Creatus est homo ad hunc finem,
ut Dominum Deum suum laudet,
revereatur, eique serviens tandem salvus fiat.

(O homem foi criado para este fim:
louvar, reverenciar, servir ao Senhor seu Deus,
e assim salvar a sua alma. Exercícios, Sto. Inácio, vol.I)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Missa Sacrílega - I


XXXV - Meditação

A Missa sacrílega: Só a enunciação deste etentado faz estremecer a um homem de fé.


I. Por causa da multidão e enormidade dos pecados que encerra.
II. Por causa das horríveis criscunstâncias, que o acompanham.

I. Quantos pecados em uma Missa sacrílega, e que pecados! - Um padre, que ousa celebrar em estado de pecado mortal, sciens et volens, não comete somente um sacrilégio, comete quatro, diz Sto. Afonso Maria Ligório, de espécies inteiramente distintas: consagra, sendo inimigo de Deus, o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo: primeirosacrilégio; recebe, estando morto e manchado, um sacramento de vivos e o mais santo dos sacramento: segundo sacrilégio; administra-o a um indigno, quando o seu cargo de guarda das coisas santas o obriga a recusá-lo: quarto sacrilégio: Indigne conflicit, indigne sumit, indigne ministrat, ministrat indigno (Theol.mor.1.Vol,n.35) Por conseguinte infringe quatro obrigações diferentes, que lhe impõe sub gravi a virtude da religião.
Neste assunto os Santos Padres e os intérpretes exprimem-se com terrível energia. Cada um destes sacrilégios, dizem eles, é uma espécie de violência, que o profanador faz a Jesus Cristo, abusando indignamente da sua paciência e do poder que lhe deu sobre a sua pessoa (S. Cypr. Lib. de Lapsis) et Math.XXXVI,50). Como Judas, ele finge que ama o divino Mestre, a que atraiçoa: Amice, ad quid venisti? (MathXXXVI,50) (Amigo, ao que vieste?) - Dicit Amice, improperans simulationem (Orig. Tract.33 in Math.). Que horrenda hipocrisia! Parecendo adorar o Salvador, dá-lhe a morte, quando é da sua parte: Qui indigne abuntur communione mysterii, quandum in ipsis est, interimunt quem adorant (S. Chrys. Homil. 7 in Math.) O seu crime excede o dos judeus. Eles crucificaram Jesus Cristo, enquanto estava na terra e sujeito à morte; o padre sacílego atenta contra a sua imortalidade, e vai atacá-lo até no céu, no seu trono: Gravius peccant offerentes indigne Christum regnantem in coelis, quam qui eum crucifixerunt ambulantem in terris (S. Aug.). Que pérfida crueldade! que ímpia audácia!
O homem mais irreligioso tremeria só com o pensamento de tocar no Santíssimo Sacramento com as mãos enloadas: Quis adeo impius ut lufosis manibus Sacratissimum Sacramentum fractare praesumat? (Ibid) Ah! Quanto mais sensível é ainda o Filho de Deus à ofensa que lhe faz um padre profanador! Que lodo pode desagradar-lhe tanto como o pecado? Depois de uma queda vergonhosa, aproxima-se do altar para ali pronunciar as fórmulas sagradas, e exercer um ministério que exigiria à pureza dos anjos, é cuspir no rosto do Salvador (Quia sacra illius verba sacramenti ore immundo profert, in faciem Salvatoris spuit. -Petr. Bles. Serm.38), é poluir o Seu Corpo (Polluimus Corpus Christi, quando indigne accedimus ad altare. - S. Hier. in cap. Malach.), é cála-Lo aos pés (S. Ambr, in Epist. ad. Herb.c.X), é lançar o Seu Sangue num charco imundo. Ó execrável malvadez! Quantum flagitium in spurcissimam pectoris tui cloacam Sacratum Christi Saguinem profundere! ((S. Thom. a Villanov. de Sacr.c. III).
São Cirilo da Alexandria, explicando estas palavras de São João: Post buccellam introivit in eum Satanas, exclama: Que homem aquele, que acaba de receber em seu coração satanás e a Jesus Cristo! A satanás, para nele o fazer reinar, e a Jesus Cristo para nele o fazer sofrer! A satanás a quem dá um império absoluto, e a Jesus a quem o crucifixa! A satanás que ele antepõe a Jesus, ea Jesus que apresenta a satanás, como vítima que lhe sacrifica!
Concluamos que, dizer missa em estado de pecado mortal, é cometer o maior de todos pecados: Nemo deterius peccat, quam sacerdos qui indigne sacrificat (Ibid). Nullus gravius convincitur pecarre, quam presbyter, qui, dum indigne ministrat, quantum ad se, salutaris victimae sacramenta contaminat (S. Petr. Dam. Opusc.XXVI).

R.P. Chaignon em O Padre Santificado pela Oração ou Meditações Sacerdotais (Cap. XXXV)


O Lirvo da Confiança

Alguns anos atrás chegou às minhas mãos um livrinho intitulado "O Livro da Confiança" de Thomas de Saint-Laurent. Thomas é oriundo de uma antiga família francesa (sul), nascido no dia 7 de Maio de 1879. Morreu em 1949 em Uzès. Durante toda a sua vida escreveu uma grande actividade apostólica distinguindo-se como pregador. Em 1909 foi escolhido para pároco de Santa Perpétua em Nimes. Foi capelão da Juventude Católica, em 1920 foi nomeado cónego da Sé-Catedral de Nimes e cinco anos depois capelão do Carmelo de Uzès, tendo exercido muitos outros cargos. Doutourou-se em Teologia e licenciou-se em letras tendo sido ainda autor de uma vasta obra espiritual e pedagógica. Publicou vários livros sobre psicologia que o fizeram famoso, "Autocontrolo, a chave para o sucesso", Como livrar-se da Timidez", "Método Progressivo e completo da cultura psíquica", sendo este último um autêntico best-seller, traduzido para várias línguas como o inglês, alemão, espanhol e outras. Em relação à espiritualidade destaco entre outros "A Virgem Maria" (Livraria Civilização Editora), "Almas de Santos" e o Livro da Confiança, editados em Portugal e em muitos outros países. Este livro, "O Lirvo da Confiança" estimula todo o cristã a confiar em Deus e nos seu desígnios, a prática da virtude. Escrito de forma simples e clara, para que todos o percebam, O Presbítero expõe os fundamentos e os efeitos da virtude, falando directamente às almas, fazendo-as sentir-se confiantes, sacudindo a alma até dos cristãos mais incrédulos.

«Leitor piedoso - diz o sacerdote - se alguma vez este modesto livrinho te cair nas mãos, não o ponhas de parte com desdém. Não pretende ele nem encanto literário nem originalidade. Contém, apenas, verdades consoladoras que colhi nos livros inspirados e nos escritos dos Santos.
"Tenta lê-lo devagar, com atenção, em espírito de oração. Quase diria: media-o! Deixa-te penetrar docemente pela sua doutrina. A seiva do Evangelho palpita nestas páginas; haverá para as almas melhor alimento do que as palavras do Salvador?
"Que, ao acabar esta leitura, te possas confiar totalmente ao Mestre adorável que tudo nos deu: os seus tesouros, o seu amor, a sua vida, até à ultima gota de sangue!..."»

Espero que o Leiam que que vos seja muito útil. Podereis comprar este livro na "Livraria Civilização Editora, Rua Alberto Aires de Gouveia, 27 - 4050 Porto.

