Raciocinava, mas não era senhor dos meus movimentos. Oh! Que pavorosos momentos.
Lá longe, voltada agora de frente para mim, Nossa Senhora regressava em triunfo e rodeada de veneração e amor, à sua humilde Capelinha...
E foi então que senti, de súbito, que uma força poderosa e incrível me fazia virar para a Basílica, impelindo-me para a frente! Conheci que podia, enfim, fugir «àquilo» que pesava como chumbo sobre os meus ombros! fugir,gora só em pensamento, porque não podia falar.
Debatendo-me naquela medonha aflição e esmagado sob o insólito «carrego», comecei por fim a lembrar-me vagamente de que aquilo tudo podia ser castigo...
Mas, então, é porque eu estava enganado e ali é que se encontrava a VERDADE!?
Teimosamente resisi a este salutar pensamento! Apeguei-me com desespero aos erros antigos e ao despreezo que aprendera a sentir no Protestantismo pela Mãe do Senhor!
E, no meio desta espantosa luta, esforçava-me em vão por fugir! Essa era a minha ânsia. Fugir dali!
Mas como, se eu esva «preso» e esmagado ddebaixo daquele «carrego» insuportável? Raciocinava, mas não era senhor dos meus movimentos. Oh! Que pavorosos momentos!
Lá longe, voltada agora de frente para mim, Nossa Senhora regressava em triunfo e rodeada de veneração e amor, à sua humilde Capelinha...
E foi então que senti, de súbito, que uma força poderosa e invencível me fazia virar para a Basílica, impelindo-me para a frente! Conheci que podia, enfim, fugir «àquilo» que pesava como chumbo sobre os meus ombros! Fugir, alcançar um refúgio, libertar-me! Comecei a andar...
Tomando de grande aflição, vi-me a atravessar o Santuário... mas, conforme me aproximava da Basílica – ia para lá como que conduzido, sem pensar nem querer! – o meu andar tornava-se mais fácil...
Ao chegar à escadaria já a pude subir quase a correr. Meti como uma seta pela Basílica dentro, sempre a direito, como levado por vigoroso e irresistível impulso, e szó parei diante do Altar-mor, do lado do túmulo do Francisco, onde caí, enfim, de joelhos! Ali fiquei longos minutos, todo trémulo, com olhar vago, sem saber onde estava.
Poré, aquele horrível «peso» e aquela estranha «prisão» mostravam agora uma espécie de fraqueza... soltava-se-me a língua e eu balbuciei algumas palavras enquanto começava a ter consciência de tudo o que me rodeava e do que via...
E foi então que os meus pobres olhos dilatados de angústia... depararam com a bendita imagem da Senhora, ao lado do Altar. Súbitamente lúcido, fitei-A assombrado... e, (não me atrevo a afirmá-lo!) pareceu-me que a via sorrir-se para mim! E esse instante fiquei livre e completamente mudado.
Sim, foi nesse minuto de graça que eu senti a alma liberta do véu espesso do erro e o corpo daquela «prisão» maligna. Num relance dera-se o prodígio... apesar do meu ódio protestante contra as santas imaggens! A lição é digna de ser meditada...
A tremer, comovido, eu não tirava o olhar deslumbrado dAquele «Sinal» da misericórdia divina, sentindo que nascia de novo. Agora, o meu coração era manso e humilde, e eis que a orgulhosa cerviz do hereje se abatera diante d’Aquela que tanto desprezara e que todas as gerações aclamarão Bem-aventurada, pois o Omnipotente obrou n’Ela grandes maravilhas (c.1,48,49)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

MILAGROSA CONVERSÃO EM FÁTIMA

S.C.J.

Introdução

Na segunda-deira passada fui visitar o meu antigo pároco, o Sr. Pe. José. Nessa ocasião, ele encontrava-se um pouco triste porque a irmã, que ao longo destes últimos 54 anos de sacerdócio o seguira para todo o lado e foram sua companheira, falecera vítima de doença prolongada. Andava então a juntar as coisas da irmã para deitar fora o que não seria mais útil e dar aquilo que ainda poderia ter alguma serventia.
Num dos baús, encontrou um livro que ele já não via á anos e que muito procurara. Qaundo já me vinha embora, ele chamou-me, foi ao quarto e disse-me: «Luís vou emprestar-te este livrinho e depois devolve-mo quando acabares de ler. Já ouviste falar em António de Sá? É sobre a sua conversão. Sabes que durante a procissão de velas ele acendia a vela e ela apagava-se?».
