Creatus est homo ad hunc finem,
ut Dominum Deum suum laudet,
revereatur, eique serviens tandem salvus fiat.

(O homem foi criado para este fim:
louvar, reverenciar, servir ao Senhor seu Deus,
e assim salvar a sua alma. Exercícios, Sto. Inácio, vol.I)

terça-feira, 16 de março de 2010

O meu testemunho é verdadeiro...



Era o ano de 1997. Era Inverno. Não me recordo o dia mas sei que era Sábado, porque era aos sábados que fazíamos a limpeza e outros trabalhos. Ameaçava chover. Nesse dia deram-me uma ordem. O padre director, um homem desprezível em todos os sentidos, dera-me a seguinte ordem: «queima todos os livros». Eu pensava que eram livros de ponto ou livros escolares que já não serviam mas, quando cheguei a um descampado junto ao campo de futebol deparei-me com este cenário: colegas meus descarregavam carrinhos de mão cheios de breviários antigos.

A ordem era eu queimá-los a todos. Senti-me triste… eram dezenas, cerca de uma centena e meia. Comecei a rasgá-los e ao mesmo tempo a conhecê-los… As capas eram em couro trabalhado e as folhas com tons ora encarnados ora dourados. Alguns, já meio destruídos pelo desprezo a que foram voltados desde a reforma litúrgica dos anos 70 e 80. Meios podres devido à humidade, meios comidos, porém, alguns ainda em bom estado. “Queima tudo”, assim ecoava a voz do padre. Conforme ia rasgando e queimando deparei-me com as imagens desses livros: Cristo crucificado, Nossa Senhora…

Passados uns minutos veio um colega ajudar-me. Então começamos a poupar as páginas com as imagens. Mas o que fazer a tantas? Lá tivemos que queimá-las também. Felizmente ainda guardei uma, uma imagem de Cristo crucificado que infelizmente perdi. (As imagens que eu mais gosto são a do Sagrado Coração de Jesus e Jesus Crucificado.) Começou a chuviscar e fomo-nos embora. Ali estiveram meios a arder e a apanhar a chuva. Ao outro dia ouvi um dos maiores raspanetes da minha vida: «Não te disse que era prós queimar a todos»? O padre parecia endemoninhado porque muitos livros, como é óbvio, não arderam. Felizmente não lhe deu para me bater, como já o tinha feito várias vezes. E assim fui feito executor do inquisidor da Igreja. Queimei os livros do Índex Católico… Hoje arrependo-me de o ter feito e de não ter ficado com alguns…

Passados uns tempos fui destacado para ajudar um sacerdote a organizar os arquivos do seminário. À hora marcada tinha de estar junto da biblioteca “proibida”. Eu chamava-lhe proibida porque não podíamos entrar lá. Mas um dia levaram-nos lá. Havia livros muito antigos mas não nos deixaram tocar ou aproximar deles.

À hora marcada tinha de entrar por um corredor, subir as escadas até ao último andar e esperar lá pelo sacerdote. Acontece que um dia fui mais cedo. Sentei-me no último degrau à espera dele e vi um armário meio aberto. Fui lá, abri a porta e puxei uma gaveta do interior do móvel. Estava lá um dos paramentos mais bonitos que já vira. Era vermelho!... Só o vi a ser usado uma vez. Nunca mais me foi permitido aceder a esse espaço até porque a minha função já tinha terminado. O meu trabalho nos arquivos consistia em ajudar o sacerdote idoso a carregar os livros de ponto e a organizá-los numa estante. Deparei-me com inúmeras fotografias em que se via o clero com batina e cabeção assim como era o dia-a-dia do seminário naquele tempo.

Desde então comecei a perceber que tinha existido uma outra Igreja. Uma Igreja completamente diferente daquela que existe hoje. Dei-me conta porque fui descobrindo-a por estas pequeninas coisas e comecei a juntar 1+2. Naquele tempo não imaginava o que era o Rito Tridantino, só sabia que antigamente se rezava a Missa em Latim e pensava que a Missa de “hoje” (ou novus ritus), era igual à Missa de ontem excepto na língua. Que os padres usavam a batina. Não sabia o que era a sobrepeliz ou o tricórnio e muito menos o que era a alva antiga ou o amito. Não percebia porque razão havia altares colados às paredes e outro no meio da capela-mor, não sabia para que servia aquelas duas casinhas no fundo da capela, mais tarde fiquei a saber que eram confessionários e para que serviam. Não sabia porque razão, na porta sacristia que dava para a capela havia uma pia de água benta e tantas outras coisas.

Com o passar dos tempos comecei a descobrir muita coisa, sobretudo quando comecei a dar catequese e a fazer a minha própria investigação. Mas é com certo orgulho que digo que o que eu sei hoje, sobretudo na área da liturgia, fui adquirido fora do seminário e na minha relação de amizade com o meu antigo pároco que me falava do seu tempo de seminarista e de jovem padre e das velhas recordações que guarda desse tempo como os breviários em latim, dos livros, a Suma Teológica em latim, os cadernos, as fotografias e tantas outras coisas algumas que me deu como os Sermões de Sto. António em latim.

Nunca fui a uma Missa Tridentina... Espero um dia ter essa graça de Deus... Quem sabe, presidi-la pois nunca deixei de sentir o chamado de Deus. Gostava de ser Sacerdote, mas não do mesmo modo que muitos são nesta Igreja nascida do C. V. II

Saí do seminário em 1997.

2 comentários:

Anónimo disse...

Em Lisboa e Fatima, e em Evora celebra-se o Santo Sacrificio (Tridentino). Para mais informacoes contacte-me. rui-machado@hotmail.com

Luís Manuel disse...

Obrigado pela informação mas infelizmente fica muito longe... Precisava era de um Missal para perceber melhor a Santa Missa. Abraço...