sábado, 12 de setembro de 2009

EM FÁTIMA – LIBERTAÇÃO E CONVERSÃO

De entre os que, de boa ou má fé, saem da Santa Igreja Católica Apostólica Romana para se passarem às heresias protestantes, só Deus e Nossa Senhora sabem porque fui chamado à graça sem par da conversão.
Tudo quanto eu posso afirmar é que a minha boa e saudosa mãe chorava e rezava por mim! Era uma mulher muito piedosa e foi fiel como uma verdadeira cristã. Eu tentei levá-la enganada ao «culto» da minha seita. Ela, porém, tendo percebido logo do que se tratava, repeliu sem remissão a heresia. Mas não abandonou a minha alma! Com fé, voltou-se então para a oração persistente e confiante. No seu trabalho caseiro e pelos caminhos, rezava o «terço» continuamente. De certo, as suas lágrimas e orações subiram ao Céu, comovendo o Coração da Mãe das mães!
«O Espírito sopra aonde quer» e a graça de Deus é invencível. Assim foi dominado este encarniçado hereje pela bondade e poderosa intercessão de Nossa Senhora, alcançando-me de Seu Divino Filho a salvação e a paz.
E foi numa daquelas peregrinações que eu tanto amaldiçoava, organizada por almas generosas e cheias de fé, e que assim foram, de certo modo, recompensadas!
Continuando a minha história, chego ao ponto em que me encontrei empregado na Sociedade de Vinhos do Porto Constantino. Os meus patrões, Srs. Fernando Moreira de Almeida e Fernando Maria Guedes de Almeida, seu filho, são pessoas sinceramente religiosas.
Em Junho de 1953, resolveram levar todo o Pessoal, por conta da Casa, em peregrinação a Fátima, no dia 13. quanto a mim, aceitei a ideia radiante, tanto mais que «o passeio» (como eu lhe chamava a rir...) era de graça. E formei logo um plano: espalharia a minha propaganda herética no seio da própria peregrinação! Tencionava exercer nos meus companheiros toda a influência contrária à Fé Católica que eu pudesse. Ao mesmo tempo, de tudo o que visse na Cova da Iria, esperava encontrar motivo para depois «pregar» contra Fátima. Estava seguro do êxito dos meus maus propósitos e, portanto, incorporar-me-ia muito satisfeito na peregrinação.
Ora, Deus escreve direito por linhas tortas!...
Como preparação, houve uns dias de pregações por um Religioso Franciscano.
Ouvi dizer, nessa ocasião, que «ninguém vai a Fátima com as mãos vazias». Mal imaginava eu, que zombava escarninho de tudo aquilo, que as havia trazer, de facto, cheiinhas a transbordar!...
Como é costume, partimos no dia 12. Fomos percorrendo os lugares já consagrados, como Santa Maria de Alcobaça e Santa Maria da Vitória, «a Batalha». Estes dois templos grandiosos foram erguidos pela fé dos nossos Antepassados e são o assombro de todos quantos visitam. Aquelas pedras gloriosas exaltam os feitos patrióticos e a perseverante Fé Católica da Nação Portuguesa, sempre unida às maiores e mais puras glórias. Porém, eu sentia-me desligado da Fé e, portanto, da História da minha Pátria... e foi ali mesmo que, pelo contrário, eu senti mais ao vivo o meu fanatismo demoníaco e protestante, e assim o demonstrei. Olhava para o que me rodeava com desdém e raiva. E, na ânsia de amesquinhar todos aqueles belos e eloquentes testemunhos da nossa Fé secular, criticava tudo com acinte desprezo, escarnecendo de quanto ali representa a Santa Religião em que nasceu Portugal.
Ria-me e fazia rir os meus companheiros deprevenidos, ou sem convicções firmes. Outros, porém, aborrecidos com a minha atitude, afastavam-se ou ameaçavam queixar-se aos nossos chefes, o que, aliás por bondade, não fizeram.
Mas eu é que não podia calar!
Conforme, depois, íamos subindo a montanha bendita de Fátima e eu avistava os cruzeiros da Via-Sacra, enchia-me de tremenda fúria contra o sinal da cruz.
Na camioneta, sem me calar um momento, continuava sempre com a propaganda escarninha e demolidora. Tentava por todos os meios tirar aos meus companheiros a pouca ou muita fé com que eles se aproximavam do lugar abençoado da Visitação de Nossa Senhora a Portugal e ao Mundo!
Chegámos ao Santuário pelas vinte horas. As nossas camionetas pararam junto da Praceta de São José. Logo ali apareceu um rapzazinho a apregoar «velinhas». Então, no meio de muita galhofa, comprei uma, que havia de ficar memorável!...
Em seguida ao jantar, todos nos reunimos ao Sr. Fernando Moreira de Almeida e sua Ex.ma Esposa, a Sr.a D. Maria Leonor, ambos Servitas de Nossa Senhora. M éramos mais de duzentas pessoas, com as nossas famílias. Eles aguardavam junto da Capelinha das Aparições para distribuirem gratuitamente as velas aos que as quisessem.
Entretanto, principiou a reza do «terço».
Eu continuava, agora em voz baixa, a zombar de tudo. O locutor do Santuário anunciou que se ia formar a procissão. Os carrilhões da Basílica guiavam o povo nos lindo cânticos de Fátima. Apareceram as primeiras luzinhas trémulas e, daí a pouco, era um mar de luz que alastrava!...
Eu estava convencido de que Fátima era uma mentira. Não podia sequer imaginar o que ali via gora com os meus olhos espantados! Fiquei furioso contra a multidão dos Fiéis. Tinha ânsias de desatar a descompor e a correr à pancada dali para fora toda aquela gente! A minha raiva crescia e subia como maré viva. Quando ouvi anunciar a saída do andor com a Imagem de Nossa Senhora de Fátima, comecei a tremer de violenta e mal contida ira.
De repente, avistei-a! Julguei enlouquecer de ódio! É indiscritível o furor que então me assaltou. Parei louco de raiva! Terríveis blasfemeas saíram da minha boca por entre os dentes cerrados. Fechei os punhos convulsos e encarei-a com verdadeiro e satânico ódio pessoal. De certo, já fui contido pelo poder divino e, só assim, não me atirei a ela para a desfazer com as mãos e os dentes, como diabólicamente me apeteceu!
O Inferno odeia Nossa Senhora! Para ele é a Inimiga desde o Princípio (Gen.3,15). Naquele lugar Ela é a vencedora, aclamada em todo o Mundo, desta grande Batalha de Deus, que é Fátima no nosso tempo apocalíptico! A Mulher bendita - «terrível como exército em ordem de batalha» - ali veio trazer a Mensagem que, mais uma vez, congrega os Filhos de Deus para o Bom Combate, vivificando a Fé, renovando a Esperança e tudo abrasando na Caridade.
Outrora o Povo Escolhido devia ver nas imagens de ouro dos Querubins (mandadas colocar por Deus na Arca da Aliança) o símbolo da reverência devida à Glória do Altíssimo, manifestada do meio das asas estendidas (Ex.25, 18-22).
Certamente que, na branca imagem da Virgem Mãe do Messias – Arca da Nova Aliança – o Inimigo há-de ver o sinal da Presença, na Glória de Seu Filho, d’Aquela que, por Ele, lhe esmaga a cabeça.
E naquele terrível instante terá sido, então, pressentida a grande e próxima derrota que lhe ia ser infligida pelo poder misericordioso da Senhora, porque aqueles momentos foram realamente demoníacos e medonhos. Eu atingira a curva máxima do meu ódio!
Quando deles me lembro, ainda sofro!
Bendita seja Nossa Senhora que nos perdoou tão generosamente! Bendita seja!
Entretanto, obedecendo à voz do locutor, a procissão ia-se formando e nós começámos a caminhar todos juntos. Os meus companheiros trataram de acender as suas velas.
Com os nossos bons patrões à frente, seguíamos perto do andor. Era um espectáculo comovente! Mas eu, raivoso de despeito, não cessava de escarnecer e rir. Para evitar de dar nas vistas do meu chefe, resolvi divertir-me e acender também a minha luz, dizendo sempre mil graçolas blasfemas. Voltei-me, pois, para um dos meus colegas e acendi na dele a minha vela.
E começou aqui o prodígio:
No mesmo instante em que, depois de acesa, a endireitei, ela apagou-se de repente! Pedi a outro e tornei a acendê-la, risonho e irónico. Num ápice, voltou a apagar-se.
Comecei então a teimar muito divertido, terceira, quarta e quinta vez, mas já um tanto enervado... contudo, continuava a rir e a galhofar, dizendo que «se calhar eu fora burlado e a minha vela não era igual à dos outros!» Pois se, de cada vez que eu a acendia, via brilhar a chama muito viva, e em seguida extinguir-se, de súbito, misteriosamente! Era mesmo como se apagassem! Que significava aquilo?!
O tempo estava sereno e eu, olhando à minha volta e junto de mim, avistava ao longe e ao perto as velas acesas de toda aquela multidão, que brilhavam na noite como estrelinhas em prece. Ah! Mas eu não desisteria!
Querendo mostrar-me forte e seguro, apesar de as mãos me tremerem um pouco, ria-me e teimava sempre! Comecei assim a pedir lume a uma e outra das pessoas que passavam ao meu lado a cantar, comas as suas velinhas a brilhar.
Enquanto eu parava um instante para acender a minha luz – e ela se apagava de maneira tão insólita! – os meus companheiros já iam longe...
E eu sempre a acender a minha vela! E ela a apagar-se inexplicávelmente! Parecia que lhe sopravam!
Perdi a conta do número de vezes que a acendi e vi extinguir-se de forma tão extranha a chama viva! Despeitado e escarninho, teimei enquanto pude. Por fim, já não me ria... pois principiei a reparar, desconfiado e espantado, que afinal, aquilo só a mim acontecia!
Do fundo da minha consciência parecia querer subir um aviso silencioso...
Precisamente quando eu começava a sentir-me abalado, aconteceu o pior: todo o meu corpo foi como que «aprisionado», sacudido por um estremeção e trespassado por frio de morte. Ao mesmo tempo, começou a correr-me da cabeça aos pés um copioso e gelado suor!
Assombrado e aterrado, deitei as mãos à cabeça: tinha os cabelos duros, inteiriçados e em pé! Perguntava a mim mesmo, transido de pasmo, o que seria aquilo?! Só então, no meio de grande perturbação, é que desisti de acender a minha vela.
Na maior ansiedade, procurei com um olhar aflito os meus companheiros, para me ajuntar a eles e buscar amparo. Avistei, lá longe, o andor branco da Senhora... Lembrei-me logo de que eles deviam ir ali pertinho d’Ela! Quis ir também!...
Mas foi então que experimentei o maior terror da minha vida: assim que este pensamento salvador despertou na minha mente, caiu sobre mim, bem em cima dos meus ombros, um «peso» insuportável! Eu queria ir... mas, conforme levantava um pé (ou tentava levantá-lo) para caminhar ao encontro de Nossa Senhora, o terrível «peso» era cada vez maior e, com incrível força, prendeu-me ao chão! Todo a tremer, banhado em suores frios, com a língua enrolada dentro da boca endurecida, sentia-me sucumbir debaixo daquele medonho «peso» e aprisionado num laço implacável. Ao mesmo tempo, todo o meu ser, físico e intelectual, era trespassado por uma indiscritível e pavorosa agonia!
Cheio de terror, quis gritar. Julguei mesmo que gritava a pedir socorro, mas ninguém me ouvia, nem via o que me estava a acontecer! Eu ficara ali, no meio de tanta gente, «aprisionado» e «mudo»!...
A procissão era um sereno rio de luz, na noite escura e branda. Os peregrinos, com velas acesas diante dos rostos felizes, passavam rezando e cantando, com os olhos postos na suave Imagem da Senhora das pombas brancas... Desviam-se pacientemente de mim e continuavam sempre em frente!
E eu a debater-me, ali, angustiado, a lutar desesperadamente na minha pobre alma prisioneira, para me libertar daquela «prisão»! o meu sofrimento era atroz! Nunca me esquecerei. Ainda hoje estremeço quando nele penso! Posso afirmar que sentia e ouvia ranger os meus ossos. Tais eram os esforços sobre-humanos que fazia para me mexer e livrar daquela terrível prisão. Mas uma «força» incrível chumbava-me ao chão! E tudo foi inútil!
Não pude alcançar Nossa Senhora no seu andor branco e florido!
Jamais encontrarei as palavras próprias para dar uma pálida ideia do que sofri e do meu terror naqueles momentos!
Contudo, e apesar disso, eu ainda blasfemava, agora só em pensamento, porque não podia falar.
Debatendo-me naquela medonha alição e esmagado sob o insólito «carrego», comecei por fim a lembrar-me vagamente de que aquilo tudo podia ser castigo...
Mas, então, é porque eu estava enganado e ali é que se encontra a VERDADE?!
Teimosamente resisti a este salutar pensamento! Apeguei-me com desespero aos erros antigos e ao desprezo que aprendera a sentir no protestantismo pela Mãe do Senhor!
E, no meio desta espantosa luta, esforçava-me em vão por fugir! Essa era a minha ânsia. Fugir dali!
Mas como, se eu estava «preso» e esmagado debaixo daquele «carrego» insuportável? Raciocinava, mas não era senhor dos meus movimentos. Oh! Que pavorosos momentos.
Lá longe, voltada agora de frente para mim, Nossa Senhora regressava em triunfo e rodeada de veneração e amor, à sua humilde Capelinha...
E foi então que senti, de súbito, que uma força poderosa e incrível me fazia virar para a Basílica, impelindo-me para a frente! Conheci que podia, enfim, fugir «àquilo» que pesava como chumbo sobre os meus ombros! fugir,gora só em pensamento, porque não podia falar.
Debatendo-me naquela medonha aflição e esmagado sob o insólito «carrego», comecei por fim a lembrar-me vagamente de que aquilo tudo podia ser castigo...
Mas, então, é porque eu estava enganado e ali é que se encontrava a VERDADE!?
Teimosamente resisi a este salutar pensamento! Apeguei-me com desespero aos erros antigos e ao despreezo que aprendera a sentir no Protestantismo pela Mãe do Senhor!
E, no meio desta espantosa luta, esforçava-me em vão por fugir! Essa era a minha ânsia. Fugir dali!
Mas como, se eu esva «preso» e esmagado ddebaixo daquele «carrego» insuportável? Raciocinava, mas não era senhor dos meus movimentos. Oh! Que pavorosos momentos!
Lá longe, voltada agora de frente para mim, Nossa Senhora regressava em triunfo e rodeada de veneração e amor, à sua humilde Capelinha...
E foi então que senti, de súbito, que uma força poderosa e invencível me fazia virar para a Basílica, impelindo-me para a frente! Conheci que podia, enfim, fugir «àquilo» que pesava como chumbo sobre os meus ombros! Fugir, alcançar um refúgio, libertar-me! Comecei a andar...
Tomando de grande aflição, vi-me a atravessar o Santuário... mas, conforme me aproximava da Basílica – ia para lá como que conduzido, sem pensar nem querer! – o meu andar tornava-se mais fácil...
Ao chegar à escadaria já a pude subir quase a correr. Meti como uma seta pela Basílica dentro, sempre a direito, como levado por vigoroso e irresistível impulso, e szó parei diante do Altar-mor, do lado do túmulo do Francisco, onde caí, enfim, de joelhos! Ali fiquei longos minutos, todo trémulo, com olhar vago, sem saber onde estava.
Poré, aquele horrível «peso» e aquela estranha «prisão» mostravam agora uma espécie de fraqueza... soltava-se-me a língua e eu balbuciei algumas palavras enquanto começava a ter consciência de tudo o que me rodeava e do que via...
E foi então que os meus pobres olhos dilatados de angústia... depararam com a bendita imagem da Senhora, ao lado do Altar. Súbitamente lúcido, fitei-A assombrado... e, (não me atrevo a afirmá-lo!) pareceu-me que a via sorrir-se para mim! E esse instante fiquei livre e completamente mudado.
Sim, foi nesse minuto de graça que eu senti a alma liberta do véu espesso do erro e o corpo daquela «prisão» maligna. Num relance dera-se o prodígio... apesar do meu ódio protestante contra as santas imaggens! A lição é digna de ser meditada...
A tremer, comovido, eu não tirava o olhar deslumbrado dAquele «Sinal» da misericórdia divina, sentindo que nascia de novo. Agora, o meu coração era manso e humilde, e eis que a orgulhosa cerviz do hereje se abatera diante d’Aquela que tanto desprezara e que todas as gerações aclamarão Bem-aventurada, pois o Omnipotente obrou n’Ela grandes maravilhas (c.f. Luc.1,48-49)
Ali, diante do Santíssimo Sacramento, e pelo poder e bondade de Nossa Senhora, terminou aquela temerosa batalha em que eu me sentiria como que disputado por duas forças e, por fim, ganho pela mais poderosa.
é certo que eu tinha ainda muito que sofrer! Porém, tudo o que depois me aconteceu e eu conto adiante, já não conseguiu vencer-me. Não passou duma nova tentativa, que afinal se transformou num «aguilhão» salvador.
Aquele foi, sem dúvida, o momento culminante da monha conversão.
Depois de libertado, eu só tinha um desejo: alcançar o perdão da Senhora!
Com a alma trespassada pela graça divina e iluminada por uma luz sem par, vi, dolorosamente contrito, quanto havia odiado, blasfemado e ofendido a Mãe do Senhor e nossa Mãe! Ai de mim! Não encontro palavras para contar a minha dor! Com os olhos rasos de lágrimas e as mãos erguidas para a Sua doce imagem, cheio de temor e arrependimento, comecei a dizer à Soberana Rainha do Rosário de Fátima:
«Oh! Nossa Senhora!! Oh! Senhora de Fátima! Eu odiei-Te durante muitos anos. Agora sei que tenho andado enganado. Aqui estou a pedir-Te perdão de tudo, e de quanto disse na viagem e na procissão das velas. Mas como hei-de pedir-Te perdão? Como posso merecer que me perdoes?!»
Era eu próprio que, medindo pelo passado a minha culpa, me julgava indigno do Seu perdão!
Lágrimas irreprimíveis corriam-me pelas faces esmaecidas. Eu até falava alto na minha dor e no meio daquela boa gente, toda ocupada na sua devoção... e já habituada aos prodígios de Fátima! Em dado momento, atemtei nos dizeres da placa de mármore sobre o t´´umulo de Francisco e assim fiquei a conhecer. Vi que muitas pessoas ali rezavam, acendendo as suas velinhas e logo me lembrei da que ainda conservava na mão. Receoso e comovido, acendia-a também... Vendo-a brilhar, fui colocá-la a um canto, no túmulo do Pastorinho...