Ora esta conversa intrigou-me muito e hoje, Domingo, quando cheguei a casa, depois de ter ido dá uma volta, peguei nele e decidi lê-lo. Fiquei extremamente maravilhado com a história e prometi a mim mesmo colocá-la integralmente nos meus blogues na internet para comentário e para que todos fiquem a conhecer este homem do Alto Douro Vinhateiro e o seu grande testemunho.
Espero que todos os que lerem esta história gostem dela e a tenham como verdadeira e a divulguem. Que ela toque o coração de todos e que por ela muitos se convertam ou se deixem tocar pela Santíssima Mãe de Deus.

«A Milagrosa Conversão em Fátima de António de Sá
(Narrativa com a colaboração de M.A.) – Edições do Santuário – Leiria

Imprimatur – Leiren, 13 de Aprilis 1957
 José, Bispo de Leiria

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Esta pequena hitória verídica segue fielmente a narração [d]as palavras do próprio convertido. Quem escreveu cingiu-lhe o mais que pôde, sem lhe importarem primores literários ou de linguagem, que desfugurassem a sua manifesta sinceridade.
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Prefácio

Um conversão é um milagre da omnipotente Mesiricórdia de Deus, realizado, quase sempre, só no íntimo dos corações.
A minha conversão, porém, foi revestida de certos sinais exteriores, que o tornam de algum modo especial...
Devo-a à omnipotância suplicante de Nossa Senhora, Rainha do Rosário de Fátima.
Outrora, o meu coração foi arrastado pela dureza da impiedade e pelos erros de heresias malsãs. E assim A odiei e desprezei. Para muitos, isto parecerá coisa impossível a um cristão e português! Esses... guardem e defendam bem a sua Fé, e dêem muitas graças a Deus! Porque semelhante contradição é possível, desgaçadamente.
Aqui fica o meu testemunho doloroso, mas completo. Tudo quanto peço a Deus é que ele sirva para edificar os fiéis e esclarecer os enganados. Rogo especialmente por aqueles que eu próprio desviei da Verdade, arrastando-os comigo para os errados caminhos da separação e da divisão.

I – O PASSADO...

Chamo-me António de Sá e nasci a 29 de Maio de 1914 em Vilajusã, de Mesão Frio (Douro). [Actualmente Diocese e Distrito de Vila Real]
Meus pais, António e Margarida de Sá, hoje ambos falecidos, eram sinceramente religiosos, assim como a nossa família.
Aos nove anos e meio de idade fui trabalhar. O meu patrão era «maçon» confesso e declarado, como tantos outros, naquela época em que a Maçonaria chegara ao auge do seu temeroso poder na nossa Pátria. Segura da sua força, ela perseguia e tentava extinguir a Religião Católica entre nós e, para tanto, exercia sobre o povo a mais nefasta e profunda influência.
O meu patrão não perdia ocasião de transmitir aos seus empregados as suas ideias. Muito expecialmente atacava e negava tudo o que se referia à Igreja, da qual a seita maçónica é figadal inimiga.
Como é sabido, havia-se prometido e profetizado que, em duas gerações, o Catolicismo seria extinto no nosso País. Todos os esforços e violências foram realmente postos em prática com esse intuito.
Naquele tempo, em Portugal, eram públicos e notórios os crimes e malefícios que a Maçonaria praticava e espalhava.
Eu ouvia falar da sua acção e da sua força. Conhecia a história de um tio meu, Domingos de Sá, tambémcategorizado «maçon», muito conhecido em todo o concelho de Mesão Frio. Eram de arrepiar as terríveis blasfêmias que ele dia contra Deus, a SS.ma Virgem, a Santa Igreja e os Sacerdotes. este meu tio gabava-se, a quem o ouvia, de dever a sua fortuna ao poder do demónio e da maçonaria. com tudo isto, e sob estas tristes influências, cedo perdi a Fé, vindo a ganhar total aversão à Igreja. Odiava os Padres e fugia a todas as práticas religiosas. mas, afinal, estes tristes sentimentos estavam, então, bastante generalizados...
Ao mesmo tempo, fui tomado por uma grande ambição de riqueza, mesmo à custa da minha alma, se preciso fosse, tal como se contava do meu tio e de outros «maçons».
