Creatus est homo ad hunc finem,
ut Dominum Deum suum laudet,
revereatur, eique serviens tandem salvus fiat.

(O homem foi criado para este fim:
louvar, reverenciar, servir ao Senhor seu Deus,
e assim salvar a sua alma. Exercícios, Sto. Inácio, vol.I)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Vocações


J. M. J.

Irmãos /ãs Caríssimos /as

Nos últimos tempos, temos ouvido falar na chamada “Crise de Vocações e nas suas consequências para a nossa vida. O que não temos ouvido falar é sobre as causas de tão grande crise na Igreja Católica.

Alguns fiéis afirmam que o sacerdócio e a vida religiosa já não é interessante, outros levantam a questão do matrimónio, entre outras.

No meu ponto de vista as coisas não podem ser vistas desse modo. O problema não é o ser ou o modo de ser, é muito mais que isso e deve-se à tibieza em que a Igreja está mergulhada, ou seja, falta de fervor religioso.

Quer dizer que não se reza como se rezava antigamente: nos seminários reza-se pouco; já não se reza em família; os movimentos católicos quase que são exclusivamente encontros de convívio; na catequese quase não se ensina a rezar e a maior parte dos catequistas não iniciam a catequese com uma oração... Esquecemo-nos que toda a acção da Igreja «nada vale sem a oração» (São Josemaria Escrivá, in Caminho n.º 81) e que esta é o «alicerce do edifício espiritual» (ibidem n.º 83). A oração é necessária para a nossa fé como é o pão e a água para a nossa vida. Ela torna-nos firmes na fé, na esperança e na caridade, ajuda-nos a encontrar e a fortalecer a nossa vocação, faz-nos alcançar as virtudes necessárias para a nossa vida e faz com que cresça em nós «o zêlo de conquistar todos os Homens para Cristo» (P.O. 6).

É, portanto, urgente que se incentive os seminaristas a rezar com preseverança bem como toda a comunidade diocesana. Uma comunidade orante, seja ela um grupo de seminaristas, uma família, grupo de jovens ou de catequese, deve rezar não só pelos seus seminaristas mas para que haja cada vez mais vocações sacerdotais e religiosas, tornando-se também, por graça de Deus, num campo fecundo onde a semante caíu e se multiplicou graças à “chuva que é a oração” e, como disse um dia o Papa João Paulo II, se «torna num viveiro de vocações» (in Discursos ao Clero).

Sem oração não se pode seguir a Jesus. A oração é um diálogo que se estabelece com Deus em que todo o indivíduo fala com e ouve O próprio Deus. É por ela que o Altíssimo nos incentiva a segui-Lo. Como podemos ser amigos de alguém se não estabelecemos com esse alguém um diálogo? Como podemos ser companheiros na jornada se não lhe falamos? Da mesma forma acontece entre nós e Deus: ninuém pode anunciar a Cristo aos outros, por muito que estude a Bíblia e os Canones Sagrados se não tivermos um relação íntima com Ele, ou seja, dialogar com Jesus apresentandoLhe as nossas inquietações e ouvindo o que Ele tem para nos dizer. A oração é, pois, um tratado de amizade celebrado por cada um de nós com Jesus. E se pela oração nos tornamos amigos de Jesus, Ele torna-se para nós um Tesouro de grande valor. E onde está o nosso Tesouro aí se encontra o nosso coração.

«Deus ouve a oração do homem, espera-a sempre. Mas ouve-a, sobretudo, quando ela é a resposta às suas interpolações, dada com a vida, mais do que com palavras que o vento leva» (in Se tu soubesses do dom de Deus, pag.n.º 13, Pe. Luís Rocha, sj.) Assim como Deus «falava com Moisés, frente a frente, como fala um homem com o seu amigo» (Ex.33,11) assim Jesus, que é Deus, quer falar connosco. Por isso, a oração cristã, como nos ensina São Josémaria Escrivá, nunca é um monólogo (cam.114).

Deus chama-nos constantemente a tomar parte na sua messe, e fá-lo de várias maneiras, mas é através da oração que ouvimos com mais intencidade aquele “grito” do Seu chamamento, que nos torna “loucos” aos olhos do mundo: «Vinde. segui-Me e farei de vós pescadores de homens» (Mt.4,19). Cada um de nós deve responder com sinceridade a esse chamamento. Se a resposta ao apelo do Senhor é sim, tem de ser dita “com decisão” (Cam.110) e orgulho de quem quer pertencer ao “manicómio” (ibidem) de Cristo.

Por fim, irmãos e irmãs, quero alertar-vos para um acontecimento importante que marcará o próximo ano. Este vai ser consagrado pelo Papa Bento XVI às vocações e ao sacerdócio. Não deixemos passar em claro esse acontecimento e não deixemos de rezar pelas vocações sacerdotais e religiosas. Lembremo-nos das palavras de Jesus: «Eu vos digo: pedi e ser-vos-à dado!» (Lc.11,9) e «A messe é grande, mas os operários são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a Sua messe» (Mt.9,37).





Por fim, em jeito de oração e adaptando o final de um conhecido sermão de Santo António, peço à Virgem Santíssima, Senhora nossa, Mãe ínclita, exaltada acima dos coros dos Anjos, que encha de graça celeste o coração dos vossos sacerdotes, os faça refulgir com o ouro da sabedoria, o consolide com o poder da sua virtude, os adorne com a pedra preciosa das virtudes, derrame sobre eles o azeite da sua misericórdia, ela que é a oliveira e com ele cubra a multidão dos seus pecados, a fim de que mereçam ser elevados à altura da glória celeste e tornados felizes com os bem-aventurados. Auxilie-os Jesus Cristo, seu Filho, que a exaltou acima dos coros dos Anjos, e a coroou com o diadema real e a colocou no trono da luz eterna, à qual é devida honra e glória por séculos eternos. Diga toda a Igreja: Assim seja. (in Assumptione Beatae Mariae Virginis, Sant. António de Lisboa).

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