Creatus est homo ad hunc finem,
ut Dominum Deum suum laudet,
revereatur, eique serviens tandem salvus fiat.

(O homem foi criado para este fim:
louvar, reverenciar, servir ao Senhor seu Deus,
e assim salvar a sua alma. Exercícios, Sto. Inácio, vol.I)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

MILAGROSA CONVERSÃO EM FÁTIMA

S.C.J.

Introdução

Na segunda-deira passada fui visitar o meu antigo pároco, o Sr. Pe. José. Nessa ocasião, ele encontrava-se um pouco triste porque a irmã, que ao longo destes últimos 54 anos de sacerdócio o seguira para todo o lado e foram sua companheira, falecera vítima de doença prolongada. Andava então a juntar as coisas da irmã para deitar fora o que não seria mais útil e dar aquilo que ainda poderia ter alguma serventia.
Num dos baús, encontrou um livro que ele já não via á anos e que muito procurara. Qaundo já me vinha embora, ele chamou-me, foi ao quarto e disse-me: «Luís vou emprestar-te este livrinho e depois devolve-mo quando acabares de ler. Já ouviste falar em António de Sá? É sobre a sua conversão. Sabes que durante a procissão de velas ele acendia a vela e ela apagava-se?».
Ora esta conversa intrigou-me muito e hoje, Domingo, quando cheguei a casa, depois de ter ido dá uma volta, peguei nele e decidi lê-lo. Fiquei extremamente maravilhado com a história e prometi a mim mesmo colocá-la integralmente nos meus blogues na internet para comentário e para que todos fiquem a conhecer este homem do Alto Douro Vinhateiro e o seu grande testemunho.
Espero que todos os que lerem esta história gostem dela e a tenham como verdadeira e a divulguem. Que ela toque o coração de todos e que por ela muitos se convertam ou se deixem tocar pela Santíssima Mãe de Deus.

«A Milagrosa Conversão em Fátima de António de Sá
(Narrativa com a colaboração de M.A.) – Edições do Santuário – Leiria

Imprimatur – Leiren, 13 de Aprilis 1957
 José, Bispo de Leiria

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Esta pequena hitória verídica segue fielmente a narração [d]as palavras do próprio convertido. Quem escreveu cingiu-lhe o mais que pôde, sem lhe importarem primores literários ou de linguagem, que desfugurassem a sua manifesta sinceridade.
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Prefácio

Um conversão é um milagre da omnipotente Mesiricórdia de Deus, realizado, quase sempre, só no íntimo dos corações.
A minha conversão, porém, foi revestida de certos sinais exteriores, que o tornam de algum modo especial...
Devo-a à omnipotância suplicante de Nossa Senhora, Rainha do Rosário de Fátima.
Outrora, o meu coração foi arrastado pela dureza da impiedade e pelos erros de heresias malsãs. E assim A odiei e desprezei. Para muitos, isto parecerá coisa impossível a um cristão e português! Esses... guardem e defendam bem a sua Fé, e dêem muitas graças a Deus! Porque semelhante contradição é possível, desgaçadamente.
Aqui fica o meu testemunho doloroso, mas completo. Tudo quanto peço a Deus é que ele sirva para edificar os fiéis e esclarecer os enganados. Rogo especialmente por aqueles que eu próprio desviei da Verdade, arrastando-os comigo para os errados caminhos da separação e da divisão.

I – O PASSADO...