Quando, aos doze anos, fiz a Comunhão Solene, sómente devido aà fé e vontade de meus pais, já lhes causei um grande desgosto. Negava-me a juntar-me aos meus companheiros e a participar da alegria se, igual do mais lindo dia da nossa infância.
Desde aí, não voltei a entrar numa igreja nem tornei a rezar. Aumentou cada vez mais a minha aversão à Santa Igreja, aos sacerdotes e a tudo o que fosse religioso.
Quando, na Visita Pascal, o «Compasso» entrava na nossa casa enchendo a todos de satisfação, saía eu por outra porta, ou fechava-me num quarto a blasfemar, com o coração turvo de rancor e desprezo. Os meus queridos pais e a minha família sofriam com o meu procedimento, e eu escandalizava toda aquela boa gente.
Ouvia ainda contar casos de «pactos» com o Diabo, de sessões secretas a que ele presidia e outras histórias deste jaez. Na minha ânsia de enriquecer, novo e inexperiente como era – teria enão quinze ou dezaseis anos – ia, madrugada alta, pelos cerrados pinhais de São Martinho, chamando e invocando o maligno. Queria que ele me aparecesse para lhe entregar a minha alma em troca de riqueza e de poder!
Continuei nesta vida até aos vinte anos. Depois em 1934, vim para o Porto trabalhar, indo morar para Valbom.
Entretanto, em 1917, dera-se o Milagre de Fátima, e, com a vinda de Nossa Senhora, tudo se ia modificando na nossa terra.
De 1926 em diante, com a Revolução Nacional de 28 de Maio, a maçonaria fora banida e a sua maléfica influência começava a ser combatida eficazmente.
Porém, toda a Nação sofrera por muito tempo o seu nefasto influxo. A má semente frutificava...
Quanto a mim, a terra da minha alma estava preparada para o que se iria seguir...
Um dia, ao passar no lugar da Arroteia, ouvi uns cânticos que saíam duma casa aberta, a quem passava. Aquilo chamou-me a atenção. E perguntei... quando soube que eram «os protestantes» tirei, cá para mim, a conclusão de que se tratava de qualquer coisa contra a Igreja. Resolvi logo entrar! Julgava que fosse a maçonaria, que eu não esquecera e tanto desejava conhecer. Mas, agora, já não me era fácil encontrá-la, pelo menos às claras, como no tempo da minha infância.
Entrei, muito contente por ter ocasião de satisfazer a minha aversão à Religião Católica e realizar enfim os meus sonhos ambiciosos. Vieram logo ao meu encontro, sorrindo amávelmente, e ofereceram-me um livrinho para eu cantar também.
Por ignorância e curiosidade, alguns de entre nós são assim solicitados. Depois são levados para a heresia, através das várias pequenas seitas, que se esforçam por separar (e dividir) os Portugueses da verdadeira Fé. Muitos, mais tarde, cansam-se... e abandonam o «culto» protestante. Fica-lhes apenas... o cego preconceito que ali receberam contra a verdadeira Igreja.
Comecei, pois, a ler algumas linhas do tal livrinho que, aliás, me desiludiram, por me parecer que não se tratava afinal de maçonaria. Mas... fui ficando. Queria ver o que dali saia e se poderia tirar algum lucro material. E também fiquei porque logo lá encontrei a mesma aversão à Igreja, tal como eu a sentia e recebera da influência maçónica...
Durante o tempo que morei em Valbom, frequentei aquele «culto» protestante, cujo nome esqueci.
Estava ainda longe da Hora de Deus e eu tinha um longo e torto caminho a percorrer!...
Tempos depois, mudei-me para Avintes. Ali ouvi falar de outro «culto» diferente e das «ajudas» que dava aos seus adeptos. Logo me interessou...
Já não era a mesma «fé»... errava , portanto variava! Tratava-se agora dos Adventistas-Sabadistas, que são várias seitas. Estes eram os do 7.º Dia. Chamam-se assim, porque esperam para breve o Fim do Mundo e guardam o sábado como os Judeus, e não o Domingo – Dia da Ressurreição de Cristo, como guarda a Sua Igreja desde o primeiro século cristão.