E ali fiquei a vê-la arder, agora tão sereninha e viva como as outras!
Voltei-me freverosamente para FRancisco e pus-me a rezar com muita fé:«Roga a Nossa Senhora que me perdoe, porque para sofrimento já chega!(Eu ligava, por intuição os factos e referia-me ao tormento pavoroso que passara com aquela terrível «prisão» e mortal agonia). Eu não sei se terei perdão, mas tu bem sabes que tenho três filhos por baptizar! (O mais velhinho ainda fora baptizado na Santa Igreja, mas os três últimos «baptizara-os» na seita. Naquele momento eu sentia que esse baptismo nada valia...). Tenho também de resolver a minha situação casando-me!» («casara-me na seita...). Aflito e ansioso suplicava-lhe que me ajudasse e, na minha perturbação, cheguei a pedir-lhe:«Olha, se ando bem (no protestantismo) deixa-me andar! Mas se não ando, como agora sei, então faz com que eu não possa descansar enquanto não voltar aqui o mais depressa que poder, já para o mês que vem.»
Naquele momento, confusamente, eu pressentia um perigo e tinha receio da minha fraqueza e medo do meu passado...
Por isso eu rezava com tanto ardor e mal podia reprimir o pranto. Abalado até ao fundo da minha alma, era agora outro homem. Com devoção dei a minha esmolinha e guardei um cravo das flores com que os fiéis cobriam o túmulo do Pastorinho.
Ignorando o túmulo da Jacinta e sem saber como, também lá fui ter e ali vi a placa com o seu nome. Pedi-lhe da mesma forma o que rogara ao irmão, deixando-lhe também uma esmolinha...
voltei depois para junto do FRancisco e para ali fiquei a ver a minha vela arder até ao fim... aquela mesma vela!!
Sentia-me pouco consolado depois destes pequenos gestos de devoção... Ah! quem poderá avaliar o milagre duma conversão à Fé Católica, vindo-se do protestantismo - das suas negações, dos seus erros e de todos os seus preconceitos?! Só os que experimentaram!
Finalmente acabei por deixar a Basílica. Fui direito à humilde Capelinha de Nossa Senhora. E ali estive muito tempo, abrindo e deixando falar o coração contrito como podia...
É inútil tentar descrever em línguagem humana os meus sentimentos naquele humilde e maravilhoso lugar: a Capelinha das Aparições.
Nossa Senhora, Mãe benigna e Soberana Rainha, de certo, tudo compreendeu e compassiva recebeu de mim!
Nosso Senhor, que é Pai de misericórdia, é também Justo Juiz e «dará a cada um segundo as suas obras». Eu tal me atrevia a levantar os olhos para o Céu, conhecendo agora quanto fora infiel a Deus, renegando a Sua Igreja e odiando a Sua Santíssima Mãe - pelo que daria estreitas contas! Ai! o que eu não teria feito, como simples homem, àquele ou àqueles que fizessem à minha mãe e dela dissessem metade! - do que eu fizera e dissera da excelsa Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo! E Ele é um Filho infinitamente melhor do que eu, Ele é Deus - cujo 4.º Mandamento nos manda honrar Pai e Mãe!
Mas agora eu punha a minha esperança nessa Mãe bendita e poderosa que tanto desprezara! O Senhor me julgará! Mas a Senhora é Sua Mãe e minha Mãe - sómente e sempre Mãe! Oh! consoladora certeza!
Seu Divino Filho me acolheria então pela sua poderosa intercessão, visto que eu fora por Ela libertado. Humuilde e arrependido penitente, ali permaneci suplicando e recebendo o Seu auxílio, sob o doce e entristecido olhar de Nossa Senhora de Fátima. Quando já não podia mais, deixei a custo a Capelinha. Lentamente, passando pelo Monumento ao Sagrado Coração de Jesus, comecei a subir a imensa esplanada, por onde há pouco descera a caminho da libertação.
Chegado ao cimo, sentei-me, esvaído, na balaustrada de pedra. Dali, pus-me a olhar a Basílica coroada pela cruz luminosa, e as luzes das velas que rasgavam a noite - símbolos da Fé que dissipa astrevas do erro...
Decorria, fervorosa e recolhida, a Hora de penitência e adoração a Jesus na Divina Eucaristia. «É esta vigília propiciatória que prepara os prodígios do dia 13. (Disse um orador sagrado durante a meditação dos Mistérios do Terço, naquele mesmo lugar). Ah como eram felizes aqueles fiéis católicos (portugueses e estrangeiros de todo o Mundo!) unidos à volta do Pão Vivo da Unidade, na Casa do Pai!
Sob o olhar atento e intercessor da Mãe - Família de Deus! - humildes e grandes, oravam por eles e pelo «mundo» que os desdenha, ali, no Altar do Mundo!
Encostei a minha pobre cabeça a um dos altos candeeiros. Sentia-me completamente exausto, como um homem que acabava de atravessar duma grande tempestade. Sozinho naquele lugar solitário, assombrado com tudo o que me acontecera, comecei doloridamente a meditar e a recordar...
Ai! Como onda alterosa que se abate sobre a praia deserta, assim o passado e a minha blasfema atitude na viagem e na procissão das velas, se abateram sobre «o meu coração contrito e humilhado».
e, então, não me envergonho de o confessar aqui, chorei e solucei de dor e arrependimento. Chorei com temor e remorsos, desabafando e aliviando a minha pobre alma, agora esvaziada de tqanto mal!
Doces e abençoadas lágrimas! Deus seja louvado por mas ter concedido!
E bendita seja Nossa Senhora por mas ter alcançado!