Chamo-me António de Sá e nasci a 29 de Maio de 1914 em Vilajusã, de Mesão Frio (Douro). [Actualmente Diocese e Distrito de Vila Real]
Meus pais, António e Margarida de Sá, hoje ambos falecidos, eram sinceramente religiosos, assim como a nossa família.
Aos nove anos e meio de idade fui trabalhar. O meu patrão era «maçon» confesso e declarado, como tantos outros, naquela época em que a Maçonaria chegara ao auge do seu temeroso poder na nossa Pátria. Segura da sua força, ela perseguia e tentava extinguir a Religião Católica entre nós e, para tanto, exercia sobre o povo a mais nefasta e profunda influência.
O meu patrão não perdia ocasião de transmitir aos seus empregados as suas ideias. Muito expecialmente atacava e negava tudo o que se referia à Igreja, da qual a seita maçónica é figadal inimiga.
Como é sabido, havia-se prometido e profetizado que, em duas gerações, o Catolicismo seria extinto no nosso País. Todos os esforços e violências foram realmente postos em prática com esse intuito.
Naquele tempo, em Portugal, eram públicos e notórios os crimes e malefícios que a Maçonaria praticava e espalhava.
Eu ouvia falar da sua acção e da sua força. Conhecia a história de um tio meu, Domingos de Sá, tambémcategorizado «maçon», muito conhecido em todo o concelho de Mesão Frio. Eram de arrepiar as terríveis blasfêmias que ele dia contra Deus, a SS.ma Virgem, a Santa Igreja e os Sacerdotes. este meu tio gabava-se, a quem o ouvia, de dever a sua fortuna ao poder do demónio e da maçonaria. com tudo isto, e sob estas tristes influências, cedo perdi a Fé, vindo a ganhar total aversão à Igreja. Odiava os Padres e fugia a todas as práticas religiosas. mas, afinal, estes tristes sentimentos estavam, então, bastante generalizados...
Ao mesmo tempo, fui tomado por uma grande ambição de riqueza, mesmo à custa da minha alma, se preciso fosse, tal como se contava do meu tio e de outros «maçons».
Quando, aos doze anos, fiz a Comunhão Solene, sómente devido aà fé e vontade de meus pais, já lhes causei um grande desgosto. Negava-me a juntar-me aos meus companheiros e a participar da alegria se, igual do mais lindo dia da nossa infância.
Desde aí, não voltei a entrar numa igreja nem tornei a rezar. Aumentou cada vez mais a minha aversão à Santa Igreja, aos sacerdotes e a tudo o que fosse religioso.
Quando, na Visita Pascal, o «Compasso» entrava na nossa casa enchendo a todos de satisfação, saía eu por outra porta, ou fechava-me num quarto a blasfemar, com o coração turvo de rancor e desprezo. Os meus queridos pais e a minha família sofriam com o meu procedimento, e eu escandalizava toda aquela boa gente.
Ouvia ainda contar casos de «pactos» com o Diabo, de sessões secretas a que ele presidia e outras histórias deste jaez. Na minha ânsia de enriquecer, novo e inexperiente como era – teria enão quinze ou dezaseis anos – ia, madrugada alta, pelos cerrados pinhais de São Martinho, chamando e invocando o maligno. Queria que ele me aparecesse para lhe entregar a minha alma em troca de riqueza e de poder!
Continuei nesta vida até aos vinte anos. Depois em 1934, vim para o Porto trabalhar, indo morar para Valbom.
Entretanto, em 1917, dera-se o Milagre de Fátima, e, com a vinda de Nossa Senhora, tudo se ia modificando na nossa terra.
De 1926 em diante, com a Revolução Nacional de 28 de Maio, a maçonaria fora banida e a sua maléfica influência começava a ser combatida eficazmente.
Porém, toda a Nação sofrera por muito tempo o seu nefasto influxo. A má semente frutificava...
Quanto a mim, a terra da minha alma estava preparada para o que se iria seguir...
Um dia, ao passar no lugar da Arroteia, ouvi uns cânticos que saíam duma casa aberta, a quem passava. Aquilo chamou-me a atenção. E perguntei... quando soube que eram «os protestantes» tirei, cá para mim, a conclusão de que se tratava de qualquer coisa contra a Igreja. Resolvi logo entrar! Julgava que fosse a maçonaria, que eu não esquecera e tanto desejava conhecer. Mas, agora, já não me era fácil encontrá-la, pelo menos às claras, como no tempo da minha infância.
Entrei, muito contente por ter ocasião de satisfazer a minha aversão à Religião Católica e realizar enfim os meus sonhos ambiciosos. Vieram logo ao meu encontro, sorrindo amávelmente, e ofereceram-me um livrinho para eu cantar também.
Por ignorância e curiosidade, alguns de entre nós são assim solicitados. Depois são levados para a heresia, através das várias pequenas seitas, que se esforçam por separar (e dividir) os Portugueses da verdadeira Fé. Muitos, mais tarde, cansam-se... e abandonam o «culto» protestante. Fica-lhes apenas... o cego preconceito que ali receberam contra a verdadeira Igreja.
Comecei, pois, a ler algumas linhas do tal livrinho que, aliás, me desiludiram, por me parecer que não se tratava afinal de maçonaria. Mas... fui ficando. Queria ver o que dali saia e se poderia tirar algum lucro material. E também fiquei porque logo lá encontrei a mesma aversão à Igreja, tal como eu a sentia e recebera da influência maçónica...
Durante o tempo que morei em Valbom, frequentei aquele «culto» protestante, cujo nome esqueci.
Estava ainda longe da Hora de Deus e eu tinha um longo e torto caminho a percorrer!...
Tempos depois, mudei-me para Avintes. Ali ouvi falar de outro «culto» diferente e das «ajudas» que dava aos seus adeptos. Logo me interessou...