Tanto na doutrina como nos «cultos» há muitas diferenças entre as seitas protestantes e grande rivalidade. Algumas das mais recentes – como os Adventistas, Pentecostais, Testemunhas de Jeová, etc. – são até chamadas «extravagantes» pelas seitas que apareceram anteriormente, a seguir à Revolta Protestante no século XVI.
Cada uma, porém, diz que é a verdadeira Igreja e que as outras são falsas ou estão em erro...
Por vezes, como pude testemunhar, chegam a discutir umas com as outras. E é vê-las, então, com as «suas bíblias em punho, provar cada qual a sua verdade e os erros das colegas, sobre pontos fundamentais da Fé.
Nestas ocasiões eu sentia-me bastante perplexo e pensava:«Estes afirmam uma coisa, mas aqueles já dizem o contrário...» Infelizmente, tratava logo de afugentar estes pensamentos. E, afinal, eram essas as únicas vezes em que eu vislumbrava a verdade e era esperto! Mas o demónio cega-nos...
Só num ponto estão todas de acordo: dizem que a Igreja Católica é falsa, apesar de ser precisamente a única que Cristo – Jesus, Nosso Redentor, fundou, e portanto, ser logicamente a Sua única e verdadeira Igreja, como Ele próprio lhe chamou: «A minha Igreja!».
Porque a verdade é que todas as seitas – desde o princípio do Cristianismo até agora – foram fundadas por simples criaturas humana que ou saíram (como foi predito!) da Igreja, ou duma seita para fundar outra seita.
Porém, pela Palavra de Deus – que é fiel! – ficou-nos a Sua Promessa de que «as Portas do Inferno não prevelacerão contra Ela».
Por isso, com o joio dos pecadores e o trigo dos justos à mistura, a Igreja Católica permanecerá a mesma até ao Juizo Final. A sua caridade não apaga a torcida que fumega... cada um dará justas contas na sua hora derradeira. O Senhor da Messe os separará e arrecadará o trigo no Seu celeiro e queimará a palha num «fogo inextinguível».
Mas, entretanto, Cristo ficará connosco e entre nós até à consumação dos séculos, porque o prometeu, e a Sua Palavra não passará.
Já assim procedeu o Senhor para com o Povo Escolhido: Com os seus justos e pecadores – dos Chefes ao mais humilde – fiel ou infiel, coberto de bênçãos ou esmagado sob castigo, foi sempre ele, e só ele o Povo da Promessa, até esta se cumprir com a vinda do Messias: Deus é fiel e verdadeiro!
Assim, também o Rebanho de Cristo, por Ele entregue a Pedro, permanecerá o mesmo até ao Fim.
O Bom Pastor conhece as suas ovelhas e separa os cabritos dos cordeiros...
Porque se arrogam, então, certos homens (e até mulheres) o direito de «reformar» e mudar a Obra de Deus, fundando outras «Igrejas», dividindo e suscitando divisões – negando assim a fidelidade da Palavra de Deus e dividindo Cristo?!
Este é o grande escândalo dado aos gentios pelos cristãos cismáticos e heréticos, sepradados da verdadeira Igreja. E «ai dos escandalosos»!
Não! Ainda não seria ali que eu havia de encontrar o que, sem o saber, há muito procurava.
No entanto, frequentei aquele «culto» durante seis anos. Mais tarde, surgiram nas mesma rua 5 de Outubro os chamados «Pentecostais». Por idênticos motivos passei a frequêntá-los, notando as diferenças de doutirna apesar de tudo. Mas, fiquei... e obriguei a minha companheira a ir comigo. Valha a verdade que ela a princípio não queria, e só foi com grande retulância.
Com o rodar do tempo, fui-me tornando «um bom elemento», assim o diziam o nosso «ministro» e os meus confrades.
Mais adiante, lá nos «casámos», e também fomos baptizados... como se o não tivéssemos sido já em pequenos!. Confesso que não esqueci aquela cerimónia... é que certas seitas protestantes julgam que o Baptismo, para ser válido, tem de consistir num mergulho total no rio ou num tanque especial. E assim nos fizeram a nós. Mas a água estava amornada...
Como lá era ponto de fé que não se pode usar ouro, a minha companheira deu os seus brincos para sustentação da seita.
A tudo nos sujeitámos... e às vezes tanto se recalcitra contra as verdadeiras «obras de Deus»!