Sem poder desfitar a Basílica e a mística cerimónia que lá adiante se desenrola, e da qual eu não me julguei digno - murmurava cheio de espanto e dor:«Ai! Nossa Senhora, o que eu fui! Ai! o que eu tenho feito!»
Agora que tudo conhecia, egrande o meu temor... Mas, afoguei naquelas lágrimas contritas o desespero que tentava apoderar-se de mim!
Por volta das três horas da madrugada, sentindo-me muito fraco e tendo terminado uma Hora de adoração, levantei-me e dirigi-me para a camioneta. Descansei o corpo junto dos meus companheiros adormecidos. O corpo, digo bem, porque o espíirito só mais tarde conheceria o repouso e a paz...
Às seis da manhã começou o movimento do Dia 13. Fui direito à Basílica, sentindo-me atraído para junto dos Pastorinhos. Mas lembrei-me de que a nossa peregrinação assistira a uma Missa por alma do Sr. António Moreira de Almeida, que fora meu patrão também. Vim por isso procurar os meus camaradas. E fiquei timidamente à porta da Capela do Hospital, onde a Missa era celebrada... Tive, porém, de sair logo, sufocado pela comoção, e dar um volta até me dominar: Ouvira dizer que levantassem a mão os que queriam confessar para comungarem...
Eu não me atrevi, eu não podia!
Retive ainda o meu segredo... nem sei bem porquê! Por isso tanto sofri depois!
Terminado o Santo Sacrifício, todos foram almoçar alegremente. Só eu não conseguia! Isolava-me e fugia..., Parecia-me que, se abrisse a boca, mesmo só para comer, as lágrimas que me enchiam o coração, transbordariam.
Depois, enquanto decorreram as tão famosas cerimónias da Peregrinação oficial, eu ia ora da Capelinha para a azinheira, ora ia à Basílica e voltava. Inquieto, dorido e perturbado, quase não dei verdadeiramente conta do que via, até começar a comovente «Procissão do Adeus». Percebi, então, que era o fim daquela peregrinação inesquecível do dia 13 de Junho de 1953!
Fitava com os olhos rasos de água o mar branco dos lenços e acenar, enquanto seguia com um olhar comovido e já saudoso a doce Mãe de Deus e dos Homens...
Dor, amor, remorso, alegria, saudade que não mais passou!... tudo isto se misturava e me pungia o coração.
Tirei também o meu lenço, mas ão ousei acenar `Senhora... só enxuguei as lágrimas com ele.
Ah! Aquelas extraordinárias horas da véspera à noite, e aquela radiosa e bendita manhã, ficaram para sempre gravadas na minha alma! Para sempre!

OH Santa e poderosa
Mãe de Deus e dos Homens,
Nossa Senhora de Fátima!
Sede bendita pela vossa
Bondade e Clemência!
Vós que sois o Auxílio dos Cristãos,
Rogai por nós
E pelos nosso inimigos!
Convertei, ó Mãe! os nossos
«Irmãos separados»
E os que buscam a Deus
Por caminhos errados!

E louvado seja o Omnipotente pelas Grandes Maravilhas que em Vós obrou!

iIII SINGULAR CAPÍTULO

Pode parecer que a história da minha milagorsa conversão esteja terminada. Contudo, ela ficaria incompleta sem este capítulo singular...
Por amor da verdade tenho coragem e fé para nada omitir. só assim será completo o testemunho aqui dado.
Seja tudo para glória de Deus e louvor da Mulher-Bendita entre todas as mulheres - que esmaga a cabeça do Inimigo.
***
Na camioneta, os meus companheiros, quando me viram, puseram-se a soltar mil exclamações, dizendo que eu «parecia um desenterrado»! Tal era, na verdade, a palidez cadavérica do meu rosto desfigurado...
Pelo caminho, estranharam pasmados o meu silêncio e recolhimento, a contrastar tanto com o barulho e a dissipação maligna que eu fazia e provocara à ida.
É que eu já não era o mesmo! Mas escondia de todos o meu segredo. Dizia-lhes, então, que nem dormira, nem comera mais nada desde o jantar da chegada... E era verdade, porque eu não pudera! Mas só Deus sabia o que me ia na alma!
Eu vinha abismado e como que esvaziado...
Cheguei a casa à uma da madrugada. Logo que a minha companheira me abriu a porta, abracei-me a ela sufocado pela comução. Às suas perguntas aflitas respondi: «Ai! o que nós fizemos! Olha que temos andado enganados, não sabes o que me aconteceu em Fátima! Lá é que eu vi como nos enganaram e nós enganámos tanta gentinha com uma falsa religião!» E então contei-lhe tudo. Ela, assombrada e também mortificada, começou a chorar comigo. Mas, apesar da sua aflição, sentiu-se aliviviada e disse-me estas palavras: «Eu bem te dizia no princípio! Eu só fui depois (para o protestantiismo) fiada em ti e para te acompanhar. Mas bem me custou! Ai ! os filhos que ainda temos por baptizar! (lembrou-se ela logo)! Ai! os pecados que temos feito!»
Perguntámos agora o que havíamos de fazer. Pensávamos no nosso passado; tínhamos de desdizer tudo quanto ali havíamos propagado com todas as nossas forças, com escândalo do próximo e tanto desgosto das nossas famílias.
E os nossos pobres companheiros de heresia, que diriam quando soubessem? Éramos conhecidos como ferrenhos protestantes! E por quantos simples e ignorantes eu fora escutado e seguido para a heresia!
Por fim, fatigado, acabei por adormecer...

Principia aqui a segunda parte extraordinária da minha gloriosa conversão.

Sim, o primeiro curto sono dormi-o bem...
Mas, alta madrugada, acordei e levantei-me. Logo em seguida voltei a deitar-me e estava, portanto, completamente lúcido, quando senti com grande nitidez e intensidade o que vou tentar descrever: começava a aconchegar-me para, de novo, chamar o sono; de súbito, tive a esquisita impressão de que alguém, de mansinho, punha um pé no colchão, e a nítida sensação deste ceder, afundando-se de leve... como se subissem para a cama..
No mesmo instante, um arrepio gelado percorreu-me o corpo e os cabelos inteiriçados puseram-se-me em pé.
Ai de mim! Aterrado, logo o percebi!... Estava «aprisionado» outra vez, tal como em Fátima, sentindo-me completamente dominado e preso na mesma lançada asfixiante! Tentava aflito bater com os pés (que julgava livres) no fundo da cama. Não podia soltae o menor som através da garganta apertada por aquela «força» implacável. Fazia esforços desesperados para me livrar da «prisão» invisível que me sufocava. Mas tudo era em vão, porque eu não conseguia mover um só músculo, nem chamar!
De repente, fiquei livre! saiu-me então da gargantaa um brado medonho, que despertou a minha companheira. Assustadíssima, ela olhava para mim varada de espanto e interrogava-me aflita. Eu respondi-lhe assim:«Foi como em Fátima! O mesmo carrego, eu mal podia respirar»!
Estava lívido, trémulo e banhado num suor de agonia. Mal pude repousar uns minutos porque, quando a fadiga começavaa a prostrar-mee, voltei a suportar a «ofensiva» ainda uma outra vez!
Oh! que noite angustiosa! E na seguinte, também não escapei! Inexplicávelmente passei a terceira noite descansado. Porém, na quarta, estando ainda acordado e a conversar muito animado, dei, nitidamente e de súbito, pela «chegada»... Antes de ter tempo de formular um pensamento ou balbucilhar uma prece, eis que senti a leve pressão, o colchão ceder e logo o gélido arrepio. Os cabelos punham-se-me em pé e eu ouvia ranger a cama, que abanada toda com o tremos que me trespassava! «Preso» e »mudo» debatia-me aflitivamente e em grande sofrimento. Eram uns instantes de atroz agonia! Eu pensava que morria, e certamente assim teria acontecido, se aquilo durasse mais uns minutos!
No momento próprio, sempre à noite e estando já deitado, todo o meu ser, físico e espiritual, pressentia a «chegada» que, embora invisível, era perfeitamente sensível. Às vezes, mxia-me, agitava-me instintivamente e parecia afugentar... Mas logo sentia que voltava, surrateiramente, e então era «apanhado» num instante!
Quando ficava livre, saía-me da garganta aquele rouco e pavoroso brado, que nem parecia humano...
E todas as noites, até 11 de Julho seguinte,, travei aflitivamente o mesmo «combate»!
Eu e a minha companheira andávamos passados de temor e aflição. Não acabámovamos de sair do nosso espanto! Escondíamos de toda a gente o que acontecia, sem coragem para o contar a quem quer que fosse. Vivíamos enleados e confusos. Entretannto, os dias iam correndo... de forma que eu não me decidia a completar a obra da graça recebida em Fátima.
Submerso naquela confusão e perturbado, retraía-me e não caminhava para diante, covertendo-me de vez.
Noite após noite aconteceu o mesmo!
E eu ia ficando em ponto morto...
Por último, até já nem sentia medo ao aproximarem-se aqueles momentos aflitivos, como no princípio. Conformado e cansado, quando pressentia a «chegada», dizia apenas: «Aí vem...» E vinha, na verdade!
No entanto, não tínhamos paz. Eu sofria! Emagrecera muito, andava pálido e de rosto cadavérico . Quando a noite caía, para mim, era de verdadeiras trevas.
Quando padeci, Santo Deus!
Parecia que se escondera, sob nuvens sombrias e carregadas, aquele sol de liberdade e novas claridade que sobre mim brilhara em Fátima...

IV A «PEDRSA»....


certa manhã, porém, após uma noite tormentosa, quando eu sentia que já não aguentaria por muito tempo com vida, todas as noites, tal horror - veio-me uma grande vontade de agir!
Entour na minha alma, contorbada e tão doente, uma inesperada coragem e uma força invencível.
Levantando-me logo, resolvi, de súbito, ir contar tudo ao meu patrão.
Abençoada hora! Fixei bem aquela data - 29 de Junho!
Nas coisas Deus não há «acasos»...
Aquela manha não era uma qualquer...
Além de ser Domingo - o Dia do Senhor Ressuscitado - era a Festa de São Pedro!
A PEDRA sobre a qual Cristo fundou a Sua Igreja - Una Santa, Católica, Apostólica, Romana também chamada, porque em Roma se fixou a Sede de Pedro e seus sucessores, cabeça visível da Cristindade.
A Liturgia exalta nesse dia, especialmente, o Apóstolo -Chefe: Pois foi a Pedro que o Senhor Jesus entrgou as «Chaves do Seu Reino» e o Poder de «ligar e desligar» perpetuado nos seus Sucessores e na Igreja. Foi também a São Pedro - e só ele! - que Nosso Senhor confiou solenemente e por três razões todo o Seu Rebanho.
Assim o constituiu Pastor dos Pastores e dos Cordeiros, e nos seus Sucessores, até à consumação dos séculos.
Por S. Pedro - e só por ele! - rezou Cristo em pessoa, para o confirmar na Fé, e só a S. Pedro mandou que confirmasse os outros Apóstolos.
E quando?! Segundo as próprias palavras do Senhor, quando Satanás os quis «joieirar» como trigo (Luc.22, 31-32)
Era o dia da festa do primeiro Papa!...
Para um ex-protestante, tudo isto parece ter profundo e singulaer significado!...