Já não era a mesma «fé»... errava , portanto variava! Tratava-se agora dos Adventistas-Sabadistas, que são várias seitas. Estes eram os do 7.º Dia. Chamam-se assim, porque esperam para breve o Fim do Mundo e guardam o sábado como os Judeus, e não o Domingo – Dia da Ressurreição de Cristo, como guarda a Sua Igreja desde o primeiro século cristão.
Tanto na doutrina como nos «cultos» há muitas diferenças entre as seitas protestantes e grande rivalidade. Algumas das mais recentes – como os Adventistas, Pentecostais, Testemunhas de Jeová, etc. – são até chamadas «extravagantes» pelas seitas que apareceram anteriormente, a seguir à Revolta Protestante no século XVI.
Cada uma, porém, diz que é a verdadeira Igreja e que as outras são falsas ou estão em erro...
Por vezes, como pude testemunhar, chegam a discutir umas com as outras. E é vê-las, então, com as «suas bíblias em punho, provar cada qual a sua verdade e os erros das colegas, sobre pontos fundamentais da Fé.
Nestas ocasiões eu sentia-me bastante perplexo e pensava:«Estes afirmam uma coisa, mas aqueles já dizem o contrário...» Infelizmente, tratava logo de afugentar estes pensamentos. E, afinal, eram essas as únicas vezes em que eu vislumbrava a verdade e era esperto! Mas o demónio cega-nos...
Só num ponto estão todas de acordo: dizem que a Igreja Católica é falsa, apesar de ser precisamente a única que Cristo – Jesus, Nosso Redentor, fundou, e portanto, ser logicamente a Sua única e verdadeira Igreja, como Ele próprio lhe chamou: «A minha Igreja!».
Porque a verdade é que todas as seitas – desde o princípio do Cristianismo até agora – foram fundadas por simples criaturas humana que ou saíram (como foi predito!) da Igreja, ou duma seita para fundar outra seita.
Porém, pela Palavra de Deus – que é fiel! – ficou-nos a Sua Promessa de que «as Portas do Inferno não prevelacerão contra Ela».
Por isso, com o joio dos pecadores e o trigo dos justos à mistura, a Igreja Católica permanecerá a mesma até ao Juizo Final. A sua caridade não apaga a torcida que fumega... cada um dará justas contas na sua hora derradeira. O Senhor da Messe os separará e arrecadará o trigo no Seu celeiro e queimará a palha num «fogo inextinguível».
Mas, entretanto, Cristo ficará connosco e entre nós até à consumação dos séculos, porque o prometeu, e a Sua Palavra não passará.
Já assim procedeu o Senhor para com o Povo Escolhido: Com os seus justos e pecadores – dos Chefes ao mais humilde – fiel ou infiel, coberto de bênçãos ou esmagado sob castigo, foi sempre ele, e só ele o Povo da Promessa, até esta se cumprir com a vinda do Messias: Deus é fiel e verdadeiro!
Assim, também o Rebanho de Cristo, por Ele entregue a Pedro, permanecerá o mesmo até ao Fim.
O Bom Pastor conhece as suas ovelhas e separa os cabritos dos cordeiros...
Porque se arrogam, então, certos homens (e até mulheres) o direito de «reformar» e mudar a Obra de Deus, fundando outras «Igrejas», dividindo e suscitando divisões – negando assim a fidelidade da Palavra de Deus e dividindo Cristo?!
Este é o grande escândalo dado aos gentios pelos cristãos cismáticos e heréticos, sepradados da verdadeira Igreja. E «ai dos escandalosos»!
Não! Ainda não seria ali que eu havia de encontrar o que, sem o saber, há muito procurava.
No entanto, frequentei aquele «culto» durante seis anos. Mais tarde, surgiram nas mesma rua 5 de Outubro os chamados «Pentecostais». Por idênticos motivos passei a frequêntá-los, notando as diferenças de doutirna apesar de tudo. Mas, fiquei... e obriguei a minha companheira a ir comigo. Valha a verdade que ela a princípio não queria, e só foi com grande retulância.
Com o rodar do tempo, fui-me tornando «um bom elemento», assim o diziam o nosso «ministro» e os meus confrades.
Mais adiante, lá nos «casámos», e também fomos baptizados... como se o não tivéssemos sido já em pequenos!. Confesso que não esqueci aquela cerimónia... é que certas seitas protestantes julgam que o Baptismo, para ser válido, tem de consistir num mergulho total no rio ou num tanque especial. E assim nos fizeram a nós. Mas a água estava amornada...
Como lá era ponto de fé que não se pode usar ouro, a minha companheira deu os seus brincos para sustentação da seita.
A tudo nos sujeitámos... e às vezes tanto se recalcitra contra as verdadeiras «obras de Deus»!
Fui-me enfronhando de cada vez mais na heresia. Em dada altura, devido ao meu «fervor» e a uma singular facilidade de falar, comecei a ser mandado a fazer «pregações». Mas, na verdade, que estudos sérios e indispensáveis tinha eu da Sagrada Escritura e de tudo o mais que é necessário saber para ensinar e pregar sobre estes assuntos tão importantes e elevados? Pois, apesar disso, «preguei» por toda a parte! Bastava-me a minha própria inspiração...
E assim, sobre um ou mais versículos da Bíblia, «ensinava» eu no meio do povo, que me escutava ávido e crédulo. E por aqui se vê a credulidade, fácil de contentar... dos que aceitam ou buscam «doutrinas» fora da verdadeira Doutrina ensinada pela Igreja de Deus!
Preguei, pois, em Rio Tinto, Valbom, Carvalhal, Redondo, Carvalhido (Porto), Espinho, Mesão Frio e Avintes, onde sou bastante conhecido. Arengava ainda nos combóios, nas camionetas, nos «eléctricos» e em toda a parte onde a ocasião propícia.
Além disso, vendia e espalhava livros e folhetos, como propagandista fanático que era.
E falava, falava, falava!...