Fui-me enfronhando de cada vez mais na heresia. Em dada altura, devido ao meu «fervor» e a uma singular facilidade de falar, comecei a ser mandado a fazer «pregações». Mas, na verdade, que estudos sérios e indispensáveis tinha eu da Sagrada Escritura e de tudo o mais que é necessário saber para ensinar e pregar sobre estes assuntos tão importantes e elevados? Pois, apesar disso, «preguei» por toda a parte! Bastava-me a minha própria inspiração...
E assim, sobre um ou mais versículos da Bíblia, «ensinava» eu no meio do povo, que me escutava ávido e crédulo. E por aqui se vê a credulidade, fácil de contentar... dos que aceitam ou buscam «doutrinas» fora da verdadeira Doutrina ensinada pela Igreja de Deus!
Preguei, pois, em Rio Tinto, Valbom, Carvalhal, Redondo, Carvalhido (Porto), Espinho, Mesão Frio e Avintes, onde sou bastante conhecido. Arengava ainda nos combóios, nas camionetas, nos «eléctricos» e em toda a parte onde a ocasião propícia.
Além disso, vendia e espalhava livros e folhetos, como propagandista fanático que era.
E falava, falava, falava!...

Depos da minha extraordinária conversão, nada encontro na minha excelente memória que «preguei».
Parece que de mim fugiu um demónio palrador e furioso, que me fazia despejar aqueles borbulhões de palavras!...
Porque eu afrontava e desafiava toda a gente! Até os sacerdotes, nas frequesias onde ia semear a minha cizânia e onde quer que os encontrasse a jeito.
Eu tinha pela cruz especial repulsa. Sempre que a via blasfemava com desprezo contra o sinal da nossa Redenção! É inconcebível? Mas, na heresia é assim!.
Cheguei a «dar culto público» na minha casa de Avintes, no Padrão, aonde acorria muita gente para me ouvir. Porém os meus chefes proibiram-me de «falar» assim, porque diziam, só o «culto» que eles promoviam devia funcionar. Por causa disto tomei certa atitude rebelde entre os «Pentecostais» e até fui lá castigado para me submeter.
Por pouco não nasceu ali também mais uma das tais «igrejas protestantes»... Afinal, era o mesmo direito de «livre exame» e de «inspiração». Todas as seitas nascem mais ou menos assim...

E sempre insatisfeito, agitado e agitando à minha volta, ainda experimentei novas seitas, passando por último a frequentar o Torne, em Vila Nova de Gaia.
Entretanto, uma coisa se enraizou profundamente na minha alma, mmais ainda do que os próprios erros da heresia: o cego preconceito, feito de calúnias e absurdos, que o Protestantismo professa e ensina contra a Igreja.
Por isso eu detestava-a, e a tudo quanto lhe diz respeito, com aquele característico e amargo zelo protestante.
Destaca-se neste «zelo» o desprezo e até raiva contra a Mãe de Deus.
Ah! Este é um dos aspectos mais tristes, incompreensíveis e de arrepiar das heresias protestantes, em geral.
Quando um católico renega a sua Fé e vai para o protestantismo, a si mesmo se torna órfão desta Mãe misericordiosa, pois ele a matará no seu coração atrofiado...
Os próprios Mouro ou Maometanos, que veneram, de certa maneira, «a M
Ãe de Jesus», são, neste ponto, superiores à maioria dos Protestantes, apesar de não serem adeptos de Cristo!
Assim eu, cego pela heresia, detestava «a Mãe do meu Senhor» (Lc.1,43). Especialmente quando ouvia falar nas suas aparições na Cova da Iria, ou dos milagres e maravilhas de Fátima!
Ah! Então, era ódio vivo e verdadeiro aquele fogo que se acendia na minha alma. Começava a lançar pela boca fora uma torrente de injúrias e blasfêmias. Ao ver passar para Fátima as peregrinações com o povo feliz a rezar e a cantar , eram um nunca acabar de imprecações contra Nossa Senhora e contra Fátima.
Pois havia de ser precisamente o Coração Doloroso e Imaculado de Maira, nossa Mãe bendita, que, misericordiosamente, me havia de levar à salvação.