Nesse dia, pos, «levantei-me» e comecei verdadeiramente a regressar a Casa de Nosso Pai, que há muito esperava o Filho pródigo.
Não há «acasos» para Deus, repito.
Nesse mesmo dia também me veio à memória, com vívia lembrança, o ferveroso pedido - estranho naquele momento! - que, com uma espécie de ansioso pressentimento do que depois aconteceu, eu fizera aos Pastorinhos: que me não deixassem descansar, enquanto eu não mudasse de vida e não voltasse ali por todo o próximo mês!
É que pesava sobre mimm muita coisa ruim e tão antiga! quem sabe se eu, passados os primeiros dias sobre os prodígios de Fátima, teria coragem de romper as fortes amarras que me prendiam ao passado? Teria eu correspondido à graça de libertação recebida de Nossa Senhora, se não fosse submetido ao aguilhão do sofrimento? Duvido de mim mesmo! Só Deus o sabe! Ora, aquela «prisão» foi transformada em «estímulo» e a derrota aparente tornou-se afinal uma vitória bendita!

Naquele Dia de São Pedro, levantando-me, pois, resolutamente, quebrei as peias que me enleavam. Fim um embrulho com a biblia protestante, os livros e folhetos de propaganda herética, e dirigi-me ansioso a casa do meu Patrão...
Mas, a prova não terminara ainda...
Soube, consternado, que ele estava para fora. Voltei tristemente sobre os meus passos. Retomei mais uma semana de trabalho... e de sombria luta. Quanto sofri!

Contudo, Deus seja louvado! - certamente pela graça recebida na festa de S. Pedro, preserverei na determinação que me veio nessa ocasião.

Por isso, voltei logo no Domingo seguinte. Recebido com muito carinho por ele e por sua Esposa, contei-lhes como pude e soube, resumidamente, a minha singular história. Expu-lhes a ânsia que tinha agora de mudar de vida o mais depressa possível e de coompltar a minha conversão!
Os meus patrões escutaram-me comovidos. Logo ali se resolveram a tratar de tudo e ajudaram-me, telefonando ao então Vice-Reitor do Seminário, Sr. Dr. Moreira Rocha, para que na Secretaria do Paço Episcopal fosse concedida, com toda a urgência, a dispensa de Banhos e a documentação necessária, a fim de partirmos para Fátima.
Regressei a casa mais aliviado...
À noite, porém, agora com menos intensidade, continuei a suportar a «ofensiva» teimosa.
Todas as noites!
Mas a hora do Poder das Trevas havia passado...
Eu iria firmar-me na Pedra (Pedro) e na «coluna e firmamento da verdade», que é a Igreja, como ensina São PAulo (1TIm,3,15).
chegou finalmente o dia da nossa total conversão - 13 de Julho de 1953.
Na véspera partimos com os nossos filhinhos para Fátima, onde j´+a nos esperavam os nossos bons patrões.
nessa mesma tarde tivemos uma longa e bondosa conversação com o sr. Padre João Cabeçadas, acerca do nosso passado e dos factos aqui relatados.
A ele fizemos a nossa confissão, no meio de grande confiança, sentindo a seguir consolador alívio. então, desceu sobre nós o Pedrão de Deus, pelos méritos do Sangue do Redentor. E ficámos finalmente em paz! Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo!
à noite, já nos incorpoorámos, com as nossas velinhas acesas, na impressionante procissão das veças e participámos na fervorosa Vigília eucarística, reconciliados com Deus e a Sua Igreja.
E passei tranquilamente o resto da noite, a primeira sem luta há tantas semanas!
vencera a Rainha da Paz!

no dia 13 celebrou-se o nosso casamento com alegria e comungamos com alegria o verdadeiro Corpo e Sangue do Senhor. depois foram baptizados os nossos três filhos mais novos.
as nossas testemunhas no sacramento do matrimónio , e padrinhos das crianças no baptimos foram os srs. Fernando Moereira de Almeida e sua Esposa, e a Sra. D. Maria Teresa Nunes da Ponte.
Bem hajam de Desu por tudo!
A felicidade que então sentimos só poderão avaliar bem os nossos que já andaram perdidos e foram encontrados. a minha mulher e eu regressámos à verdade, à fé una da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, em que nascemos e na qual já nasceram nossos pais e os pais dos nossos pais. que nossa Senhora nos guadre de nos alcance de nosso Senhor Jesus Cristo, Seu Filho, a Graça da Perseverança, pois lembro-me daquela Palavra em que o Salvador nos fala dos que depois de libertados do mal, voltam a cair nele e, então, «o último estado daquele homem torna-se pior que o primeiro» (S. Mat.12,43-45).
Há um só Deus, por isso também há um só Baptismo e uma só Fé verdadeira, afirma a Bíblia Sagrada e ensina firmeente a Igreja à vinte séculos. Só o orgulho, a ignorância e a cegueira espiritual podem impedir-nos de chegarmos a esta verdade tão simples.
Por isso, rogo aos que esta narrativa lerem que rezem por mim, para que eu persevere até ao fim.
Vou todos os anos a Fátima chorar de alegria e gratidão junto de nossa Mãe do Céu. Se me fosse possível, iria lá todos os meses! Talvez até lá ficasse para sempre... (Assim aconteceucom um convertido inglês, antigo teólogo e «pastor» protestante. Escreveu já vários livros sobre Fátima, entre os quais «Soou a hora»! foi traduzido para português.).
A minha alma ali renasceu de novo!
Quando posso, acompanho pela Rádio-Renascença, da qual, como católico, sou associado, todos os seus programas religiosos. As retransmissões de Fátima, nos dias 13 de MAio/Outubro, comovem-me profundamente.
Basta-me ouvir o Ave do início das transmissões da nossa Emissora Carólica, para que os meus olhos se humedeçam de saudade e ternura.

Em 1956 A Voz do Pastor (órgão da Diocese do Porto), a Voz da Fátima e a Rádio-Renascença referiram-se resumidamente à minha conversão.
Logo de vários lados surgiram dúvidas e negativas e foram pedidos nomes e pormenores. Então, maior se tornou a ânsia, que há muito trazia no peito, de dar testemunho - pormenorizado e testemunhado - de quanto se passou comigo.
Só agora, neste 40.º ano das Aparições de Nossa Senhora em Fátima, e por providencial desígnio, este intento se tornou realidade.
Ouso esperar que a Misericórdia divina se digne servir-se desta confissão sincera para ajudar a libertar outras almas.
Os dons de Deus devem ser manifestados para que todos O conheçam e assim Portugal seja fiel à Verdadeira Fé. Se nela preservarmos, praticando-a na nossa vida nacional e particular, seremos abençoados pelo Altíssimo. E a nossa Rainha e Padroeira continuará a proteger o extraordinário e total Renascimento de Portugal (Basta reflectir nestes três últimos decénios, pelas crises atravessadas pelos benefícios recebidos equivalentes a séculos.» Sua Santidade Pio XII, 13 de Maio 1946, na Coroação de Nossa Senhora de Fátima.) e guardará a nossa Paz: testemunhos do «Milagre de Fátima», que é a Esperança do Mundo moderno.
Ora os milagres são a divina assinatura da Verdade. O Sacerdote que em nome de Deus nos absolveu exultou de alegria, dizendo que esta conversão era deveras extraordinária, entre as muitas e tão grandes realizadas em Fátima.

LOUVOR, POIS, A NOSSA SENHORA DE FÁTIMA
RAINHA DAS GRANDES MARAVILHAS DE DEUS
AO QUAL SEJAM DADAS TODA A HONRA
E TODA A GLÓRIA PELOS SÉCULOS SEM FIM. AMEN.


Porto, Cidade da Virgem, dia das Santas Chagas, 13 de Fevereiro de 1957.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Milagre em Fátima - Parte II