Depos da minha extraordinária conversão, nada encontro na minha excelente memória que «preguei».
Parece que de mim fugiu um demónio palrador e furioso, que me fazia despejar aqueles borbulhões de palavras!...
Porque eu afrontava e desafiava toda a gente! Até os sacerdotes, nas frequesias onde ia semear a minha cizânia e onde quer que os encontrasse a jeito.
Eu tinha pela cruz especial repulsa. Sempre que a via blasfemava com desprezo contra o sinal da nossa Redenção! É inconcebível? Mas, na heresia é assim!.
Cheguei a «dar culto público» na minha casa de Avintes, no Padrão, aonde acorria muita gente para me ouvir. Porém os meus chefes proibiram-me de «falar» assim, porque diziam, só o «culto» que eles promoviam devia funcionar. Por causa disto tomei certa atitude rebelde entre os «Pentecostais» e até fui lá castigado para me submeter.
Por pouco não nasceu ali também mais uma das tais «igrejas protestantes»... Afinal, era o mesmo direito de «livre exame» e de «inspiração». Todas as seitas nascem mais ou menos assim...

E sempre insatisfeito, agitado e agitando à minha volta, ainda experimentei novas seitas, passando por último a frequentar o Torne, em Vila Nova de Gaia.
Entretanto, uma coisa se enraizou profundamente na minha alma, mmais ainda do que os próprios erros da heresia: o cego preconceito, feito de calúnias e absurdos, que o Protestantismo professa e ensina contra a Igreja.
Por isso eu detestava-a, e a tudo quanto lhe diz respeito, com aquele característico e amargo zelo protestante.
Destaca-se neste «zelo» o desprezo e até raiva contra a Mãe de Deus.
Ah! Este é um dos aspectos mais tristes, incompreensíveis e de arrepiar das heresias protestantes, em geral.
Quando um católico renega a sua Fé e vai para o protestantismo, a si mesmo se torna órfão desta Mãe misericordiosa, pois ele a matará no seu coração atrofiado...
Os próprios Mouro ou Maometanos, que veneram, de certa maneira, «a M
Ãe de Jesus», são, neste ponto, superiores à maioria dos Protestantes, apesar de não serem adeptos de Cristo!
Assim eu, cego pela heresia, detestava «a Mãe do meu Senhor» (Lc.1,43). Especialmente quando ouvia falar nas suas aparições na Cova da Iria, ou dos milagres e maravilhas de Fátima!
Ah! Então, era ódio vivo e verdadeiro aquele fogo que se acendia na minha alma. Começava a lançar pela boca fora uma torrente de injúrias e blasfêmias. Ao ver passar para Fátima as peregrinações com o povo feliz a rezar e a cantar , eram um nunca acabar de imprecações contra Nossa Senhora e contra Fátima.
Pois havia de ser precisamente o Coração Doloroso e Imaculado de Maira, nossa Mãe bendita, que, misericordiosamente, me havia de levar à salvação.

(cont...)

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