(cont...)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Resposta a 1 protestante (provisório - por editar)

J. M. J.
Sobre a Tradição Apotólica
Queridos irmãos, desde o início da cristandade que há divisões na Santa Igreja, muitas vezes (ou quase sempre) por razões absurdas (c.f. 1Cor.10), fruto da ignorância, da falta de oração, de discernimento e dos falsos profetas. É o São Pedro, o primeiro Papa, que nos alerta para esta questão pedindo-nos discernimento, pois «muitos falsos profetas aparecem no mundo»(c.f. 1Pe.4,1). É São Judas quem nos diz que esses impustores são como núvens sem água, «desenvergonhadas; astros errantes para os quais está reservada para sempre a mais tenebrosa escuridão» (c.f. Jd.12-13). Alerta-nos para os «impustores, (...) que são os que semeiam divisões, (...) pessoas que não têm o Espírito» (c.f.Jd.19) É preciso pois estarmos atentos, «pois o demónio, anda à vossa volta, como leão que ruge procurando a quem devorar.[Por isso, é urgente] Resisti-lhe firmes na fé» (c.f. 1Pe.5,8-9)
Os nossos irmãos protestantes, caídos no erro «dos falsos profetas que disfarçadamente introduziram heresias perniciosas» (1Pe.2,1) com frequência nos perguntam coisas para as quais não temos resposta, porque desconhecemos muitas verdades da nossa fé ou, porque na catequese ou nos grupos de piedade aos quais pertentecemos, temos ou tivemos uma formação mediocre, fazendo-nos também cair no erro. Estes, perguntam-nos onde se fala na Bíblia sobre a Imaculada Conceição, a Ascensão de Maria ao Céu, a ida de São Pedro a Roma ou o modo como morreu. Resumindo, para os protestantes só a Sagrada Escritura é única Revelação Divina enquanto que esta, juntamente com a Tradição Apostólica e dos Santos, também constitui Revelação Divina. E mesmo assim, para os protestantes, nem todos os Livros Sagrados da Bíblia Cristã (ou Católica) são válidos.
É bom lembrarmo-nos que foram os Apóstolos e os Bispos que receberam de Deus o múnus de serem pastores da única Igreja de Jesus Cristo, a Santa Igreja Católica, e que por isso, por inspiração divina, esses homens registaram e organizaram a Bíblia que nós hoje lemos, e ao longo dos séculos a anunciaram como Palavra de Deus. Aqueles falsos profetas, de quem falei, por vezes, até deturpam e omitem a Palavra, retiramdo-lhes o verdadeiro sentido, ao contrário dos Bispos, Prebíteros e Diáconos da Igreja que a anunciam tal como Ela é.
A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus revelada à humanidade. Ao longo dos séculos, quiz Deus manifestar-se tanto por palavras como obras, revelando-nos o Seu projecto divino para a humanidade, ou seja, através da Sua Palavra «Manifestou-nos o mistério da sua vontade, e o plano generoso que tinha estabelecido, para conduzir os tempos à sua plenitude: submeter tudo a Cristo». (Ef.1,9)
O verbo ‘revelar’ veio directamento do verbo latino revelare (re-velo) que significa «dar a conhecer», «mostrar», «tirar o véu», «desnudar», «pôr a nú»: «Deus consilium suum revelavit» - Deus revelou o seu plano. Deus, revela-se à humanidade de duas maneiras:
1 – Pela chamada Revelação Natural;
2 – Pela chamada Revelação Sobrenatural ou Divina;
Pela revelação natural Deus revela-Se através criação. São Paulo, na sua Epístola aos Romanos, explica-nos que aquilo que se conhece de Deus «está à vista [do Homem], já que Deus lho manifestou. Com efeito, o que é invisível n’Ele – o seu eterno poder e divindade – tornou-se visível à inteligência, desde a criação do mundo, nas suas obras». (Rom.1, 19-20)
Pela Revelação Subrenatural ou Divina, Deus vai-Se revelando à humanidade quer por meio dos Patriarcas quer pelos Profetas e, na plenitude dos tempos, enviou ao mundo o Verbo (c.f. Jo.1), seu único Filho Nosso Senhor Jesus Cristo: «Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho, a quem constituíu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o mundo». (heb.1-2) Por Ele, Deus é dado a conhecer directamente aos homens, quer por palavras que por obras, sendo o maior o mistério da Paixão, Morte e Ressureição e com a vinda do Espírito Santo. Este Espírito dado à Igreja no dia de Pentecostes, fez com que esta Igreja se manifeste ao mundo e dê a conhcer Deus e a Mensagem Evangélica: «Quando chegou o dia de Pentecostes, encontravam-se todos reunidos no mesmo lugar. De reprente, ressoou vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde eles estavam.