II – EM FÁTIMA – LIBERTAÇÃO – 12 e 13 de Junho de 1953

De entre os que, de boa ou má fé, saem da Santa Igreja Católica Apostólica Romana para se passsarem às heresias protestantes, só Deus e Nossa Senhora sabem porque fui chamado à graça sem par da conversão.
Tudo quanto eu posso afirmar é que a minha boa e saudosa mãe chorava e rezava por mim! Era uma mulher muito piedosa e foi fiel como uma verdadeira cristã. Eu tentei levá-la enganada ao «culto» da minha seita. Ela, porém, tendo percebido logo do que se tratava, repeliu sem remissão a heresia. Mas não abandonou a minha alma! Com fé, voltou-se então paea a oração persistente e confiante. No seu trabalho caseiro e pelos caminhos, rezava o «terço» continuamente. De certo, as suas lágrimas e orações subiram ao Céu, comovendo o Coração da Mãe das mães!
«O Espírito sopra aonde quer» e a graça de Deus é invencível. Assim foi dominado este encarniçado hereje pela bondade e poderosa intercessão de Nossa Senhora, alcançando-me de Seu Divino Filho a salvação e a paz.
E foi numa daquelas peregrinações que eu tanto amaldiçoava, organizada por almas generosas e cheias de fé, e que assim foram, de certo modo, recompensadas!
Continuando a minha história, chego ao ponto em que me encontrei empregado na Sociedade de Vinhos do Porto Constantino. Os meus patrões, Srs. Fernando Moreira de Almeida e Fernando Maria Guedes de Almeida, seu filho, são pessoas sinceramente religiosas.
Em Junho de 1953, resolveram levar todo o Pessoal, por conta da Casa, em peregrinação a Fátima, no dia 13. quanto a mim, aceitei a ideia radiante, tanto mais que «o passeio» (como eu lhe chamava a rir...) era de graça. E formei logo um plano: espalharia a minha propaganda herética no seio da própria peregrinação! Tencionava exercer nos meus companheiros toda a influência contrá´ria à Fé Católica que eu pudesse. Ao mesmo tempo, de tudo o que visse na Cova da Iria, esperava encontrar motivo para depois «pregar» contra Fátima. Estava seguro do êxito dos meus maus propósitos e, portanto, incorporar-me-ia muito satisfeito na peregrinação.
Ora, Deus escreve direito por linhas tortas!...
Como preparação, houve uns dias de pregações por um Religioso Franciscano.
Ouvi dizer, nessa ocasião, que «ninguém vai a Fátima com as mãos vazias». Mal imaginava eu, que zombava escarninho de tudo aquilo, que as havia trazer, de facto, cheiinhas a transbordar!...
Como é costume, partimos no dia 12. fomos percorrendo os lugares já consagrados, como Santa Maria de Alcobaça e Santa Maira da Vitória, «a Batalha». Estes dois templos grandiosos foram erguidos pela fé dos nossos Antepassados e são o assombro de todos quantos visitam. Aquelas pedras gloriosas exaltam os feitos patrióticos e a perseverante Fé Católica da Nação Portuguesa, sempre unida às maiores e mais pouras glórias. Porém, eu sentia-me desligado daFé e, portanto, da História da minha Pátria... e foi ali mesmo que, pelo contrário, eu senti mais ao vivo o meu fanatismo demoníaco e protestante, e assim o demonstrei. Olhava para o que me rodeava com desdém e raiva. E, na ânsia de amesquinhar todos aqueles belos e eloquentes testemunhos da nossa Fé secular, criticava tudo com acinte desprezo, escarnecendo de quanto ali representa a Santa Religião em que nasceu Portugal.
Ria-me e fazia rir os meus companheiros deprevenidos, ou sem convicções firmes. Outros, porém, aborrecidos com a minha atitude, afastavam-se ou ameaçavam queixar-se aos nossos chefes, o que, aliás por bondade, não fizeram.
Mas eu é que não podia calar!
Conformee, depois, íamos subindo a montanha bendita de Fátima e eu avistava os cruzeiros da Via-Sacra, enchia-me de tremenda fúria contra o sinal da cruz.
Na camioneta, sem me calar um momento, continuava asempre com a propaganda escarninha e demolidora. Tentava por todos os meios tirar aos meus companheiros a pouca ou muita fé com que eles se aproximavam do lugar abençoado da Visitação de Nossa Senhora a Portugal e ao Mundo!
Chegámos ao Santuário pelas vinte horas. As nossas camionetas pararam junto da Praceta de São José. Logo ali apareceu um rapzazinho a apregoar «velinhas». Então, no meio de muita galhofa, comprei uma, que havia de ficar memorável!...
Em seguida ao jantar, todos nos reunimos ao Sr. Fernando Moreira de Almeida e sua Ex.ma Esposa, a Sr.a D. Maria Leonor, amos Servitas de Nossa Senhora. M éramos mais de duzentas pessoas, com as nossas famílias. Eles aguardavam junto da Capelinha das Aparições para distribuirem gratuitamente as velas aos que as quisessem.
Entretanto, principiou a reza do «terço».
Eu continuava, agora em voz baixa, a zombar de tudo. O locutor do Santuário anunciou que se ia formar a procissão. Os carrilhões da Basílica guiavam o povo nos lindo cânticos de Fátima. Apareceram as primeiras luzinhas trémulas e, daí a pouco, era um mar de luz que alastrava!...
Eu estava convencido de que Fátima era uma mentira. Não podia sequer imaginar o que ali via gora com os meus olhos espantados! Fiquei furioso contra a multidão dos Fiéis. Tinha ânsias de desatar a descompor e a correr à pancada dali para fora toda aquela gente! A minha raiva crescia e subia como maré viva. Quando ouvi anunciar a saída do andor com a Imagem de Nossa Senhora de Fátima, comecei a tremer de violenta e mal contida ira.
De repnte, avistei-a! Julguei enlouquecer de ódio! É indiscritível o furor que então me assaltou. Pareia louco de raiva! Terríveis blasfemeas saíram da minha boca por entre os dentes cerrados. Fechei os punhos convulsos e encarei-a com verdadeiro e satênico ódio pessoal. De certo, já fui contido pelo poder divino e, só assim, não me atirei a ela para a desfazer com as mãos e os dentes, como diabólicamente me apeteceu!
O Inferno odeia Nossa Senhora! Para ele é a Inimiga desde o Princípio (Gen.3,15). Naquele lugar Ela é a vencedora, aclamada em todo o Mundo, desta grande Batalha de Deus, que é Fátima no nosso tempo apocalíptico! A Mulher bendita - «terrível como exército em ordem de batalha» - ali veiotrazer a Mensagem que, mais uma vez, congrega os Filhos de Deus para o Bom Combate, vivificando a Fé, renovando a Esperança e tudo abrasando na Caridade.
Outrora o Povo Escolhido devia ver nas imagens de ouro dos Querubins (mandadas colocar por Deus na Arca da Aliança) o símbolo da reverência devida à Glória do Altíssimo, manifestada do meio das asas estendidas (Ex.25, 18-22).
Certamente que, na branca imagem da Virgem Mãe do Messias – Arca da Nova Aliança – o Inimigo há-de ver o sinal da Presença, na Glória de Seu Filho, d’Aquela que, por Ele, lhe esmaga a cabeça.
E naquele terrível instante terá sido, então, pressentida a grande e próxima derrota que lhe ia ser infligida pelo poder misericordioso da Senhora, porque aqueles momentos foram realamente demoníacos e medonhos. Eu atingira a curva máxima do meu ódio!
Quando deles me lembro, ainda sofro!
Bendita seja Nossa Senhora que mos perdoou tão generosamente! Bendita seja!
Entretanto, obedecendo à voz do locutor, a procissão ia-se formando e nós começámos a caminhar todos juntos. Os meus companheiros trataram de acender as suas velas.
Com os nossos bons patrões à frente, seguíamos perto do andor. Era um espectáculo comovente! Mas eu, raivoso de despeito, não cessava de escarnecer e rir. Para evitar de dar nas vistas do meu chefe, resolvi divertir-me e acender também a minha luz, dizendo sempre mil graçolas blasfemas. Voltei-me, pois, para um dos meus coleas e acendi na dele a minha vela.
E começou aqui o prodígio:
No mesmo instante em que, depois de acesa, a endireitei, ela apagou-se de repente! Pedi a outro e tornei a acendê-la, risonho e irónico. Num ápice, voltou a apagar-se.
Comecei então a teimar muito divertido, terceira, quarta e quinta vez, mas já um tanto enervado... contudo, continuava a rir e a galhofar, dizendo que «se calhar eu fora burlado e a minha vela não era igual à dos outros1» Pois se, de cada vez que eu a acendia, via brilhar a chama muito viva, e em seguida extinguir-se, de súbito, misteriosamente! Era mesmo como se apagassem! Que significava aquilo?!
O tempo estava sereno e eu, olhando à minha volta e junto de mim, avistava ao longe e ao perto as velas acesas de toda aquela multidão, que brilhavam na noite como estrelinhas em prece. Ah! Mas eu não desisteria!
Querendo mostrar-me forte e seguro, apesar de as mãos me tremerem um pouco, ria-me e teimava sempre! Comecei assim a pedir lume a uma e outra das pessoas que passavam ao meu lado a cantar, comas as suas velinhas a brilhar.
Enquanto eu parava um instante para acender a minha luz – e ela se apagava de maneira tão insólita! – os meus companheiros já iam longe...
E eu sempre a acender a minha vela! E ela a apagar-se inexplicávelmente! Parecia que lhe sopravam!
Perdi a conta do número de vezes que a acendi e vi extinguir-se de forma tão extranha a chama viva! Despeitado e escarninho, teimei enquanto pude. Por fim, já não me ria... pois principiei a reparar, desconfiado e espantado, que afinal, aquilo só a mim acontecia!
Do fundo da minha consciência parecia querer subir um aviso silencioso...
Precisamente quando eu começava a sentir-me abalado, aconteceu o pior: todo o meu corpo foi como que «aprisionado», saudido por um estremeção e trespassado por frio de morte. Ao mesmo tempo, começou a correr-me da cabeça aos pés um copioso e gelado suor!
Assombrado e aterrado, deitei as mãos à cabeça: tinha os cabelos duros, inteiriçados e em pé! Perguntava a mim mesmo, transido de pasmo, o que seria aquilo?! Só então, no meio de grande perturbação, é que desisti de acender a minha vela.
Na maior ansiedade, procurei com um olhar aflito os meus companheiros, para me ajuntar a eles e buscar amparo. Avistei, lá longe, o andor branco da Senhora... Lembrei-me logo de que eles deviam ir ali pertinho d’Ela! Quis ir também!...
Mas foi então que experimentei o maior terror da minha vida: assim que este pensamento salvador despertou na minha mente, caiu sobre mim, bem em cima dos meus ombros, um «peso» insuportável! Eu queria ir... mas, conforme levantava um pé (ou tentava levantá-lo) para caminhar ao encontro de Nossa Senhora, o terrível «peso» era cada vez maior e, com incrível força, prendeu-me ao chão! Todo a tremer, banhado em suores frios, com a língua enrolada dentro da boca endurecida, sentia-me sucumbir debaixo daquele medonho «peso» e aprisionado num laço implacável. Ao mesmo tempo, todo o meu ser, físico e intelectual, era trespassado por uma indiscritível e pavorosa agonia!
Cheio de terror, quis gritar. Julguei mesmo que gritava a pedir socorro, mas ninguém me ouvia, nem via o que me estava a acontecer! Eu ficara ali, no meio de tanta gente, «aprisionado» e «mudo»!...alma prisioneira, para me libertar daquela «prisão»! o meu sofrimento era atroz! Nunca o esquecerei. Ainda ho
A procissão era um sereno rio de luz, na noite escura e branda. Os peregrinos, com velas acesas diante dos rostos felizes, passavam rezando e cantando, com os olhos postos na suave Imagem da Senhora das pombas brancas... Desviam-se pacientemente de mim e continuavam sempre em frente!
E eu a debater-me, ali, angustiado, a lutar desesperadamente na minha pobre alma prisioneira, para me libertar daquela «prisão»! o meu sofrimento era atroz! Nunca me esquecerei. Ainda hoje estremeço quando nele penso! Posso afirmar que sentia e ouvia ranger os meus ossos. Tais eram os esforços sobre-humanos que fazia para me mexer e livrar daquela terrível prisão. Mas uma «força» incrível chumbava-me ao chão! E tudo foi inútil!
Não pude alcançar Nossa Senhora no seu andor branco e florido!
Jamais encontrarei as palavras próprias para dar uma pálida ideia do que sofri e do meu terror naqueles momentos!
Contudo, e apesar disso, eu ainda blasfemava, , a! Essa era a minha ânsia. Fugir dali!
Mas como, se eu estava «preso» e esmagado debaixo daquele «carrego» insuportável? Raciocinava, mas não era senhor dos meus movimentos. Oh! Que pavorosos momentos.
Lá longe, voltada agora de frente para mim, Nossa Senhora regressava em triunfo e rodeada de veneração e amor, à sua humilde Capelinha...
E foi então que senti, de súbito, que uma força poderosa e incrível me fazia virar para a Basílica, impelindo-me para a frente! Conheci que podia, enfim, fugir «àquilo» que pesava como chumbo sobre os meus ombros! fugir,gora só em pensamento, porque não podia falar.
Debatendo-me naquela medonha aflição e esmagado sob o insólito «carrego», comecei por fim a lembrar-me vagamente de que aquilo tudo podia ser castigo...
Mas, então, é porque eu estava enganado e ali é que se encontrava a VERDADE!?
Teimosamente resisi a este salutar pensamento! Apeguei-me com desespero aos erros antigos e ao despreezo que aprendera a sentir no Protestantismo pela Mãe do Senhor!
E, no meio desta espantosa luta, esforçava-me em vão por fugir! Essa era a minha ânsia. Fugir dali!
Mas como, se eu esva «preso» e esmagado ddebaixo daquele «carrego» insuportável? Raciocinava, mas não era senhor dos meus movimentos. Oh! Que pavorosos momentos!
Lá longe, voltada agora de frente para mim, Nossa Senhora regressava em triunfo e rodeada de veneração e amor, à sua humilde Capelinha...
E foi então que senti, de súbito, que uma força poderosa e invencível me fazia virar para a Basílica, impelindo-me para a frente! Conheci que podia, enfim, fugir «àquilo» que pesava como chumbo sobre os meus ombros! Fugir, alcançar um refúgio, libertar-me! Comecei a andar...
Tomando de grande aflição, vi-me a atravessar o Santuário... mas, conforme me aproximava da Basílica – ia para lá como que conduzido, sem pensar nem querer! – o meu andar tornava-se mais fácil...
Ao chegar à escadaria já a pude subir quase a correr. Meti como uma seta pela Basílica dentro, sempre a direito, como levado por vigoroso e irresistível impulso, e szó parei diante do Altar-mor, do lado do túmulo do Francisco, onde caí, enfim, de joelhos! Ali fiquei longos minutos, todo trémulo, com olhar vago, sem saber onde estava.
Poré, aquele horrível «peso» e aquela estranha «prisão» mostravam agora uma espécie de fraqueza... soltava-se-me a língua e eu balbuciei algumas palavras enquanto começava a ter consciência de tudo o que me rodeava e do que via...
E foi então que os meus pobres olhos dilatados de angústia... depararam com a bendita imagem da Senhora, ao lado do Altar. Súbitamente lúcido, fitei-A assombrado... e, (não me atrevo a afirmá-lo!) pareceu-me que a via sorrir-se para mim! E esse instante fiquei livre e completamente mudado.
Sim, foi nesse minuto de graça que eu senti a alma liberta do véu espesso do erro e o corpo daquela «prisão» maligna. Num relance dera-se o prodígio... apesar do meu ódio protestante contra as santas imaggens! A lição é digna de ser meditada...
A tremer, comovido, eu não tirava o olhar deslumbrado dAquele «Sinal» da misericórdia divina, sentindo que nascia de novo. Agora, o meu coração era manso e humilde, e eis que a orgulhosa cerviz do hereje se abatera diante d’Aquela que tanto desprezara e que todas as gerações aclamarão Bem-aventurada, pois o Omnipotente obrou n’Ela grandes maravilhas (c.1,48,49)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