Viram aparecer umas línguas, à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem».(...) «Homens da Galileia, disse Pedro, e todos vós que residis em Jerusalém, ficai sabendo isto e prestai atenção às minhas palavras. Não, estes homens não estão embriagados como imaginais, pois apenas vamos na terceira hora do dia. Mas tudo isto é a realização do que disse o Profeta Joel: ‘Nos últimos dias, diz o Senhor, derramarei o meu Espírito sobre toda a criatura». (c.f. Act.2, 1-36) Esta fora a grande promessa de Jesus: «Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos». (cf. Mt.28,20) «E vou mandar sobre vós o que o meu Pai prometeu» (Jo.24,49). A partir do dia de Pentecostes os Apóstolos anunciaram ao mundo tudo aquilo que Jesus lhes havia ensinado e deram testemunho não só das palavras mas também das obras e dos milagres. Tudo aquilo que Jesus lhes ensinou chama-se Evangelho, que quer dizer «Boa Nova da Salvação dos Homens».
Para anunciar esta «Boa Nova», Jesus escolheu os Apóstolos (c.f. Mc. 1,16-18; Mt.4,18-22; Lc.5,1-11; Jo.1,35-51) e os seus sucessores (Act.6; 9) como Pastores da Igreja que Ele próprio fundara quando, antes da Ascensão» ordenou aos Apóstolos: «Ide pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando a cumprir tudo o que vos tenho mandado» (c.f. Mt.2819) Nesta passagem, Jesus mandou «anunciar» e «pregar» o Evangelho e foi o que os Apóstolos passaram a fazer. Por todo o lado, como nos é narrado nos Actos dos Apóstolos, começaram a surgir comunidades que se reuniam frequentemente em oração e na Celebração da Santa Missa: «Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, á união fraterna, à fracção do pão e às orações(...). Como se tivessem uma só alma frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e possuíam tudo em comum» (c.f. Act.2,42-47). São famosas as Cartas do Apóstolo Paulo à comunidade de Roma, de Corínto, aos Gálatas e a tantas outras, assim como as Cartas de Pedro Tiago, João, e Judas o que demonstra a aceitação que o Evangelho tinha naquele tempo. Todas as comunidades da Igreja tinham uma organização, ainda que incipiante, mediante bispos, presbíteros e diáconos como nos relatam as cartas pastorais o que demonstra a necessidade de organização da Igreja crescente que tinha de sobreviver a todas as divisões e crescer na fé. Os Apóstolos confiaram-lhes o anúncio do Evangelho.
No princípio da Evangelização, não havia um registo escrito do Evangelho, porque Jesus nunca escreveu aquilo que disse, por isso, a evangelização dos povos era feita por ensinamento oral ou pregações. Assim o fizeram os Apóstolos. Só muito mais tarde, sobretudo com o desaparecimento dos Apóstolos, é que se começou a registar a palavra e os actos do Apóstolos. Foi assim que surgiu a «Tradição Apostólica», ou seja, a transmissão do Evangelho de Jesus, os discursos, as obras e exemplos, o modo de rezar, os sacramentos e o modo de agir e viver. Estas eram as tradições que os apóstolos preservaram e transmitiram às diferentes Comunidades da Igreja «como testemunhas oculares» (c.f. 2.Pe 16-18.. Na carta aos Coríntios o Apóstolo São Paulo refere-se a ela: «Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti» (cf.1.Cor11,22).
Durante muitos anos, a Igreja nunca teve propriamente um “Novo Testamento”, só muito mais tarde, depois de terem sido redigidos os Evangelhos, os Actos dos Apóstolos e compiladas as Cartas, é que foi anexado, por inspiração divina, à Sagrada Escritura. Até aí era apenas uma «Tradição ‘Oral’ Apostólica». Esta nova parte da Bíblia, que deu origem ao Novo Testamento, é a parte mais importante de Toda a Bíblia mas, em si mesma, não contém tudo aquilo que Jesus ensinou, sómente o mais importante, como o próprio Apóstolo João nos dá a conhecer no final do seu Evangelho: «Há ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se elas fossem escritas, uma por uma, penso que o mundo não teria espaço para os livros que se deveriam escrever» (c.f. Jo.21,25).