MILAGROSA CONVERSÃO EM FÁTIMA

S.C.J.

Introdução

Na segunda-deira passada fui visitar o meu antigo pároco, o Sr. Pe. José. Nessa ocasião, ele encontrava-se um pouco triste porque a irmã, que ao longo destes últimos 54 anos de sacerdócio o seguira para todo o lado e foram sua companheira, falecera vítima de doença prolongada. Andava então a juntar as coisas da irmã para deitar fora o que não seria mais útil e dar aquilo que ainda poderia ter alguma serventia.
Num dos baús, encontrou um livro que ele já não via á anos e que muito procurara. Qaundo já me vinha embora, ele chamou-me, foi ao quarto e disse-me: «Luís vou emprestar-te este livrinho e depois devolve-mo quando acabares de ler. Já ouviste falar em António de Sá? É sobre a sua conversão. Sabes que durante a procissão de velas ele acendia a vela e ela apagava-se?».
Ora esta conversa intrigou-me muito e hoje, Domingo, quando cheguei a casa, depois de ter ido dá uma volta, peguei nele e decidi lê-lo. Fiquei extremamente maravilhado com a história e prometi a mim mesmo colocá-la integralmente nos meus blogues na internet para comentário e para que todos fiquem a conhecer este homem do Alto Douro Vinhateiro e o seu grande testemunho.
Espero que todos os que lerem esta história gostem dela e a tenham como verdadeira e a divulguem. Que ela toque o coração de todos e que por ela muitos se convertam ou se deixem tocar pela Santíssima Mãe de Deus.

«A Milagrosa Conversão em Fátima de António de Sá
(Narrativa com a colaboração de M.A.) – Edições do Santuário – Leiria

Imprimatur – Leiren, 13 de Aprilis 1957
 José, Bispo de Leiria

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Esta pequena hitória verídica segue fielmente a narração [d]as palavras do próprio convertido. Quem escreveu cingiu-lhe o mais que pôde, sem lhe importarem primores literários ou de linguagem, que desfugurassem a sua manifesta sinceridade.
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Prefácio

Um conversão é um milagre da omnipotente Mesiricórdia de Deus, realizado, quase sempre, só no íntimo dos corações.
A minha conversão, porém, foi revestida de certos sinais exteriores, que o tornam de algum modo especial...
Devo-a à omnipotância suplicante de Nossa Senhora, Rainha do Rosário de Fátima.
Outrora, o meu coração foi arrastado pela dureza da impiedade e pelos erros de heresias malsãs. E assim A odiei e desprezei. Para muitos, isto parecerá coisa impossível a um cristão e português! Esses... guardem e defendam bem a sua Fé, e dêem muitas graças a Deus! Porque semelhante contradição é possível, desgaçadamente.
Aqui fica o meu testemunho doloroso, mas completo. Tudo quanto peço a Deus é que ele sirva para edificar os fiéis e esclarecer os enganados. Rogo especialmente por aqueles que eu próprio desviei da Verdade, arrastando-os comigo para os errados caminhos da separação e da divisão.

I – O PASSADO...