Por tudo isto, é completamente errado dizer-se que a Revelação Divina chegou a nós somente pela Bíblia, não, veio até nós também pela Tradição Apostólica. Ambas são fontes de vida mas uma não faz sentido sem a outra. Porque em si mesmas contêm a Verdade e a Palavra de Deus. Além disso, a própria Sagrada Escritura indica que a Tradição tem como funfamento a fé: «praticai tudo o que aprendestes e recebestes como herança, o que ouvistes e o que aprendestes em mim» (c.f. Fl.4,9) «O que ouviste de mim na presença de muitas testemunhas, tansmite-o a homens de confiança que, por sua vez, estejam em grau de o ensinar a outros»(c.f.2Tm.2,2), «Irmãos, permanecei firmes e conservai as tradições que vos ensinei, as de viva vós ou por meio da nossa carta» (c.f.2 Ts.2,15) Tudo isto é revelador do modo como São Paulo e os seus companheiros instruíam os primeiros cristãos: com a Palavra e com a Tradição ou pregação oral mas, uma vez escrito o Evangelho, não se esgotou a Tradição Oral Apostólica como se se estivesse terminada a Revelação Divina, não, ela continua com a Pregação e os Ensinamentos do Papa e dos Bispos a ele unidos e dos Santos por meio do Espírito Santo. Ora se os Apóstolos, os Bispos, os Presbíteros e os Diáconos receberam o Espírito de Deus quer no Crisma quer no dia da sua ordenação, porque não serão eles meios de Revelação Divina se o Espírito Santo que é Deus os impele a anunciar a Boa Nova e a explicá-la a quem a ouve? Na nossa Igreja sempre houve esta consciência de que a Tradição Apostólica não tira à Bíblia valor algum, antes pelo contrário, valoriza-a.
A ideia de só se acreditar na Bíblia é um tremendo erro surgido no séc. XVI, precisamente em 1550, com Lutero e os seus seguidores, colocando de parte a própria revelação feita por Jesus nas aparições aos Santos e nos ensinamentos dos seguidores dos Apóstolos. Ao Papa deu o Senhor o poder de perdoar os pecados e de apascentar as «ovelhas» (vide Jo.21,15-23) e foi o próprio Jesus quem também mandou os Apóstolos ensinar e baptizar as nações (vide Mt.28,19).
Se os protestantes sabendo que receberam a Bíblia pela Igreja Católica, que foi Ela quem a traduziu e durante séculos e a ainda hoje a continua a estudar e a ensinar, que estabeleceu o cânone dos Livros Sagrados, como poderão então saber quais os livros inspirados ou válidos? Supomos que a Bíblia se perde, quem teria a verdade, toda a verdade se não a Igreja Católica, a única que continua fiel à Tradição? A Igreja voltaria a escrever a Bíblia segundo a Traição Apostólica tal e qual como aconteceu antes nos primeiros tempos do cristianismo. Ao negar a Tradição Apostólica estão a diminuir a Sagrada Escritura e a negar a própria Escritura, pois foi São Paulo quem disse aos Tessalonissences: «Permanecei firmes e conservai as tradições que vos ensiná-mos de viva voz ou por meio da nossa carta» (2Ts.2,15)
Para concluir, podemos e devmos dizer que a Revelação Divina engloba a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura como depósito da fé (cf. 1Tm6,20; 2Tm.1,12-14) e foi confiado pelos Apóstolos à Santa Igreja. Cabe unicamente ao clero interpretar correctamente a Palavra de Deus, oral e escrita pois exercem esse ministério em nome e por ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo. Segundo a Tradição Apostólica e a Sagrada Escritura, esse ministério foi entregue aos bispos em comunhão com o Papa, sucessor de Pedro e que é o Bispo de Roma e de Toda a Igreja.
No magistério em si, não está acima da Revelção Divina mas ao seu serviço para de uma forma verdadeira ser transmitida aos fiéis, com a assitência divina do Espírito Santo, que confirma o mandato de anunciar a «Boa Nova», e cabe à Igreja escutar e acolher pia e devotamente a Palavra, guardá-la e explicá-la aos fiéis.
Os fiéis que a ouve, ouve a Deus (Lc.10,16), e acolhem com submissão os ensinamentos e as directrizes dos pastores a quem foram confiados por Deus, sendo estes os seus guias e defensores, pela qual «nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação particular»(2Pe.1,20).