Chamo-me António de Sá e nasci a 29 de Maio de 1914 em Vilajusã, de Mesão Frio (Douro). [Actualmente Diocese e Distrito de Vila Real]
Meus pais, António e Margarida de Sá, hoje ambos falecidos, eram sinceramente religiosos, assim como a nossa família.
Aos nove anos e meio de idade fui trabalhar. O meu patrão era «maçon» confesso e declarado, como tantos outros, naquela época em que a Maçonaria chegara ao auge do seu temeroso poder na nossa Pátria. Segura da sua força, ela perseguia e tentava extinguir a Religião Católica entre nós e, para tanto, exercia sobre o povo a mais nefasta e profunda influência.
O meu patrão não perdia ocasião de transmitir aos seus empregados as suas ideias. Muito expecialmente atacava e negava tudo o que se referia à Igreja, da qual a seita maçónica é figadal inimiga.
Como é sabido, havia-se prometido e profetizado que, em duas gerações, o Catolicismo seria extinto no nosso País. Todos os esforços e violências foram realmente postos em prática com esse intuito.
Naquele tempo, em Portugal, eram públicos e notórios os crimes e malefícios que a Maçonaria praticava e espalhava.
Eu ouvia falar da sua acção e da sua força. Conhecia a história de um tio meu, Domingos de Sá, tambémcategorizado «maçon», muito conhecido em todo o concelho de Mesão Frio. Eram de arrepiar as terríveis blasfêmias que ele dia contra Deus, a SS.ma Virgem, a Santa Igreja e os Sacerdotes. este meu tio gabava-se, a quem o ouvia, de dever a sua fortuna ao poder do demónio e da maçonaria. com tudo isto, e sob estas tristes influências, cedo perdi a Fé, vindo a ganhar total aversão à Igreja. Odiava os Padres e fugia a todas as práticas religiosas. mas, afinal, estes tristes sentimentos estavam, então, bastante generalizados...
Ao mesmo tempo, fui tomado por uma grande ambição de riqueza, mesmo à custa da minha alma, se preciso fosse, tal como se contava do meu tio e de outros «maçons».
Quando, aos doze anos, fiz a Comunhão Solene, sómente devido aà fé e vontade de meus pais, já lhes causei um grande desgosto. Negava-me a juntar-me aos meus companheiros e a participar da alegria se, igual do mais lindo dia da nossa infância.
Desde aí, não voltei a entrar numa igreja nem tornei a rezar. Aumentou cada vez mais a minha aversão à Santa Igreja, aos sacerdotes e a tudo o que fosse religioso.
Quando, na Visita Pascal, o «Compasso» entrava na nossa casa enchendo a todos de satisfação, saía eu por outra porta, ou fechava-me num quarto a blasfemar, com o coração turvo de rancor e desprezo. Os meus queridos pais e a minha família sofriam com o meu procedimento, e eu escandalizava toda aquela boa gente.
Ouvia ainda contar casos de «pactos» com o Diabo, de sessões secretas a que ele presidia e outras histórias deste jaez. Na minha ânsia de enriquecer, novo e inexperiente como era – teria enão quinze ou dezaseis anos – ia, madrugada alta, pelos cerrados pinhais de São Martinho, chamando e invocando o maligno. Queria que ele me aparecesse para lhe entregar a minha alma em troca de riqueza e de poder!
Continuei nesta vida até aos vinte anos. Depois em 1934, vim para o Porto trabalhar, indo morar para Valbom.
Entretanto, em 1917, dera-se o Milagre de Fátima, e, com a vinda de Nossa Senhora, tudo se ia modificando na nossa terra.
De 1926 em diante, com a Revolução Nacional de 28 de Maio, a maçonaria fora banida e a sua maléfica influência começava a ser combatida eficazmente.
Porém, toda a Nação sofrera por muito tempo o seu nefasto influxo. A má semente frutificava...
Quanto a mim, a terra da minha alma estava preparada para o que se iria seguir...
Um dia, ao passar no lugar da Arroteia, ouvi uns cânticos que saíam duma casa aberta, a quem passava. Aquilo chamou-me a atenção. E perguntei... quando soube que eram «os protestantes» tirei, cá para mim, a conclusão de que se tratava de qualquer coisa contra a Igreja. Resolvi logo entrar! Julgava que fosse a maçonaria, que eu não esquecera e tanto desejava conhecer. Mas, agora, já não me era fácil encontrá-la, pelo menos às claras, como no tempo da minha infância.
Entrei, muito contente por ter ocasião de satisfazer a minha aversão à Religião Católica e realizar enfim os meus sonhos ambiciosos. Vieram logo ao meu encontro, sorrindo amávelmente, e ofereceram-me um livrinho para eu cantar também.
Por ignorância e curiosidade, alguns de entre nós são assim solicitados. Depois são levados para a heresia, através das várias pequenas seitas, que se esforçam por separar (e dividir) os Portugueses da verdadeira Fé. Muitos, mais tarde, cansam-se... e abandonam o «culto» protestante. Fica-lhes apenas... o cego preconceito que ali receberam contra a verdadeira Igreja.
Comecei, pois, a ler algumas linhas do tal livrinho que, aliás, me desiludiram, por me parecer que não se tratava afinal de maçonaria. Mas... fui ficando. Queria ver o que dali saia e se poderia tirar algum lucro material. E também fiquei porque logo lá encontrei a mesma aversão à Igreja, tal como eu a sentia e recebera da influência maçónica...
Durante o tempo que morei em Valbom, frequentei aquele «culto» protestante, cujo nome esqueci.
Estava ainda longe da Hora de Deus e eu tinha um longo e torto caminho a percorrer!...
Tempos depois, mudei-me para Avintes. Ali ouvi falar de outro «culto» diferente e das «ajudas» que dava aos seus adeptos. Logo me interessou...
Já não era a mesma «fé»... errava , portanto variava! Tratava-se agora dos Adventistas-Sabadistas, que são várias seitas. Estes eram os do 7.º Dia. Chamam-se assim, porque esperam para breve o Fim do Mundo e guardam o sábado como os Judeus, e não o Domingo – Dia da Ressurreição de Cristo, como guarda a Sua Igreja desde o primeiro século cristão.
Tanto na doutrina como nos «cultos» há muitas diferenças entre as seitas protestantes e grande rivalidade. Algumas das mais recentes – como os Adventistas, Pentecostais, Testemunhas de Jeová, etc. – são até chamadas «extravagantes» pelas seitas que apareceram anteriormente, a seguir à Revolta Protestante no século XVI.
Cada uma, porém, diz que é a verdadeira Igreja e que as outras são falsas ou estão em erro...
Por vezes, como pude testemunhar, chegam a discutir umas com as outras. E é vê-las, então, com as «suas bíblias em punho, provar cada qual a sua verdade e os erros das colegas, sobre pontos fundamentais da Fé.
Nestas ocasiões eu sentia-me bastante perplexo e pensava:«Estes afirmam uma coisa, mas aqueles já dizem o contrário...» Infelizmente, tratava logo de afugentar estes pensamentos. E, afinal, eram essas as únicas vezes em que eu vislumbrava a verdade e era esperto! Mas o demónio cega-nos...
Só num ponto estão todas de acordo: dizem que a Igreja Católica é falsa, apesar de ser precisamente a única que Cristo – Jesus, Nosso Redentor, fundou, e portanto, ser logicamente a Sua única e verdadeira Igreja, como Ele próprio lhe chamou: «A minha Igreja!».
Porque a verdade é que todas as seitas – desde o princípio do Cristianismo até agora – foram fundadas por simples criaturas humana que ou saíram (como foi predito!) da Igreja, ou duma seita para fundar outra seita.
Porém, pela Palavra de Deus – que é fiel! – ficou-nos a Sua Promessa de que «as Portas do Inferno não prevelacerão contra Ela».
Por isso, com o joio dos pecadores e o trigo dos justos à mistura, a Igreja Católica permanecerá a mesma até ao Juizo Final. A sua caridade não apaga a torcida que fumega... cada um dará justas contas na sua hora derradeira. O Senhor da Messe os separará e arrecadará o trigo no Seu celeiro e queimará a palha num «fogo inextinguível».
Mas, entretanto, Cristo ficará connosco e entre nós até à consumação dos séculos, porque o prometeu, e a Sua Palavra não passará.
Já assim procedeu o Senhor para com o Povo Escolhido: Com os seus justos e pecadores – dos Chefes ao mais humilde – fiel ou infiel, coberto de bênçãos ou esmagado sob castigo, foi sempre ele, e só ele o Povo da Promessa, até esta se cumprir com a vinda do Messias: Deus é fiel e verdadeiro!
Assim, também o Rebanho de Cristo, por Ele entregue a Pedro, permanecerá o mesmo até ao Fim.
O Bom Pastor conhece as suas ovelhas e separa os cabritos dos cordeiros...
Porque se arrogam, então, certos homens (e até mulheres) o direito de «reformar» e mudar a Obra de Deus, fundando outras «Igrejas», dividindo e suscitando divisões – negando assim a fidelidade da Palavra de Deus e dividindo Cristo?!
Este é o grande escândalo dado aos gentios pelos cristãos cismáticos e heréticos, sepradados da verdadeira Igreja. E «ai dos escandalosos»!
Não! Ainda não seria ali que eu havia de encontrar o que, sem o saber, há muito procurava.
No entanto, frequentei aquele «culto» durante seis anos. Mais tarde, surgiram nas mesma rua 5 de Outubro os chamados «Pentecostais». Por idênticos motivos passei a frequêntá-los, notando as diferenças de doutirna apesar de tudo. Mas, fiquei... e obriguei a minha companheira a ir comigo. Valha a verdade que ela a princípio não queria, e só foi com grande retulância.
Com o rodar do tempo, fui-me tornando «um bom elemento», assim o diziam o nosso «ministro» e os meus confrades.
Mais adiante, lá nos «casámos», e também fomos baptizados... como se o não tivéssemos sido já em pequenos!. Confesso que não esqueci aquela cerimónia... é que certas seitas protestantes julgam que o Baptismo, para ser válido, tem de consistir num mergulho total no rio ou num tanque especial. E assim nos fizeram a nós. Mas a água estava amornada...
Como lá era ponto de fé que não se pode usar ouro, a minha companheira deu os seus brincos para sustentação da seita.
A tudo nos sujeitámos... e às vezes tanto se recalcitra contra as verdadeiras «obras de Deus»!
Fui-me enfronhando de cada vez mais na heresia. Em dada altura, devido ao meu «fervor» e a uma singular facilidade de falar, comecei a ser mandado a fazer «pregações». Mas, na verdade, que estudos sérios e indispensáveis tinha eu da Sagrada Escritura e de tudo o mais que é necessário saber para ensinar e pregar sobre estes assuntos tão importantes e elevados? Pois, apesar disso, «preguei» por toda a parte! Bastava-me a minha própria inspiração...
E assim, sobre um ou mais versículos da Bíblia, «ensinava» eu no meio do povo, que me escutava ávido e crédulo. E por aqui se vê a credulidade, fácil de contentar... dos que aceitam ou buscam «doutrinas» fora da verdadeira Doutrina ensinada pela Igreja de Deus!
Preguei, pois, em Rio Tinto, Valbom, Carvalhal, Redondo, Carvalhido (Porto), Espinho, Mesão Frio e Avintes, onde sou bastante conhecido. Arengava ainda nos combóios, nas camionetas, nos «eléctricos» e em toda a parte onde a ocasião propícia.
Além disso, vendia e espalhava livros e folhetos, como propagandista fanático que era.
E falava, falava, falava!...

Depos da minha extraordinária conversão, nada encontro na minha excelente memória que «preguei».
Parece que de mim fugiu um demónio palrador e furioso, que me fazia despejar aqueles borbulhões de palavras!...
Porque eu afrontava e desafiava toda a gente! Até os sacerdotes, nas frequesias onde ia semear a minha cizânia e onde quer que os encontrasse a jeito.
Eu tinha pela cruz especial repulsa. Sempre que a via blasfemava com desprezo contra o sinal da nossa Redenção! É inconcebível? Mas, na heresia é assim!.
Cheguei a «dar culto público» na minha casa de Avintes, no Padrão, aonde acorria muita gente para me ouvir. Porém os meus chefes proibiram-me de «falar» assim, porque diziam, só o «culto» que eles promoviam devia funcionar. Por causa disto tomei certa atitude rebelde entre os «Pentecostais» e até fui lá castigado para me submeter.
Por pouco não nasceu ali também mais uma das tais «igrejas protestantes»... Afinal, era o mesmo direito de «livre exame» e de «inspiração». Todas as seitas nascem mais ou menos assim...

E sempre insatisfeito, agitado e agitando à minha volta, ainda experimentei novas seitas, passando por último a frequentar o Torne, em Vila Nova de Gaia.
Entretanto, uma coisa se enraizou profundamente na minha alma, mmais ainda do que os próprios erros da heresia: o cego preconceito, feito de calúnias e absurdos, que o Protestantismo professa e ensina contra a Igreja.
Por isso eu detestava-a, e a tudo quanto lhe diz respeito, com aquele característico e amargo zelo protestante.
Destaca-se neste «zelo» o desprezo e até raiva contra a Mãe de Deus.
Ah! Este é um dos aspectos mais tristes, incompreensíveis e de arrepiar das heresias protestantes, em geral.
Quando um católico renega a sua Fé e vai para o protestantismo, a si mesmo se torna órfão desta Mãe misericordiosa, pois ele a matará no seu coração atrofiado...
Os próprios Mouro ou Maometanos, que veneram, de certa maneira, «a M
Ãe de Jesus», são, neste ponto, superiores à maioria dos Protestantes, apesar de não serem adeptos de Cristo!
Assim eu, cego pela heresia, detestava «a Mãe do meu Senhor» (Lc.1,43). Especialmente quando ouvia falar nas suas aparições na Cova da Iria, ou dos milagres e maravilhas de Fátima!
Ah! Então, era ódio vivo e verdadeiro aquele fogo que se acendia na minha alma. Começava a lançar pela boca fora uma torrente de injúrias e blasfêmias. Ao ver passar para Fátima as peregrinações com o povo feliz a rezar e a cantar , eram um nunca acabar de imprecações contra Nossa Senhora e contra Fátima.
Pois havia de ser precisamente o Coração Doloroso e Imaculado de Maira, nossa Mãe bendita, que, misericordiosamente, me havia de levar à salvação.

(cont...)